Diversidade

Diversidade: história das 5 personalidades negras que ganham estátua em SP

23 • 08 • 2021 às 11:36
Atualizada em 25 • 08 • 2021 às 08:53
Gabriela Rassy
Gabriela Rassy   Redatora Jornalista enraizada na cultura, caçadora de tendências, arte e conexões no Brasil e no mundo. Especializada em jornalismo cultural, já passou pela Revista Bravo! e pelo Itaú Cultural até chegar ao Catraca Livre, onde foi responsável pelo conteúdo em agenda cultural de mais de 8 capitais brasileiras por 6 anos. Roteirizou vídeo cases para Rock In Rio Academy, HSM e Quero Passagem, neste último atuando ainda como produtora e apresentadora em guias turísticos. Há quase 3 anos dá luz às tendências e narrativas culturais feministas e rompedoras de fronteiras no Hypeness. Trabalha em formatos multimídia fazendo cobertura de festivais, como SXSW, Parada do Orgulho LGBT de SP, Rock In Rio e LoollaPalooza, além de produzir roteiros, reportagens e vídeos.

O incêndio da estátua do bandeirante Borba Gato, em São Paulo, fez com que as pessoas parassem para pensar nos monumentos espalhados pela cidade. De acordo com estudo feito pelo Instituto Polis em novembro de 2020, das 200 estátuas que homenageavam pessoas, 24 eram mulheres e 6 eram negros. A estátua “Mãe Preta”, que fica no Largo do Paissandu, é a única de uma mulher negra.

Instalado há 50 anos, o monumento em homenagem à Mãe Preta, localizado no Largo do Paissandu, celebra a libertação dos escravos

Depois de muito debate, a Prefeitura de São Paulo anunciou que deve instalar cinco novas estátuas homenageando personalidades negras. Todas têm relação direta com a cidade por terem nascido nela ou participado de sua história.

São elas a escritora Carolina Maria de Jesus, o pentacampeão de salto triplo Adhemar Ferreira da Silva, os cantores e compositores Itamar Assumpção e Geraldo Filme e a sambista e ativista Madrinha Eunice.

Itamar Assumpção e outras personalidades negras ganham estátuas em São Paulo

Itamar Assumpção e outras personalidades negras ganham estátuas em São Paulo

“São símbolos imensos de conquistas para toda a comunidade preta que luta por igualdade e reconhecimento nas artes, no esporte, na literatura, na ciência e na cultura deste país preto”, escreveu Anelis Assumpção, filha de Itamar Assumpção, em sua conta no Instagram.

Conheça a história destas 5 personalidades negras:

Carolina Maria de Jesus

A escritora Carolina de Jesus (1914-1977) é considerada uma das primeiras e mais destacadas escritoras negras do Brasil. Autora do livro “Quarto de Despejo”, ela terá sua estátua instalada no Parque Parelheiros, onde a autora viveu por muitos anos.

Carolina Maria de Jesus vendeu 600 livros em sua noite de lançamento

Carolina Maria de Jesus vendeu 600 livros em sua noite de lançamento

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento, no interior de Minas Gerais, neta de escravos e filha de uma lavadeira analfabeta. Cursou a primeira e a segunda série do ensino fundamental e desenvolveu gosto por ler e escrever.

Depois de perder a mãe, aos 23 anos, ela se muda para a favela do Canindé, em São Paulo, e passa a trabalhar como empregada doméstica e a escrever o diário que mais tarde se tornaria um best seller.

Teve poesias e textos publicados no jornal até conseguir publicar “Quarto de Despejo”. Saiu da favela, publicou mais três livros, recebeu homenagens da Academia Paulista de Letras e da Academia de Letras da Faculdade de Direito de São Paulo, mas não teve grande retorno financeiro e logo acabou voltando à sua atividade como catadora.

Geraldo Filme

Nascido em São João da Boa Vista, em 1928, no interior de São Paulo, Geraldo Filme chegou a gravar quatro discos, entre os quais “História das Quebradas do Mundaréu” (1973), com Plínio Marcos, Toniquinho Batuqueiro e Zeca da Casa Verde, e “O Canto dos Escravos” (1982), com Clementina de Jesus e Doca.

