Ciência

Anfíbios tem pelo menos 74 formas de se reproduzir, conclui estudo

19 • 10 • 2021 às 19:03 Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Um novo estudo realizado por cientistas brasileiros comprovou as incríveis capacidades e variedades reprodutivas dos anfíbios. Segundo a pesquisa desenvolvida por cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) os ovos e larvas dessa classe de animais que reúne sapos, rãs, pererecas, salamandras, cobras-cegas e tantos mais se reproduzem e se desenvolvem através de pelo menos 74 formas diferentes: o artigo parte de dados compilados na literatura científica em décadas de estudo, a partir dos quais uma nova possibilidade de classificação para a classe.

Uma rã-de-olhos-vermelhos

Uma rã-de-olhos-vermelhos © Wikimedia Commons

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A pesquisa foi publicada na revista Salamandra, e promove uma atualização considerável no número de formas de reprodução até então conhecidas e registradas entre os anfíbios: o sistema de classificação anterior apontava a existência de 39 variações reconhecidas até então. Esse número já é impressionante e muito superior ao de outros vertebrados, como répteis, mamíferos e aves, mas ainda não mostrava a real diversidade reprodutiva dos anfíbios como um todo”, explicou Luís Felipe Toledo, professor do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp e coordenador do estudo, que foi liderado por Carlos Henrique Luz Nunes-de-Almeida.

Tipos diferentes de reprodução: ovos nas costas da "mãe" (A), ninho de espuma na água (B), ninho de espuma em uma árvore (C) e ninho de bolhas (D)

Tipos diferentes de reprodução: ovos nas costas da “mãe” (A), ninho de espuma na água (B), ninho de espuma em uma árvore (C) e ninho de bolhas (D) © Salamandra/reprodução

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A análise trabalhou com 2.171 espécies de anfíbios, compreendendo 80% dos animais da classe existentes – a vasta maioria pertencendo ao grupo dos anuros, reunindo sapos, rãs e pererecas, apresentando 56 modos de reprodução exclusivos ao grupo, e 71 no total. A variedade de formas de reprodução representa um ponto importante no processo evolutivo e de adaptação dos animais: o sapo Physalaemus spiniger, por exemplo, possui três formas diferentes de reprodução, podendo criar um ninho numa lagoa, no chão úmido ou mesmo dentro de uma bromélia, adaptando-se assim às condições e cenários possíveis.

Ninho em bolhas de ar (E) e ninho gelatinoso em folha (F): outros tipos de reprodução anfíbia

Ninho em bolhas de ar (E) e ninho gelatinoso em folha (F): outros tipos de reprodução anfíbia © Salamandra/reprodução

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O novo sistema de classificação proposto parte de características: postura de ovos ou o carregamento direto de larvas ou filhotes, ovos postos diretamente em locais, em ninhos de espuma ou em bolhas, se os ovos são carregados no corpo do animal ou colocado em ambientes aquáticos ou terrestres, se há cuidado pelos pais, e mais. “A diversidade de modos de reprodução surgiu por pressões seletivas, como competição e predação”, afirmou Toledo, apontando como uma lagoa, por exemplo, pode ser ambiente perigoso e cheio de predadores.

Uma salamandra

Uma salamandra © Wikimedia Commons

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“Quando uma espécie consegue desovar fora da lagoa, numa folha pendurada acima dela, os ovos podem escapar de todos aqueles predadores aquáticos e o girino cai na água quando estiver pronto”, concluiu Toledo. Intitulado A revised classification of the amphibian reproductive modes e assinado por Carlos Henrique Luz Nunes-de-Almeida, Célio Fernando Baptista Haddad e Luís Felipe Toledo, o artigo pode ser lido aqui.

Rãs em processo de acasalamento

Rãs em processo de acasalamento © Wikimedia Commons

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