Arte

A poética e o absurdo do cotidiano nas performances do artista francês Thierry Mandon

17 • 09 • 2021 às 15:53
Atualizada em 21 • 09 • 2021 às 10:52
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Se as paredes de nossas casas resguardam nossas mais profundas intimidades, o artista francês Thierry Mandon decidiu virar essa construção conceitual pelo avesso – e, ao invés de derrubar as paredes, levar o lado de dentro para fora através do humor em uma série de performances. Não é por acaso que os trabalhos se chamam “Inside-Outside” (ou “Dentro-Fora”, em tradução livre) e “Tableau Vivant”, expressão francesa que define a arte realizada por um grupo de atores que, estáticos, representam uma imagem, pintura ou obra pictórica existente: Mandon opera o mesmo processo, mas com a vida cotidiana.

Thierry Mandon

O íntimo é exposto – e encenado ao público – nas performances de Thierry Mandon

Thierry Mandon

O “palco” se torna literalmente a parede da rua – o lado de fora – da casa

-Nas pinturas dessa incrível artista sul-africana o cotidiano é transformado em sonho e luz

As performances, portanto, reproduzem lentamente atividades que, entre quatro paredes, são práticas completamente banais – mas que, expostas, se tornam base de trabalhos artísticos. Em “Inside-Outside”, performance de 2015, Mandon se deita em sua cama de pijama para ler, mas pendurado no alto de uma parede do lado de fora de uma casa; a operação é semelhante em “Tableau Vivant”, mas ao invés de ler na cama o artista lê sentado diante de uma mesa onde apoia uma taça de vinho e uma garrafa.

Thierry Mandon

“Inside-Outside” reunindo público que passava pelo local no momento da performance

-Fotógrafa cria fotos íntimas com completos desconhecidos e o resultado é surpreendente

“Cada vídeo retrata um personagem que, como uma espécie de arquétipo do indivíduo, é confrontado pela condição humana, seus limites, seu poder, seu desamparo”, diz o artista, em reportagem para o site Colossal. “Esses temas são rendidos por trabalhos nos quais dois elementos, dois mundos estão expostos em um balanço precário, buscando por harmonia e uma unidade estável entre o ser humano e seu ambiente”, diz, buscando o trágico e cômico dos aspectos mais mundanos de nossa existência.

Thierry Mandon

Em “Tableau Vivant” é exposta performada a intimidade de uma refeição

Thierry Mandon

As ruínas do cenário ampliam consideravelmente o poder metafórico da performance

-Fluxus, o grupo do qual fez parte Yoko Ono e que desafiou nos anos 1960 os parâmetros do que a arte pode ser

Os objetos na parede, com os quais o artista interage, são fatiados – em influência direta de performances anteriores realizadas pela artista japonesa Yoko Ono. Utilizando vídeo, foto, instalação e performance para expor essa natureza poética e profunda, cômica e crônica que os momentos mais cotidianos podem possuir, Thierry Mandon encena tais dimensões da vida pelo desconforto, o absurdo, o improvável.

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