Ciência

Relatório da OMS conclui que jornada excessiva de trabalho causa morte de mais de 745 mil pessoas por ano

02 • 06 • 2021 às 10:27
Atualizada em 07 • 06 • 2021 às 09:31
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Um novo estudo realizado pela Organização Mundial de Saúde em parceria com a Organização Internacional de Trabalho mostra que o trabalho excessivo é causa da morte de centenas de milhares de mortes anuais em todo mundo. Partindo de informações referentes ao ano de 2016 e comparadas com dados de 2010 e 2000, o relatório preparado pela OMS e a OIT concluiu que mais de 745 mil mortes no período ocorreram como consequência de cronogramas de trabalho excessivos, causadores de males fatais como derrames e doenças cardíacas.

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Foi considerada uma carga horária excessiva pelo relatório o equivalente a trabalhar 11 horas ou mais diariamente, de segunda à sexta, o que leva a 55 horas de trabalho semanal, em um quadro, por exemplo, que se inicia às 09h e se encerra às 20h – em diversos casos, porém, essa carga se estende também aos finais de semana. A pandemia levou o trabalho dos escritórios para os home offices em muitos casos, e apesar de tal mudança poder parecer menos estressante para o funcionário, ela também fez com que os períodos de trabalho se ampliassem de forma efetivamente perigosa.

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Segundo o relatório, as 745.194 mortes ocorridas no mundo em 2016 por conta do excesso de trabalho representaram um aumento de 29% em relação ao ano 2000, e a tendência é que tal estatística se agrave. O trabalho partiu de análises e revisões de 37 estudos sobre doenças do coração com 768 mil casos, e 22 estudos sobre derrames, com 839 mil casos no total – concluindo que as jornadas abusivas de trabalho representam uma ameaça efetiva à vida dos funcionários e trabalhadores em geral. Os mais ameaçados são homens (correspondentes a 72% dos casos fatais) e pessoas entre 60 e 74 anos.

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A conclusão é que tais jornadas, se comparadas a quadros de 35 a 40 horas de trabalho por semana, aumentam o risco de um derrame em 35% e em 17% as chances de uma doença cardíaca isquêmica fatal – as informações estudaram casos relacionados ao trabalho em 183 países. Ainda segundo o relatório, as jornadas excessivas de trabalho são impostas sobre cerca de 488 milhões de pessoas em todo o mundo – equivalente a 8,9% da população do planeta em 2016. O estudo aponta que no Brasil a situação se impõe sobre 4% da população, enquanto no sudeste asiático o quadro é o mais grave, e afeta 11,7% dos trabalhadores.

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Segundo a OMS, embora os dados se refiram a 2016, a situação é possivelmente ainda pior no presente – agravada especialmente pela pandemia, e não somente pelo home office e a confusão das fronteiras entre casa e trabalho. “Muitas empresas foram forçadas a reduzir ou encerrar suas operações para economizar dinheiro – e as pessoas que não foram demitidas acabam trabalhando mais horas”, diz o diretor geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em nota. “Nenhum trabalho compensa o risco de acidente vascular cerebral ou doença cardíaca. Governos, empregadores e trabalhadores precisam trabalhar juntos para chegar a um acordo sobre limites para proteger a saúde dos trabalhadores”, afirmou. O relatório pode ser lido na íntegra aqui.

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