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Depressão: dispositivo experimental implantado no cérebro pode ser capaz de detectar e controlar a doença

22 • 10 • 2021 às 15:21 Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Um dispositivo do tamanho de uma caixa de fósforos mudou a vida de Sarah, uma voluntária de 36 anos que se ofereceu para participar de um estudo experimental que pode mudar o futuro dos estudos, diagnósticos e tratamentos de depressão: o instrumento foi implantado em seu crânio e conectado ao cérebro da paciente um ano atrás, e emite um impulso elétrico os primeiros sinais de depressão são detectados. Sem efeitos colaterais desde a instalação, Sarah afirma que o dispositivo mudou sua vida para melhor como nenhum medicamento ou tratamento anterior havia conseguido.

A voluntária Sarah, de 36 anos, vive há um ano com o dispositivo instalado no cérebro

A voluntária Sarah, de 36 anos, vive há um ano com o dispositivo instalado no cérebro

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Sarah havia tentado diversos tratamentos anteriores, como remédios e mesmo terapias eletroconvulsivas, mas sem sucesso. “Quando estava nas profundezas da depressão, tudo o que via era o lado ruim das coisas”, afirmou a paciente, que se via então sem opções, esclarecendo que hoje o dispositivo mantém sua depressão sob controle, e permite que ela venha reconstruindo sua vida, desde a instalação e até hoje. “Dentro de algumas semanas, os pensamentos suicidas desapareceram”, revelou.

A voluntária Sarah em experimento contra a depressão

Sarah garante que sua vida mudou para melhor desde a instalação do dispositivo

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A cirurgia durou um dia inteiro, e realizou pequenos orifícios no crânio de Sarah para a instalação dos fios que monitoram e estimulam seu cérebro, bem como o implante da bateria e do gerador de pulso sob seu couro cabeludo e cabelo, introduzido em seu osso. Segundo contou, ela não consegue sentir o dispositivo funcionando, mas percebe eventualmente seu efeito, a partir de sensações de alerta e energia e até mesmo positividade que a permitem superar a depressão que até então a fazia se sentir “torturada”, incapaz de se mover ou fazer algo por longos períodos.

O dispositivo se localiza em cavidade no crânio, e se conecta à região do cérebro

O dispositivo se localiza em cavidade no crânio, e se conecta à região do cérebro

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Segundo Katherine Scangos, psiquiatra da Universidade da Califórnia, em San Francisco, onde o experimento vem sendo realizado, o dispositivo age sobre o “circuito da depressão” no cérebro de Sarah, nas áreas onde se prevê a chegada dos sentimentos, bem como em região capaz de eliminar a depressão. É preciso, segundo a psiquiatra, realizar diversos novos experimentos semelhantes a fim de determinar o êxito do dispositivo nos pacientes em geral, e novos voluntários já estão inscritos e iniciando o processo. O êxito em um caso tão grave quanto o de Sarah, porém, trouxe animação especial aos médicos envolvidos.

A psiquiatra Katherine Scangos examinando Sarah

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“Precisamos observar como esses circuitos variam entre os pacientes e repetir esse trabalho várias vezes”, afirmou Scangos. “E precisamos ver se o biomarcador de um indivíduo ou o circuito do cérebro muda com o tempo, à medida que o tratamento continua. Não sabíamos se conseguiríamos tratar a depressão dela, porque era muito grave, então, nesse sentido, estamos muito animados com isso. É o tipo de estudo muito necessário no nosso campo agora”, concluiu. O estudo foi publicado na revista científica Nature, e pode ser acessado em inglês.

A voluntária Sarah cuidando de flores

O dispositivo identifica e inibe os pensamentos e sentimentos depressivos

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© fotos: Universidade da Califórnia/San Francisco


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