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Antes do processo de gentrificação tornar o bairro do SoHo, em Nova York, em mais uma região de elite de Manhattan, tal parte da ilha era cenário de diversas cenas e tantos movimentos culturais. E se a cidade sempre foi cenário dos mais importantes momentos da história do Jazz, um desses grandes momentos culturais da Big Apple e do SoHo é também um dos mais curiosos: conhecido como “Loft Jazz”, o fenômeno cultural ocorreu entre os anos 60 e 70, e consistiu basicamente na tomada dos grandes espaços na parte de baixo da ilha pelos maiores músicos do estilo então – para viverem, criarem, tocarem em seus apartamentos.
Thelonious em ação em um loft em 1959 © W. Eugene Smith
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À época o bairro era essencialmente industrial, e por isso oferecia grandes espaços por preços módicos, que se tornariam cenário do “Loft Jazz” e de algumas das mais incríveis, experimentais, livres e diversas criações musicais nos EUA do período. Tudo teria começado com dois gênios: com Thelonious Monk no final dos anos 50 e, no final dos anos 60, na casa do grande saxofonista Ornette Coleman no número 131 da Prince Street – um local de mais de 1000 metros quadrados conhecido como “Casa do Artista”, onde ensaios, jams e, já nos anos 70, shows aconteciam madrugada adentro. Outros “lofts” ao mesmo tempo também foram transformados em locais de ensaios e apresentações, e em 1972 a cena começou a “acontecer”.
Ornette Coleman em seu loft na Prince Street em outubro de 1969 © Takahashi Arihara
Thelonious Monk, o maior pianista da história do jazz, ao alcance da mão © W. Eugene Smith
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O compositor Sam Rivers também transformou sua casa na Bond Street em espaço para show e gravações – rebatido como Studio Rivbea; o Studio We era gerido pelo trompetista James DuBois e o baixista Juma Sultan, e o mesmo sucedeu no apartamento de Rashied Ali, baterista de John Coltrane, na Greene Street: lá ele estabeleceu também sua gravadora, a Survival Records. A sonoridade do grupo era vista como uma continuação da cena do jazz de vanguarda e do free jazz do período anterior – e se a sonoridade era diversa, os locais tinham como pontos em comum os ingressos especialmente baratos, uma atmosfera casual e sem grandes separações entre plateia e palco, a administração por parte dos artistas e a indistinção entre espaço público e privado.
Sam Rivers na flauta com Joe Daley no Studio Rivbea em julho de 1976 © Tom Marcello
Músicos à frente do Studio We © reprodução
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“É preciso tomar cuidado com o termo ‘loft jazz’ pois é muito limitador. Nós não fomos para Nova York para tocar em apartamentos, mas sim em uma forma de viver”, comentou o pianista Muhal Richard Abram, um dos nomes envolvidos na cena. “Um público pode começar a frequentar, e crescer até ficar grande demais para os lofts e a música então se move para outros níveis – era nisso que estávamos interessados, era nessa direção que nos movíamos”, concluiu, apontando o salutar espírito do faça-você-mesmo misturado ao desejo de alcançar novos horizontes que tanto marcou o jazz do período.
A cena duraria toda a década de 1970 na cidade © W. Eugene Smith
Ed Blackwell, Dewey Redman, Ornette Coleman, Charlie Haden, no apartamento da Prince Street em maio de 1971 © Val Wilmer
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A cena seguiu até o início dos anos 80, quando o aumento no custo de vida e nos aluguéis iniciou o processo de gentrificação pela qual a cidade passaria nas décadas seguintes. O disco Wildflowers: The New York Loft Jazz Sessions é um belíssimo registro do que foi esse tal “Loft Jazz”, em história contada em detalhes por Michael C. Heller no livro Loft Jazz: Improvising New York in the 1970’s.
A cena Loft Jazz era uma continuação da cena do jazz de vanguarda dos anos 60 © W. Eugene Smith
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