Ciência

Humanos teriam evoluído de macacos que comiam cogumelos psicodélicos?

16 • 08 • 2021 às 10:09
Atualizada em 17 • 08 • 2021 às 20:00
Redação Hypeness
Redação Hypeness Acreditamos no poder da INSPIRAÇÃO. Uma boa fotografia, uma grande história, uma mega iniciativa ou mesmo uma pequena invenção. Todas elas podem transformar o seu jeito de enxergar o mundo.

Uma grande questão ainda não resolvida pela ciência é a origem do Homo sapiens. Como os hominídeos, nossos ancestrais, se tornaram humanos? Existe uma teoria criada pelo etnobotânico Terence McKenna de que a nossa espécie surgiu a partir do consumo de cogumelos psicodélicos.

Segundo o pesquisador, que se tornou um dos maiores teóricos sobre o uso de alucinógenos no planeta, a inserção de cogumelos como o Psilocybe cubensis na dieta de hominídeos poderia ter sido a chave para o aumento do telencéfalo, que motivaria o desenvolvimento da inteligência estratégico e linguístico que caracteriza o ser humano.

Terrence McKenna é o pai fundador de uma série de teorias sobre o uso de psicodélicos

No livro ‘O Alimento dos Deuses’, McKenna criou a hipótese de que a adoção dos cogumelos psicodélicos dentro da dieta do Homo erectus fez com que o cérebro desses primatas ganhasse a capacidade processar e organizar informações de maneira tão surpreendente.

A teoria, entretanto, não tem evidências factuais. Estudos sobre cogumelos psicodélicos dão respostas dúbias sobre a influência do princípio ativo na cognição. Uma pesquisa da Departamento de Psicologia do Imperial College mostrou que diversas regiões do cérebro ficaram inativadas durante o uso dos cogumelos e as viagens psicodélicas eram resultado de uma confusão neural causada pela droga.

Mas existem pessoas que reforçam a teoria dentro do âmbito científico. Uma delas é o micólogo – especialista em fungos – Paul Stamets. Ele afirma que existem dois lapsos na evolução dos hominídeos. Durante algum momento, o cérebro do Homo erectus duplicou de tamanho, e, posteriormente, o Homo sapiens teria seu cérebro triplicado em massa. E, para Stamets, a teoria de McKenna pode ser uma boa solução para esse vácuo:

“Nossos ancestrais, quando estavam deixando a savana em busca de comida, seguiam a trilha das fezes dos animais para caçar. É lógico supor que esses macacos iriam provar os cogumelos que topavam crescendo nessas fezes. Um grupo de primatas sentado ao redor do fogo é uma coisa, e outro na mesma circunstância com cogumelos mágicos é algo completamente diferente. A quantidade de informação, de sentimentos espirituais e desejo de articular e vocalizar pensamentos é de uma diferença colossal. Se isso realmente aconteceu, e eu acho muito, mas muito provável, pode ter sido o despertar espiritual e o da linguagem que definiram o ser humano”, explicou o cientista à Trip.

Seres humanos consomem psicodélicos há milhares de anos

Para Dr. Martin Lockley, paleontólogo e professor emérito da Universidade do Colorado (EUA), existe um problema nessa teoria: ela deposita a responsabilidade para uma evolução observada em diversos locais do planeta a um único elemento. Para Lockley, é possível que a psilocibina tenha catalisado alguma forma de desenvolvimento, mas outras fatores também contribuíram para o despertar na consciência humana.

Existem registros de seres humanos consumindo cogumelos alucinógenos há milhares de anos. O mais antigo deles está no sítio arqueológico de Tassili-n-Ajjer, na Argélia, onde pesquisadores encontraram diversas referências a cogumelos psicodélicos em pinturas, mas estas datam do neolítico, bem depois da origem dos Homo sapiens.

Ainda que não cheguemos em conclusões (e provavelmente essa resposta não será dada tão cedo), essa teoria deve servir para incentivar pesquisas com alucinógenos e seus efeitos no cérebro humano. “LSD, psilocibina, mescalina, substância oriunda do cacto peiote e DMT são substâncias muito similares estruturalmente, são todas agonistas [o oposto de antagonista] serotoninérgicos – facilitam a ação da serotonina nas sinapses cerebrais”, afirma ao Comciência o professor José Arturo Escobar, pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

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