Inspiração

Projeto de ex-técnico do Fluminense apoia publicação de livros negros e indígenas

03 • 09 • 2021 às 16:02
Atualizada em 06 • 09 • 2021 às 12:42
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Não é difícil compreender a motivação do técnico de futebol Roger Machado em seu compromisso e sua dedicação contra o racismo, a partir de sua solitária posição de destaque como o único treinador negro de destaque no futebol brasileiro: antes de ser demitido do comando do Fluminense no último dia 21, Roger era o único técnico de futebol negro em atividade na primeira divisão do futebol brasileiro. Com sua demissão recente, ao assumir como interino cargo o ex-jogador e auxiliar técnico do tricolor carioca Marcão se tornou o único treinador negro à beira do campo na série A.

Roger Machado

Roger ainda como técnico do Fluminense, em partida pela Libertadores de 2021 © Getty Images

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O esforço de Roger Machado em tal luta tem a educação e a leitura como um dos mais importantes veículos de incentivo, inclusão e visibilidade no combate ao racismo – especialmente ligada à literatura negra e indígena. Desde o ano passado que livro do selo Diálogos da Diáspora vem sendo publicados com o apoio do projeto social Canela Preta, liderado pelo treinador e ex-jogador. A ideia da iniciativa é oferecer voz a autores oriundos das populações negras e indígenas, a fim de contrariar um cenário editorial nacional em que menos de 10% dos livros publicados no Brasil são escritos por tais grupos minoritários.

Livros da Diálogos da Diáspora

Alguns dos livros já lançados pela coleção © Instagram/Reprodução

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Para o primeiro edital aberto, foram enviadas mais de 250 obras, e a segunda chamada para publicação está aberta até o dia 5 de outubro – a intenção é publicar 50 livros em cinco anos. Além do incentivo à literatura, o projeto também atua custeando bolsas de estudo e até mensalidades de faculdades, bem como oferecendo cestas básicas a aldeias indígenas necessitadas – nas palavras do próprio treinador, a iniciativa é uma forma de “retribuir um pouco” o que o esporte lhe deu.

Roger Machado

O treinador ganhou a medalha do Mérito Farroupilha em Porto Alegre © Facebook/Reprodução

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O quadro de descriminação no futebol é tão agudo e simbólico do tecido social brasileiro quanto qualquer outro contexto profissional no país: ainda que dentro do campo existam jogadores negros, entre os técnicos, e mais ainda dirigentes e empresários, tal presença é rara ou mesmo nula. Conforme denuncia a importante atividade do Observatório do Racismo, a estrutura do esporte é essencialmente racista e desigual – afetando inclusive campos indiretos, como o jornalismo esportivo, até mesmo entre narradores e comentaristas nas transmissões das partidas.

Roger Machado e Marcão

Roger e Marcão © Observatório do Racismo

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