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A banda de rock britânica Queen é uma das maiores de todos os tempos. Com hinos que permanecerão por anos no imaginário popular e a figura inesquecível de Freddie Mercury, seu frontman, a banda Queen se justifica no panteão dos deuses da música internacional. Mas é importante falar sobre como a homofobia impactou o trajeto da banda, que tinha em Freddie seu maior símbolo.
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Freddie Mercury foi uma vítima da homofobia e se tornou símbolo de resistência para a população LGBTQIA+, mesmo sem tornar pública a sua sexualidade
Freddie Mercury nunca comentou publicamente sua sexualidade, mas é bem sabido que o nascido Farrokh Bulsara manteve relacionamentos sexualmente ativos com homens e mulheres. E, curiosamente, é justamente quando líder da banda Queen passa a se relacionar mais frequentemente com homens que a homofobia chega no seu pico histórico no Ocidente: a epidemia de HIV nos anos 80.
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Freddie faleceu em 1991 e somente nesse ano tornou público o fato de que havia testado positivo para o patógeno da AIDS. A voz de ‘Love of My Life’ já sabia há alguns anos da doença, mas foi somente um dia antes de morrer que decidiu falar abertamente sobre a doença.
Isso também porque testar positivo para HIV era sinônimo de homossexualidade à época. E para o vocalista do Queen, tão reservado sobre sua vida íntima, manter a doença em segredo era importante.
Freddie em um show em 1985; atrás dele, de bigode, seu namorado à época, Jim Hutton
O mundo caminhava por momentos estranhos na transição dos anos 1970 para os anos 1980. A primeira década era uma época de libertação sexual e de continuidade do mundo livre imaginado pelos hippies. Entretanto, foi justamente a chegada da AIDS ao mundo que mudou o panorama.
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Já no fim dos anos 70, Freddie enfrentava a homofobia nos palcos. Quando a banda saiu da estética Glam dos icônicos ‘Sheer Heart Attack’ e ‘A Night At The Opera’, muitos fãs do grupo passaram a criticar o novo caminho tomado pelos britânicos. O bigode de Mercury e os shorts curtos do vocalista incomodavam os rockeiros da época, que em um show nos EUA chegaram a jogar lâminas de barbear no cantor.
Freddie se percebia como bissexual, mas a época não permitia que essa sexualidade fosse validada (e até hoje me parece difícil que seja compreensível para a maioria das pessoas). A própria ex-mulher de Mercury, Mary Austin, musa da canção ‘Love of My Life’, desacreditava do vocalista do Queen quando ele se afirmava bi. “Você é gay”, dizia ela.
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“Mercury realmente era bissexual, em mundo que parecia não entender essa identidade de verdade – e que até hoje não parece – especialmente quando falamos de homens. Em uma sociedade onde qualquer homem que faz sexo com outro homem é considerado automaticamente gay, não importa o quanto ele diga amar uma mulher. Freddie provavelmente se sentia desesperado com isso”, afirma a jornalista e ativista LGBTQIA+ Diane Anderson-Minshall.
A repressão sexual e a crescente homofobia na sociedade ocidental tornaram essa situação ainda mais insustentável. Com o surgimento da HIV, grupos de extrema direita religiosa se tornaram cada vez mais agressivos contra LGBTs e dominaram o discurso público, tornando a vida de quem já vivia dentro do armário um inferno ainda maior.
“Eu gosto de pensar que hoje em dia, Freddie teria saído do armário. O mundo mudou muito. Nos anos 1970 e 1980, o nível da homofobia era incompreensível para quem nasceu depois dos anos 80. Era realmente assustador. Na Inglaterra de Tatcher e nos EUA de Reagan, a comunidade gay estava realmente abalada. E a AIDS serviu com uma luva para os extremistas religiosos”, explica Mark Langthorne, biógrafo de Mercury.
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A crise na banda Queen se acentuou com o comportamento errático de Mercury. A vida repleta de extremos e culpa tornaram Freddie de difícil relacionamento, e o pico de sucesso da banda nos anos 80 foi realmente complexo para todos os envolvidos.
Freddie e sua esposa, Mary Austin, no final dos anos 70
Relatos de Brian May afirmam que Freddie não passava muito tempo no estúdio e que passava boa parte do tempo embriagado ou drogado. O processo criativo era dificultado e a atenção da mídia – em especial na vida íntima do cantor – atrapalhava toda a vida do Queen.
Uma das casas do Queen era justamente a cidade de Munique. Sem o perigo da extrema direita e dos extremistas religiosos, o local era considerado uma meca da sexualidade, distante dos problemas políticos e do preconceito que circundava EUA e Inglaterra.
Uma noitada em Munique de Freddie e sua namorada Barbara Valentin
Foi naquela cidade que Freddie Mercury conheceu a atriz Barbara Valentin, com quem namorou por alguns anos. Ela, entretanto, já havia percebido que Mercury passava por problemas psicológicos. Ela relatou que uma vez o cantor estava na sacada de um apartamento nu gritando para pessoas na rua que ‘quem tivesse o maior pau poderia subir’. Nessa década, foram diversos casos de blecautes por conta da embriaguez e situações caóticas que dificultavam o convívio entre Mercury e os outros participantes.
Em 1985, Freddie faz seu primeiro teste para HIV, que dá negativo. Em 1987, vem o segundo teste. Esse, positivo. Durante os anos 80, as informações sobre camisinhas e sua importância não eram amplamente divulgadas e foi somente na década seguinte que os governos passaram a divulgar campanhas de incentivo ao uso de camisinhas e não planos de abstinência.
Freddie ficou profundamente abalado com a notícia. Em 1987, ocorre a última turnê do Queen, ‘Magic Tour’. Em 1988, o país de Mercury, a Inglaterra, aprova uma lei que afirma que o sexo entre homens não deveria ser encorajado e que famílias com pais do mesmo sexo eram falsas.
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Os últimos anos do Queen foram assim: silenciosos e reclusos. Mercury demorou a contar para seus companheiros de banda sobre sua doença, mesmo que eles já soubessem. Mas foi justamente a solidariedade que fez o clássico ‘Innuendo’, último álbum do grupo, que trata de temas sensíveis ao vocalista do Queen.
Freddie deixaria o mundo em 1991, meses antes dos primeiros tratamentos retrovirais que poderiam ter salvado o vocalista da morte. Mas seu legado e sua importância se mantém vivíssimos.
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Ah, uma última coisa que é bem importante: Freddie Mercury também não era visto como branco. Apesar da pele clara, o cantor era de ascendência Farsi. Seu nome de batismo, Farroukh Bulsara, deixa isso bastante claro. Nascido em Zanzibar, o vocalista do Queen era de origem indiana-pérsica, ou seja, além de ser LGBTQIA+, era visto com maus olhos pelos racistas britânicos e estadunidenses daquela época.
Uma vida complexa e afetada pela homofobia; a resistência e a sonoridade do Queen, entretanto, passaram as barreiras dos caxias dos anos 80 e se tornaram um símbolo e um legado para toda a humanidade.
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