Ciência

Carl Hart: o neurocientista que desconstrói a estigmatização de TODAS as drogas na teoria e na prática

21 • 09 • 2021 às 10:44
Atualizada em 23 • 09 • 2021 às 10:38
Redação Hypeness
Redação Hypeness Acreditamos no poder da INSPIRAÇÃO. Uma boa fotografia, uma grande história, uma mega iniciativa ou mesmo uma pequena invenção. Todas elas podem transformar o seu jeito de enxergar o mundo.

E se um pós-doutor na Universidade de Columbia lhe dissesse que o crack não é ‘extremamente viciante’? Que epidemia de drogas nos EUA é superdimensionada? E que não é possível dizer que existem boas evidências sobre os reais danos de drogas consideradas pesadas – como metanfetamina, cocaína e heroína – ao cérebro humano? Esse é Carl Hart, PhD. e professor de Columbia, um dos maiores especialistas em drogas no planeta terra.

O pesquisador grande notoriedade após começar a pesquisar drogas em 1999. Hart via o escândalo da mídia sobre o crack e sabia que havia algo de errado. Nascido em uma periferia da Flórida, ele sabia que ele mesmo poderia ter se tornado um viciado, mas que uma série de oportunidades (e uma dose de sorte) foram pretendidos de protegido-lo para outro caminho. Mas entendia qual era o problema real do crack e sabia que ele estava distante do efeito psicoativo da droga.

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O pesquisador passou a fornecer crack para pessoas que já usavam uma droga e não desejavam parar. Então, ele começou a pedir para que elas fizessem escolhas racionais.

Basicamente, Carl oferece o seguinte: ao fim desse projeto, você pode ganhar 950 dólares. Todos os dias, o paciente escolheria entre uma pedra e alguma forma de recompensa que só seria entregue depois de algumas semanas. O que ele observou é que a extensa maioria dos viciados escolhidos como recompensas que realmente valiam a pena e não priorizaram a droga em troca do futuro. O mesmo se repetiu quando ele fez testes semelhantes com viciados em metanfetamina.

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“80% das pessoas que já usaram crack ou metanfetamina não ficam viciadas. E o pequeno número se torna adicta não é em nada parecida com os caricatos de ‘zumbis’ da imprensa. Os viciados não se encaixam no estereótipo de quem não consegue parar depois que experimenta. Quando lhes é dada uma alternativa ao crack, eles fazem conformidade com os racionais “, disse Carl Hart ao The New York Times.

Para ele, a imprensa coloca transforma a Cracolândia em causa e não em efeito; a motivação da existência da cracolândia não é a pedra: é o racismo, é a desigualdade social, é o desemprego, é o desamparo. Os viciados em crack são, em sua extensa maioria, pessoas que não tem escolha outra além da pedra. Portanto, sem oportunidade não há escolha e, sem escolha, lhes resta a pedra.

Carl pode, inclusive, ser considerado ele próprio um bom exemplo do que é um viciado em classes mais altas da sociedade: ele é um consumidor ávido e assumido de heroína e metanfetamina, mas não costuma faltar às suas aulas em Columbia ou deixar de lado suas pesquisas em drogas. Pelo número, possui uma extensa produção científica no tema e suas faculdades mentais parecem estar disponíveis.

Em seu mais recente livro, ‘Drogas para adultos’, Hart defende uma ampla legalização de todos como substâncias psicoativas e ainda vai além: ele afirma que uma tentativa de estigmatizar drogas como o crack, a cocaína, o PCP e a anfetamina e tratar drogas como LSD, cogumelos e MDMA como ‘remédios’ é também uma forma de reforçar o racismo estrutural: as substâncias dos negros são as drogas do mal e as dos brancos são remédios. Entretanto, todas elas agem de forma relativamente parecida: divertem o usuário.

“Algo entre 80 e 90 por cento das pessoas não é negativamente afetada pelas drogas, mas a literatura científica coloca que 100% das causas e efeitos das drogas são negativas. O dado está viciado para mostrar a patologia. Os cientistas dos EUA sabem que tudo isso foi feito para receber dinheiro: se continuarmos dizendo para a sociedade que isso é um grande problema que precisa ser resolvido, continuamos recebendo do Congresso e dos seus amigos. Nós temos um papel pouco honroso na Guerra às Drogas, e sabemos disso “, conta ao New York Times.

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Fotos: Divulgação / Universidade de Columbia


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