Para além da fama do Bixiga, outros bairros também são temas da música de Geraldo. Sua história se cruza com a própria história da cidade de São Paulo e da resistência da comunidade negra, além da crescente urbanização pela qual passou a capital paulista.

A estátua de ficará na Barra Funda, perto do antigo Largo da Banana, local que, segundo a prefeitura, foi “aprovado por pessoas do movimento e pela própria família do Geraldo”.

Adhemar Ferreira da Silva

Adhemar Ferreira da Silva (1927 – 2001)  foi um atleta brasileiro, primeiro bicampeão olímpico do país, primeiro atleta sul-americano bicampeão olímpico em eventos individuais, recordista mundial do salto triplo cinco vezes e primeiro atleta a quebrar a barreira dos 16m no salto triplo.

O atleta Adhemar Ferreira da Silva deve ganhar estátua em São Paulo

Adhemar entrou pela primeira vez em uma pista de atletismo, com 18 anos, levado por um amigo. Entusiasmou-se e iniciou os treinamentos, na hora do almoço, no intervalo do trabalho. Sua primeira competição foi o Troféu Brasil em 1947, obtendo a marca de 13,05 metros.

O local onde ficará de estátua de Adhemar não está definido, mas, segundo apurou a Agência Brasil, deve ficar no entorno da Avenida Braz Leme, no bairro da Casa Verde, onde o atleta sempre morou e onde surgiram clubes de atletismo em decorrência de seu sucesso.

Madrinha Eunice (Deolinda Madre)

Fundadora da primeira escola de samba da capital, a Lavapés, em 1936, a estátua de Madrinha Eunice (1909 – 1995) deve ficar na Praça da Liberdade, local onde surgiu o bloco.

Nascida em Piracicaba, interior de São Paulo, Deolinda Madre foi morar em São Paulo com apenas 4 anos e fincou raízes na cidade. Ela conta, em entrevista feita no Museu da Imagem e do Som de São Paulo, em 1981, que o Carnaval era dividido entre Avenida Paulista, onde iam os “grã-finos”, e o Bráz, onde acontecia o Carnaval popular.

A matriarca sempre gostou de música e dos festejos populares, passando pelo batuque de umbigada, dança afro-brasileira praticada nos quilombos e que permaneceu como tradição e cultura negra se espalhando por diversas cidades – que até hoje a mantém -, como Capivari, Tietê e Campinas.

A carnavalesca Madrinha Eunice

A carnavalesca Madrinha Eunice

Itamar Assumpção

Itamar de Assumpção (1949 – 2003) nasceu na cidade de Tietê, no interior de São Paulo, onde viveu com a avó até os 12 anos. A cidade é uma das grandes referências paulistas da cultura dos Batuques de Umbigada, muito simbólica à obra de Itamar.

A cidade manteve tal cultura por ter sido um ponto onde muitos africanos e afrodescendentes escravizados viveram, levados pelos bandeirantes, que invadiram, exploraram e roubaram metais preciosos do interior do Brasil.

“Houve um tempo em que a terra gemia
E o povo tremia de tanto apanhar
Tanta chibata no lombo que muitos
morriam no mesmo lugar.
(…)
Liberdade além do horizonte, morreu tanta
Gente de tanto sonhar. Foi Zumbi!”

Trecho da música Batuque, 1981

Em 1980, Itamar lança seu icônico disco “Beleléu Leléu Eu” e assume definitivamente o gerenciamento independente de sua carreira, estreando nos festivais e palcos paulistanos. Em 1981, o artista e a banda Isca de Polícia lançam o disco- espetáculo Às Próprias Custas S.A., pelo Selo ISCA, tudo criado e bancado por ele.

A história completa e dados do artista podem ser conferidos no MU.ITA, museu virtual dedicado à história de Itamar.

A prefeitura de São Paulo divulgou em nota que “está em contato com a família do artista para indicação de lugares possíveis para a homenagem, mas localidades como a Casa de Cultura da Penha, onde Itamar gravou a trilogia Bicho de 7 cabeças, em 1993, e que também conta com um estúdio em sua homenagem e no bairro onde ele nasceu; e a Praça Benedito Calixto, importante espaço cultural da cidade próximo ao antigo teatro Lira Paulistana, já estão sendo considerados”.

 

 

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