Ciência

Atletas e menstruação: por que os ciclos femininos se tornaram incompatíveis com o esporte

06 • 08 • 2021 às 14:05 Karol Gomes
Karol Gomes   Redatora Karol Gomes é jornalista e pós-graduada em Cinema e Linguagem Audiovisual. Há cinco anos, escreve sobre e para mulheres com um recorte racial, tendo passado por veículos como MdeMulher, Modefica, Finanças Femininas e Think Olga. Hoje, dirige o projeto jornalístico Entreviste um Negro e a agência Mandê, apoiando veículos de comunicação e empresas que querem se comunicar de maneira inclusiva.

O Brasil se classificou para a disputa da medalha de ouro na final do vôlei feminino  nas Olimpíadas de Tóquio. A seleção venceu a Coreia do Sul por 3 sets a 0 e encara os Estados Unidos. No Brasil, no mesmo dia do jogo da seleção, é esperada a chegada no sábado (7) de uma jogadora que poderia ser decisiva nesta nova etapa. 

Tandara Caixeta foi pega em um exame antidoping realizado em 7 de julho, ainda no Brasil. O resultado recebido por ela em plena vigência das Olimpíadas, cortou uma das principais jogadoras do time de José Roberto Guimarães. De acordo com apuração do Jornal O Globo, Tandara foi pega de surpresa com a notícia, pois o medicamento que causou problemas no exame é indicado para regular o ciclo menstrual e, diz a matéria, a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) tinha autorizado o uso.

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Com vôo inesperado, Tandara teve dificuldades de encontrar passagens para sair do Japão

Para leigos, parece um excesso, considerando que toda mulher tem direito ao controle do seu próprio corpo – e isso inclui atletas de alto nível. Mas, conforme disse ao Hypeness a ginecologista obstetra e perita médica nacional do Projeto Justiceiras, Dra. Camilla Pinheiro, “se qualquer hormônio de utilização externa é considerado doping pelo COI, sim, podemos dizer que o uso de anticoncepcional por atletas pode ser considerado doping”.

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Atletas que menstruam – ou não 

Camilla destaca ainda que é comum que atletas de alto rendimento tenham amenorréia – a interrupção do ciclo menstrual sem a necessidade de intervenções externas, causada naturalmente pelo corpo. 

“Normalmente, atletas de alto nível têm uma quantidade menor de gordura circulante, então elas têm diminuição de estrogênio circulante, com uma absorção diferenciada. E acaba que, por um mecanismo bioquímico, alguns hormônios deixem de ser produzidos e, consequentemente, a menstruação não ocorre mais”, explicou a especialista.

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A ginecologista Camilla Pinheiro garante ainda que essa mudança hormonal não afeta negativamente os corpos de atletas que menstruam, apenas se causada por alguma doença, ou caso exista desejo de engravidar. Caso contrário, a reposição de hormônios, como no caso de Tandara, é desnecessária. 

Vale lembrar que não se sabe ainda o que motivou a decisão de Tandara de tomar anticonceptivos e que a atleta ainda não se manifestou publicamente sobre o resultado do exame, pois aguarda uma conversa com seu advogado para elaborar uma defesa. 

“A atleta Tandara Caixeta está trabalhando em sua defesa e só se manifestará após a conclusão do caso. Agradecemos o carinho de todos vocês!”, publicou a assessoria de imprensa da atleta em suas redes sociais. 

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