Debate

Mulher nos EUA é acusada de mentir sobre ajuda na retirada de jovens do Afeganistão

31 • 08 • 2021 às 11:00 Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

A história da mãe de 11 crianças que teria se dedicado incansavelmente a ajudar a equipe feminina de robótica do Afeganistão a fugir do país após a tomada recente do poder pelo grupo extremista Talibã parecia destinada à comoção do mais pleno final feliz. Subitamente, porém, tal notícia sofreu uma guinada narrativa inesperada, e agora Allyson Reneau, a tal mãe de Oklahoma City, nos EUA, que foi a público contar sua história vem sendo acusada pelas próprias jovens afegãs de mentir para à imprensa e à mídia em geral para se colocar como heroína de uma história da qual possivelmente ela sequer fez parte – e cujo foco principal necessariamente deve estar sobre as jovens afegãs.

Reneau junto da equipe afegão em encontro em Washington, em 2019

Reneau junto da equipe afegão em encontro em Washington, em 2019 © Allyson Reneau/Arquivo pessoal

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Reneau conheceu a equipe alguns anos atrás em um seminário na capital dos EUA, e inicialmente a imprensa noticiou sua suposta colaboração com o governo do Qatar, para mobilizar a retirada das jovens do país assim que soube da situação política no Afeganistão – sua história incluía uma viagem ao Qatar para auxiliar o Ministro das Relações Exteriores no resgate. Aos poucos, porém, o relato foi mudando, a viagem se transformou em telefonemas e e-mails, até que uma carta assinada pela equipe e monitorada por advogados veio a público, pedindo que a mulher estadunidense parasse de propagandear inverdades na mídia.

A equipe afegã de robótica em foto para a revista Forbes

A equipe afegã de robótica em foto para a revista Forbes © reprodução

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“Reutilizar de forma contínua velhas fotos com as garotas do Time de Robótica Afegão, muitas delas menores de idade, como prova de que você teve participação na imensamente estressante e perigosa escapada do país prejudica não somente a segurança das garotas, mas também afeta a segurança das participantes da equipe que permanecem no Afeganistão”, escreveu Kim Motley, advogada do grupo. “É altamente infeliz utilizar uma situação trágica e horrível para aparentemente seu ganho pessoal”, diz a carta.

Equipe afegão de robótica

A equipe em viagem de 2017 © Getty Images

Em um primeiro momento a mídia dos EUA não só celebrou o feito de Reneau, como na CNN se chegou a sugerir que o presidente dos EUA, Joe Biden, colocasse a mulher coordenando a retirada de refugiados do Afeganistão – em seguida, porém, ela mesma admitiu que jamais deixou Oklahoma City. Segundo a carta, o governo do Qatar, que efetivamente auxiliou na retirada das jovens da cidade de Cabul, confirmou que eles “não têm ideia” de quem é Reneau, e que ela não estaria “envolvida em forma alguma na saída das garotas do Afeganistão”.

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Em um post no seu perfil do Facebook, Allyson Reneau se defendeu das acusações, afirmando que as acusações contra ela eram falsas e imprecisas. “Eu não sei quais são os motivos dessa depreciação, mas EU NÃO serei dissuadida em resgatar o máximo de mulheres e crianças que puder da situação em rápida deterioração em Cabul”, escreveu, afirmando que pode apresentar “centenas de mensagens de texto, e-mails e telefonemas” comprovando sua participação. “Esse em sido um esforço coletivo, como afirmei em todas as entrevistas. Eu não sou um show de uma mulher só, e deixei isso claro desde o início”, concluiu.

Equipe afegão de robótica

Parte da equipe ainda segue em Cabul, no Afeganistão © Getty Images

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A carta foi posta pela equipe e seus advogados como “um aviso justo e final” para Reneau. Os esforços para retirar as participantes da equipe que permanecem no Afeganistão sob a ameaça Talibã seguem, enquanto algumas jovens se encontram em Doha, e outras já migraram para o México, e universidades nos EUA e alguns países europeus vêm oferecendo bolsas para que as afegãs possam seguir seus estudos e trabalhos.

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