Ciência

USP inicia experimento com ayahuasca para tratar receio de falar em público

13 • 07 • 2021 às 10:15
Atualizada em 14 • 07 • 2021 às 10:05
Gabryella Garcia
Gabryella Garcia Gabryella Garcia é paulista, mulher trans, transfeminista e jornalista pela Unesp. Começou a carreira escrevendo horóscopos para o João Bidu e agora foca em escrever sobre direitos humanos e recortes de gênero. Já passou por veículos de São Paulo, Santa Catarina, Espírito Santo e também colaborou para veículos como Ponte Jornalismo, Congresso em Foco e Elle Brasil. Atualmente, além de produzir o podcast "Prosa", para o Hypeness, também colabora com o UOL. Além disso atua como voluntário no Projeto Transpor, um projeto que oferece consultoria profissional gratuita para pessoas transgêneros com montagem de um currículo assertivo, Linkedin e simulação de entrevistas de emprego.

Nervosismo, suor e calafrios são algumas sensações comuns para pessoas que têm receio de falar em público quando o temido momento vai se aproximando. Mas, pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto estudam o eventual uso do chá de Ayahuasca para resolver o problema. O chá de Ayahuasca é preparado com plantas nativas da Amazônia e amplamente utilizado em rituais indígenas e de Santo Daime, Barquinha e União do Vegetal.

Os resultados preliminares da pesquisa publicada pelo neurocientista Rafael Guimarães dos Santos mostraram que pessoas que tomaram o chá relataram uma sensação maior de auto confiança no momento de suas apresentações. No total, 17 voluntários foram divididos em dois grupos, os que tomaram placebo e os que receberam uma dose baixa de Ayahuasca.

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Ayahuasca é um chá, com potencial alucinogênio, feito a partir de uma mistura de ervas amazônicas, que é capaz de provocar alterações da consciência por cerca de 10 horas

De acordo com Guimarães o resultado se deve ao fato de a Ayahuasca conter substâncias como o DMT que de alguma forma interagem e ativam os receptores de serotonina, responsáveis por processar nossas interações sociais e emoções. Ainda de acordo com o especialista, há também outros estudos em andamento sobre o uso de Ayahuasca em tratamento para depressão e dependência de outras drogas.

Como foi o estudo?

Em um primeiro momento foram recrutados 894 possíveis voluntários entre alunos da USP Ribeirão Preto, mas após alguns filtros serem realizados para a aplicação da pesquisa, restaram apenas 17 voluntários que participaram de questionários e entrevistas padronizados de diagnóstico.

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Cinco horas depois de tomar uma dose baixa de ayahuasca, pela primeira vez na vida, ou placebo (2 mililitros por quilo de peso), os voluntários tinham de fazer apresentação com tema pré-definido diante de uma tela, enquanto eram filmados, como numa conferência por zoom. Antes e depois da experiência simulando a fala em público, precisavam preencher questionários para determinar o grau de ansiedade e a desconfiança sobre a própria capacidade. Depois do teste os voluntários acabaram relatando que sentiram uma calma maior que a habitual durante suas falas.

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O chá é utilizado em rituais indígenas e de Santo Daime, Barquinha e União do Vegetal

Receio de falar em público

A condição de transtorno de “ansiedade social” – causado pelo desconforto em situações que exigem interações com outras pessoas – é subnotificada no mundo todo. Estima-se que 2% a 7% da população no país tenha essa condição.

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O popularmente medo ou receio de falar em público é considerado por especialistas o tipo de ansiedade mais comum e também o terceiro transtorno psiquiátrico mais frequente, embora subnotificado (menos de 6% dos casos são diagnosticados), e costuma associar-se com outros distúrbios, como depressão e abuso de álcool.

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