Debate

Ricardo Barros participou, no governo Temer, de compra de remédio sem eficácia contra o câncer

29 • 06 • 2021 às 17:28
Atualizada em 29 • 06 • 2021 às 18:25
Yuri Ferreira
Yuri Ferreira   Redator É jornalista paulistano e quase-cientista social. É formado pela Escola de Jornalismo da Énois e conclui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo. Já publicou em veículos como The Guardian, The Intercept, UOL, Vice, Carta e hoje atua como redator aqui no Hypeness desde o ano de 2019. Também atua como produtor cultural, estuda programação e tem três gatos.

Na última sexta-feira, os depoimentos do servidor do Ministério da Saúde Luís Cláudio Miranda e do deputado federal Luís Ricardo Miranda (DE-GO) à CPI da Covid colocaram fogo em Brasília. 

Segundo os irmãos Miranda, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP), era o principal interessado na compra superfaturada das vacinas Covaxin, intermediada pela Precisa Medicamentos junto à Bharat Biotech, em um contrato de mais de 1,6 bilhão de reais.

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Ricardo Barros no Ministério da Saúde 

A notícia de que Barros também teria intermediado, em 2017, uma compra de remédios sem eficácia para câncer ressurgiu na coluna na Folha de São Paulo da jornalista Cristina Serra, que cobriu para o “Fantástico” o caso envolvendo o então ministro da Saúde do governo Temer. 

Barros defendeu, na ocasião, a compra de um medicamento produzido na China para o tratamento de tumores agressivos em crianças – o que mostra que o atual líder do governo federal entende o funcionamento do Ministério da Saúde.

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A compra também tinha ares estapafúrdios, como o fato de ter sido realizada através de um contrato com uma empresa de fachada com sede no Uruguai. O remédio ineficaz era rechaçado, inclusive, pelos próprios pais de crianças que foram obrigados a tomá-lo. 

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O medicamento chegou a ser proibido pela Justiça, mas Ricardo Barros ordenou que ele continuasse a ser distribuído. À época, a descoberta havia sido feita pela jornalista Cristina Serra e foi divulgada no “Fantástico”.

“4.000 crianças estavam em tratamento. Médicos se mobilizaram para manter a importação de outro remédio, usado até então no Brasil e validado por estudos internacionais. A Justiça chegou a proibir o uso do produto chinês, mas o ministério manteve sua distribuição. Botar em risco a vida de crianças deveria ser crime hediondo. Não surpreende que o mesmo personagem apareça agora no morticínio comandado por Bolsonaro”, explicou a jornalista em sua coluna na Folha de São Paulo.

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Durante depoimento na última sexta-feira (25), Luís Miranda afirmou que o próprio presidente Jair Bolsonaro revelou que o responsável por intermediar os contratos entre a Precisa Medicamentos e o Ministério da Saúde foi o deputado Ricardo Barros (PP). 

O deputado, que era apoiador do presidente, também disse ter comunicado o caso ao chefe de Estado em várias oportunidades e, que este não deu atenção às suspeitas de corrupção dentro de seu governo, cometendo crime de prevaricação.

O Ministério da Saúde sempre negou qualquer irregularidade na compra dos remédios. “Todos os trâmites que permitem uma importação excepcional do medicamento, conforme parecer da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de janeiro de 2017”, se pronunciou a pasta em nota de 2017.

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Fotos: foto 1: Getty Images/foto 2: Reprodução/EBC


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