Inspiração

Sunisa Lee: norte-americana de ascendência asiática leva ouro e responde xenofobia com união

03 • 08 • 2021 às 10:22 Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

A medalha de ouro conquistada pela ginasta Sunisa Lee, de 18 anos, na categoria individual geral de ginástica artística, representa não só a recompensa pela dedicação da atleta, mas também uma afirmação contra a xenofobia e os ataques sofridos por povos asiáticos nos EUA – especialmente no contexto da atual pandemia. Lee é a primeira atleta olímpica estadunidense de origem Hmong, uma etnia asiática entre as mais marginalizadas no país, e dedicou seu triunfo à família.

Sunisa Lee e sua medalha de ouro conquistada no sexto dia de Olimpíada

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Com 309 mil pessoas no país, a comunidade Hmong chegou nos EUA de países como China, Vietnam, Laos, Tailândia e Myanmar entre os anos 70 e 80 e, desde então, se tornou um povo sofrido, discriminado e explorado – especialmente em guerras. Muitos foram recrutados para a Guerra do Vietnã e depois para conflitos no Laos e na Ásia de modo geral. Parte da comunidade conseguiu se firmar, principalmente em Minnesota, onde a família de Sunisa superaria os poucos recursos para ajudar a atleta a treinar.

A atleta estadunidense tem origem nos povos Hmong 

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O preconceito e a ignorância a respeito da origem do novo coronavírus fez aprofundar e agravar ainda mais o quadro de preconceito contra as populações de origem asiática no país. “Os últimos dois anos foram absolutamente loucos com a Covid e minha família e tudo o mais”, afirmou a jovem à imprensa após conquistar o ouro, na mesma prova histórica na qual a brasileira Rebeca Andrade conquistou sua primeira medalha, de prata, antes do ouro que a consagraria nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Rebeca, Sunisa e a atleta russa Angelina Melnikova no pódio em Tóquio

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Em seu perfil no Twitter, Lee compartilhou um vídeo mostrando sua família acompanhando e celebrando o exato momento em que sua medalha de ouro foi confirmada. “As pessoas para quem eu faço tudo”, diz a legenda publicada pela jovem. “Eu amo todos vocês”, concluiu. Assim como Rebeca, Sunisa Lee também uma série de fraturas e contratempos – incluindo a perda de uma tia e um tio para a Covid-19 e um acidente que, em 2019, paralisou seu pai da cintura para baixo – seu feito, portanto, é a comprovação da superação de toda ignorância e preconceito, e também as dificuldades de uma vida e de um povo – de tantos povos.

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Um relatório recentemente publicado pelas Nações Unidas alerta para o nível alarmante de violência e discriminação contra as comunidades nos EUA. “As comunidades asiática-americanas (…) informaram ter vivido vandalismos motivados por preconceito racial, e muitos proprietários asiático-americanos de negócios tiveram suas vidraças quebradas ou pichadas com ofensas raciais”, diz o texto, que segue afirmando que tais populações vêm sendo até mesmo barradas em locais públicos ou tendo serviços recusados. “As vítimas reportaram que foram discriminadas em restaurantes, lojas e transportes públicos”, diz o relatório – que pode ser lido em inglês aqui.

Sunisa Lee

Sunisa fez história como a primeira atleta Hmong a representar os EUA em uma Olimpíada

 

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