Debate

Enem mais branco e elitista da década; legado de um MEC com discurso capacitista e preconceituoso

03 • 09 • 2021 às 13:34
Atualizada em 09 • 09 • 2021 às 11:14
Redação Hypeness
Redação Hypeness Acreditamos no poder da INSPIRAÇÃO. Uma boa fotografia, uma grande história, uma mega iniciativa ou mesmo uma pequena invenção. Todas elas podem transformar o seu jeito de enxergar o mundo.

Um levantamento do Semesp (Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior) mostrou que o ENEM 2021 será o mais elitista e branco da história; dados mostram que a edição da prova terá o menor número de pessoas pretas desde 2009 e o número de pessoas inscritas com isenção na taxa de inscrição por carência socioeconômica caiu 77% em relação à prova do ano passado.

– Ministro da Educação diz que criança pode socializar na igreja ao defender homeschooling

Milton Ribeiro implantou política para reduzir a taxa de isentos no ENEM 2021; principal ponto de passagem para a educação superior fechou portas para camadas vulnerabilizadas da população

Em 2020, mais de 5,8 milhões de pessoas se inscreveram para o Exame Nacional do Ensino Médio. Entretanto, por conta da pandemia, a prova bateu o recorde de ausentes, com 55,3% de abstenção. O governo aplicou uma política exclusivista contra os faltantes: quem pediu a isenção no ano passado e faltou na prova teria que pagar a taxa de inscrição nesse ano.

A queda de participantes entre 2020 e 2021 foi de 44%. Mas os dados apontam que essa redução de inscritos se intensificou em três grupos: os aplicantes negros e os aplicantes pobres.

– Projeto de ‘ideologia de gênero’ volta ao radar do governo federal após veto no STF

Os dados mostram que 11,7% dos participantes do Enem 2021 são negros; é o menor índice desde 2009. Os pardos – classificação do IBGE – são 42,2% dos aplicantes, menor nível desde 2012. Além disso, essa é a edição com menor número de isentos desde 2017, quando os dados sobre isenção começaram a ser contabilizados. Todos os dados indicam que a maioria dos participantes do ENEM serão brancos e de classe média, tornando o principal ponto de partida para o ensino superior no Brasil algo de elite, novamente.

Implementação da política de ‘universidade para poucos’

A medida reforça o comportamento do ministério da educação sob o comando de Milton Ribeiro. “O ministério sabia que manter essa regra iria resultar na exclusão dos mais pobres e, ainda assim, decidiu mantê-la. Por isso, esperamos que a justiça possa intervir e reverter essa situação cruel”, diz Frei David, presidente da Educafro, à Folha.

Recentemente, Milton Ribeiro ganhou as manchetes da imprensa por falas capacitistas contra estudantes com deficiências: “ A criança com deficiência é colocada dentro de uma sala de alunos sem deficiência. Ela não aprendia, ela ‘atrapalhava’ – entre aspas, essa palavra eu falo com muito cuidado – ela atrapalhava o aprendizado dos outros, porque a professora não tinha equipe, não tinha conhecimento para dar a ela atenção especial”, disse o pastor responsável pela educação brasileira em fala à TV Brasil, veículo de imprensa estatal.

– Educação tem menor investimento em 10 anos e ministro defende ‘universidades para poucos’ 

Na mesma entrevista, Ribeiro também havia defendido a ideia de que as universidades não devem ser acessadas pela maioria da população. “A universidade, na verdade, deve ser para poucos”, disse. Ao que parece, a política de redução das isenções da taxa de inscrição do ENEM cumpriu seu papel: reduziu a possibilidade dos brasileiros entrarem na faculdade e mostraram o real objetivo da política educacional do governo federal.

Publicidade

Fotos: Presidência da República


Canais Especiais Hypeness