Debate

Assédio: como é a rotina de um homem que trabalha como diarista: ‘Não sou garoto de programa’

26 • 08 • 2021 às 10:20
Atualizada em 29 • 08 • 2021 às 16:49
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Quando perdeu o emprego por conta do impacto econômico que a atual pandemia e os desgovernos da atual administração federal impôs ao país, o brasileiro Gautyelle Costa Machado, de 31 anos, se viu diante da urgente necessidade de diversificar seu trabalho para conseguir fazer fechar suas contas. Para tal, ele começou a produzir e vender pães feitos em casa, mas não somente – conforme noticiou em reportagem do site G1, ele passou a oferecer um serviço tipicamente realizado por mulheres, e viver na pele algumas dores que tais trabalhadoras enfrentam durante o ofício: Machado começou a trabalhar como diarista, e vivenciar situações de assédio sexual.

Gautyelle Costa Machado

Gautyelle trabalhava em um mercado antes de perder o emprego no contexto da pandemia

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De acordo com o que contou à matéria original, Machado gosta de limpar a casa e, motivado pela saúde e o bem-estar da filha e diante da necessidade de pagar uma pensão, quando se viu desempregado ele decidiu oferecer seus serviços: com uma foto sua e uma postagem na internet ele iniciou a empreitada – e assim surgiram as primeiras críticas e situações de assédio. As sugestões vieram de homens e mulheres, ele revelou, tratando a oferta de trabalho feito fosse em verdade um serviço de prostituição, e ele fosse não um diarista, mas sim um garoto de programa.

Gautyelle Costa Machado

Além do trabalho como diarista, Gautyelle também vende e produz pães como complemento orçamentário

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Algumas pessoas pediam para que ele realizasse a faxina tarde de noite, enquanto outros afirmaram sem pudor o desejo de “algo mais”, conforme revelou. A necessidade fez com que ele tivesse de divulgar seu número de telefone nas redes, o que fez com que ele passasse a receber também diversos vídeos explícitos sem seu consentimento, em suposição que, além da falta de respeito, acaba por prejudicar efetivamente o objetivo da postagem, e o próprio trabalho oferecido por Gautyelle – que decidiu não registrar nenhuma denuncia formal.

Gautyelle Costa Machado

Os casos de assédio começaram assim que o anúncio foi publicado, ele contou

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Antes de começar no trabalho de faxina e arrumação, Machado trabalhava em um mercado, e a feitura dos pães hoje complementa sua renda. Vale lembrar que a situação denunciada pelo diarista se destaca pelo inusitado por se tratar de um homem, o que, em proporção inversa, confirma o quanto eventuais situações semelhantes ocorrem com mulheres no mesmo ofício. Das quase 6 milhões de pessoas que oferecem serviços domésticos no Brasil, 92% são mulheres, em maioria negras e de baixa escolaridade. A reportagem do site G1 pode ser lida aqui.

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