Inspiração

Chimamanda Adichie expõe cinismo do Brasil sobre racismo: ‘Não parecem reconhecer que é um problema’

18 • 06 • 2021 às 10:08 Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Uma das maiores autoras da atualidade, a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie tocou em temas essenciais para a realidade do Brasil e do mundo em sua entrevista recente no programa Roda Vida, da TV Cultura – enfrentando com firmeza, clareza e coragem dilemas ligados ao racismo, ao feminismo e à política de modo geral, com olhar especialmente afiado para as questões raciais brasileiras. A mesa foi formada somente por mulheres, com nomes como a pesquisadora Karla Akotirene, as jornalistas Adriana Ferreira Silvam Carol Pires e Marcella Franco, e a escritora e pesquisadora Djamila Ribeiro, e uma matéria na revista Marie Claire reuniu alguns dos momentos mais importantes da entrevista.

A autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie

A autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie foi entrevistada no Roda Viva, da TV Cultura

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“Ninguém que conhece a história do mundo pode dizer que as mulheres não foram excluídas. As mulheres foram excluídas porque eram mulheres”, afirmou Chimamanda a respeito das críticas que recebe por suas posições a respeito do feminismo – para ela, há um desconhecimento geral a respeito do que de fato é o movimento e que move muitas críticas e oposições aos levantes femininos. Há, no entanto, segundo a autora, um esforço para se encontrar motivos que justifiquem preconceitos nas mais variadas frente: “Motivos idiotas que são inventados para justificar o preconceito e a discriminação”, afirmou.

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O racismo e o preconceito no Brasil foram pontos centrais da conversa, a partir do olhar da autora para as particularidades nacionais de tal problema. “Sei que no Brasil tem muitos negros e eu queria os ver. Como negra, sempre que eu vou a um país que eu sei que tem população negra, eu fico interessada. Eu gosto de ver ‘minha gente’ que se parece comigo. Eu estive no Brasil para um festival de literatura, mas não pude deixar de notar que não havia muitos negros brasileiros. Eles simplesmente não estavam presentes. […]”, afirmou Chimamanda, em questão especialmente representativa para um país cujo a maioria da população é negra.

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A própria admissão de que o problema do racismo no Brasil existe e é central em todas as relações sociais do país parece ser uma das partes iniciais da manutenção problema hoje. “Percebi que fazer perguntas sobre isso fazia as pessoas desconfortáveis. As pessoas não pareciam reconhecer que isso era um problema. Se você tem uma população que tem números grandes de pessoas negras e elas não estão representadas principalmente em cargos altos, isso é um problema”, disse a escritora.

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Autora dos livros Hibisco Roxo, de 2003, Meio Sol Amarelo, de 2006 (pelo qual venceu o prêmio Orange Prize em ficção) e Para Educar Crianças Feministas – Um Manifesto, de 2017, entre outros, Chimamanda se afirmou feliz por Joe Biden ter sido eleito nos EUA (“ele é racional, de maneira geral, isso é bom não só para os EUA, mas para o mundo”) e resumiu o problema brasileiro atual de maneira direta e inequívoca: “Eu acho que o Brasil merece lideranças melhores”, concluiu.

A reportagem da Marie Claire pode ser lida aqui.

A autora em Paris, em 2019 © Getty Images

A autora em Paris, em 2019 © Getty Images

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© fotos: créditos/reprodução Roda Viva


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