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Todo produto criado e comercializado pela humanidade é também fruto e símbolo de seu tempo, e uma simples lata de farinha láctea da Nestlé, no contexto brasileiro do final do século 19 – e principalmente a forma como tal produto foi propagandeado – é índice inequívoco do quadro de racismo estrutural que se estabelecia no país. Criada em 1867, a farinha láctea chegou ao Brasil em 1876, em um momento histórico e político em que a escravidão e as dinâmicas raciais e sociais do país se encontravam em transformação e conflito – e, conforme mostra o artigo “Mercados de exclusão: racismo e sexismo em propagandas de alimento infantil no século 19”, publicado pela historiadora Taina Silva Santos no Portal Geledés, as propagandas do então novo produto são símbolos de diversas dinâmicas que viriam a determinar o papel social das mulheres negras no Brasil.
Possivelmente a primeira versão do produto, ainda na segunda metade do século 19 © Flickr/CC
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A farinha láctea foi criada como alimento complementar à amamentação pelo farmacêutico suíço Henri Nestlé, através da mistura de leite materno e diversos cereais processados, e seu imenso sucesso se revelaria determinante para a solidificação da própria empresa Nestlé, hoje umas das maiores do ramo de alimentos em todo o mundo. Conforme revela o artigo, chama atenção o fato das primeiras propagandas da farinha no Brasil se darem nos jornais da época sob o título “Ama de Leite”, em referência ao ofício anteriormente praticado por mulheres negras e escravizadas, obrigadas a amamentar os bebês das famílias brancas que as escravizavam.
Registro da Ama-de-Leite Petronila com Maria Cavalcanti de Queirós Monteiro em Pernambuco, em 1875 © Wikimedia Commons
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O texto mostra que antes viam-se as mulheres brancas como sem os “atributos físicos necessários para produzir um tipo de leite que suprisse as necessidades alimentares dos bebês”. Por isso, eram dados às mulheres negras e escravizadas, “robustas” e com as “qualidades ideais para produzir o leite adequado” para serem alimentados. O processo de derrocada da escravidão, que viria a ser abolida em 1888, fez com que tais discursos mudassem radicalmente, e passassem a ser utilizados como forma de afirmação do racismo que marca a posição social da mulher negra na realidade brasileira: as “amas de leite” deixavam, então, de serem vistas como fonte de saúde, para serem mostradas como fontes de doença e problemas.
Anúncio publicado em abril de 1886 © Portal Geledés/reprodução
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Os anúncios apresentam as amas de leite de forma negativa, mas que podiam, enfim, serem substituídas pela farinha láctea da Nestlé. “A escassez das amas sadias e boas, o seu preço elevado, tem tornado a introdução da farinha láctea de Nestlé um verdadeiro benefício para o Brasil”, diz uma das propagandas, publicada na Gazeta de Campinas em abril de 1886. “Hoje uma mãe pode ter a satisfação de criar seu filho com o leite que tiver, pouco ou muito, sem risco de enfraquecer nem de sofrer na sua saúde”, segue o anúncio, que celebra a novidade contrapondo o produto suíço a um sugerido cenário de falta de higiene e doenças, e até mesmo à sexualização precoce de crianças.
Outro anúncio com o mesmo título publicado à época © Portal Geledés/reprodução
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Assim, o artigo de Taina Silva ilustra a afirmação de concepções higienistas sobre a mulher negra através da forma com que tal produto era propagandeado no Brasil do final do século 19. As propagandas de farinha láctea divulgadas a partir da década de 1870 estavam fundamentadas em um sistema de hierarquias de raça e gênero sobre o qual algumas indústrias elaboraram estratégias de convencimento e comercialização de seus produtos”, diz o texto, que pode ser lido na íntegra no Portal Geledés.
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