Inovação

Cuba aposta em criptomoedas para driblar bloqueio dos EUA

09 • 09 • 2021 às 10:38
Atualizada em 23 • 09 • 2021 às 18:57
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

O governo cubano confirmou que irá regulamentar e legalizar o uso de criptomoedas para pagamentos e outras movimentações financeiras no país. A medida está prevista para entrar em vigor no dia 15 de setembro, e trará uma série de normas determinadas pelo Banco Central do país para o uso das moedas digitais pela população cubana – os maiores detalhes não foram ainda divulgados, mas a expectativa é que a novidade seja eficaz para contornar os bloqueios e sanções internacionais impostas pelos EUA sobre a economia da ilha.

Bitcoins e bandeira de cuba

As moedas digitais já vêm sendo utilizadas pela população da ilha © Getty Images

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A partir da resolução reconhecendo as moedas digitais publicada no Diário Oficial cubano na semana passada as autoridades do país irão determinar as regras para o uso, que pode ser aplicado tanto em serviços dentro da própria ilha, quanto para envio e recebimento de quantias financeiras. Segundo a resolução, as operações com criptomoedas serão regulamentadas pelo estado e oferecendo garantias de seu uso pelo Banco Central “por motivos de interesse econômico”, lembrando que as moedas não podem ser utilizadas em atividades ilegais.

Banco Central de Cuba

Sede do Banco Central de Cuba: a previsão é que a medida seja oficializada na próxima semana © Presidência/Banco Central de Cuba

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A novidade em Cuba pega carona em adoção recente ocorrida em El Salvador, que se tornou o primeiro país a reconhecer o bitcoin, mais popular e estável das criptomoedas, como uma moeda oficial. O uso do dinheiro digital pela população salvadorenha se popularizou como um meio eficaz e seguro de facilitar justamente o envio de remessas por migrantes para o país, principalmente a partir dos EUA. A dimensão de tais quantias sobre a economia do país não é nada discreta: segundo especialistas, cerca de 20% do PIB de El Salvador é formado pelas quantias enviadas por cidadãos dos EUA para o país.

O embargo

O embargo, comercial e financeiro imposto pelos EUA contra Cuba foi imposto em 1962 pelo governo Kennedy como forma de se opor à Revolução Cubana e ao governo comunista na ilha, e se tornou o mais severo e longevo bloqueio da história moderna. Apesar da ONU anualmente condenar a medida, a situação só pode ser suspensa pelo congresso dos EUA e, ainda que o governo Obama tenha relaxado diversas medidas e começado uma reaproximação com Cuba, o governo Trump retomou proibições econômicas e de viagem nas relações entre os dois países.

Bandeira de Cuba nas ruas de Havana

As moedas digitais poderão ser instrumentais para driblar o embargo © Getty Images

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É nesse cenário, portanto, que a permissão do uso de criptomoedas entre a população cubana pode representar um atalho eficaz para parcialmente driblar o efeito das sanções impostas pelos EUA. A novidade poderá trazer maior liberdade financeira para a população, bem como permitir a entrada de quantias de forma indireta e controlada no país – estima-se que as moedas digitais já sejam utilizadas informalmente no país como meio dos cubanos “internacionalizarem” suas finanças.

Bitcoin

O bitcoin não é a única, mas é a mais popular e valorizada das criptomoedas © Getty Images

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