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‘Sex and the City’: reencontro do elenco revive machismo sobre envelhecimento feminino

25 • 06 • 2021 às 10:00 Redação Hypeness
Redação Hypeness Acreditamos no poder da INSPIRAÇÃO. Uma boa fotografia, uma grande história, uma mega iniciativa ou mesmo uma pequena invenção. Todas elas podem transformar o seu jeito de enxergar o mundo.

A época está boa para reencontros de séries aclamadas do passado. Depois do retorno de “Friends” para um especial da HBO Max, chegou a vez do elenco de “Sex and the City” começar a gravar episódios novos para “And Just Like That”, uma espécie de reboot feito para o streaming. 

Essas mulheres provam que não há nada de errado em envelhecer

Kristin Davis, Sarah Jessica Parker, Cynthia Nixon e Kim Cattrall em foto de 2007.

Sarah Jessica Parker (que interpretava Carrie Bradshaw), Cynthia Nixon (Miranda Hobbes) e Kristin Davis (Charlotte York) — Kim Cattrall, que vivia Samantha Jones, não quis participar — apareceram juntas em uma foto publicada por SJP em sua conta no Instagram. “Juntas novamente. Fizemos a leitura do primeiro episódio de ‘Just Like That’ com companheiros e novos colegas de elenco. Foi como tomar um sorvete!”, escreveu. 

É claro que a alegria tomou conta dos seguidores da atriz, principalmente daqueles que sempre foram fãs do programa de televisão. Mas um tipo de comentário chamou mais atenção do que qualquer outro na caixa de respostas: aqueles que falavam sobre a aparência das três atrizes. 

Cabeleireiro se recusa a colorir fios brancos e cria rainhas grisalhas

“Sex and the City” estreou em 1998, quando Sarah, Cynthia e Kristin tinham 33, 32 e 33 anos, respectivamente. Atualmente, elas têm 56, 55 e 56. Exatos 23 anos se passaram e, com eles, veio o envelhecimento. As três não têm mais a mesma aparência que tinham nas seis temporadas da série ou até mesmo nos filmes que vieram anos mais tarde. Mas será que é tão importante falar disso assim?

É claro que existe uma curiosidade para ver como elas estão. Quando paramos de ver alguém com frequência, nos surpreendemos com as mudanças provocadas pelo passar dos anos em seus corpos. Até mesmo com crianças, que costumam crescer em um piscar de olhos. 

O cenário, porém, é diferente quando se fala do envelhecimento feminino. A pressão social é que as mulheres estejam sempre em busca da juventude, com “tudo em cima”. Se não for assim, elas são tratadas quase como não merecedoras de amor ou desejo de homem, algo clássico em uma sociedade patriarcal e heteronormativa. “Homem nenhum vai te querer” ou “seu marido vai te trocar por uma 20 anos mais nova”. Cruel, não é?

Já falamos disso algumas vezes aqui no Hypeness. Como neste artigo, sobre cabelos curtos e feminismo (você pode encontrá-lo, na íntegra, aqui). 

Padrões de beleza: as consequências graves da busca por um corpo idealizado

No senso comum da sociedade patriarcal (e machista), as características do seu corpo é que vão definir se você será alvo do desejo masculino — isto é, se essa for a sua vontade. É preciso ser magra, fazer as unhas, deixar os cabelos longos, lisos e, quem sabe, até mesmo mudar a cor das madeixas para que eles se sintam mais atraídos. E se para isso for necessário recorrer a procedimentos estéticos invasivos, sem problemas”

Um grande portal usou a foto com as três atrizes para criar uma pauta sobre quem teria “envelhecido melhor”. Outro, usou imagens do elenco há 23 anos para comparar o antes e depois. Será que, em 2021, precisamos mesmo tratar do envelhecimento de três mulheres como se a quantidade de marcas no corpo te fizessem melhor ou pior do que a outra. Por acaso se trata de uma competição?

Esse tipo de discurso apenas reforça o quão entranhado o machismo está no nosso dia a dia, ao exigir a eterna juventude quando se trata de mulheres. “Esse termômetro também existe para homens”, alguns vão dizer. “Mas se elas fossem homens isso também seria feito”“. Pode até ser. A diferença está na forma como isso é cobrado entre os gêneros. Homens do showbiz, quando envelhecem, quase sempre são vistos como “coroas bonitos” ou levados ao outro lado, o cômico. Eles passam a ser o “tiozão que não está nem aí com sua barriguinha” e tudo bem. É divertido. 

Das mulheres, é cobrada a ausência de rugas, de banhas, de celulites, de cabelos brancos. O comentário vai de “Precisa de um botox” a “nossa, ela exagerou” em pouco tempo. E, sem querer, continuamos a fortalecer discursos que, historicamente, aprisionam os corpos femininos. 

 

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