Ciência

Esqueleto descoberto na Itália pode ter sido vítima de uma das piores formas de tortura da história

13 • 10 • 2021 às 10:05 Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Um esqueleto da Idade Média descoberto próximo à catedral de Milão traz as marcas de uma das mais cruéis formas de tortura já praticadas: segundo indícios, o jovem tinha entre 17 e 20 anos, e teria sido morto em uma “Roda de Santa Catarina”, máquina a qual pessoas eram atadas e tinham seus ossos estilhaçados através do girar da roda. A descoberta ocorreu em 2019, mas um novo estudo sobre os restos mortais foi publicado recentemente no Journal of Archaeological Science, no qual cientistas da Università degli Studi di Milano, na cidade italiana, puderam detalhar mais e melhor os possíveis motivos e formas pelas quais a pessoa foi morta.

O esqueleto torturado descoberto em Milão

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Segundo o estudo, o jovem foi executado entre os anos de 1290 e 1430, e os métodos de tortura não se restringiram ao horror do girar da roda e do estilhaçar dos ossos – que eventualmente provocava também o arrancar de membros e o despedaçamento de partes do corpo: as vítimas da Roda de Santa Catarina costumavam ser também lançadas sobre objetos pontiagudos, ser golpeados por chicotes, maças e martelos, e algumas rodas eram até mesmo giradas sobre superfícies em chamas, em processo que poderia durar dias de sofrimento intenso.

Parte do maquinário de uma Roda de tortura, datada de 1775

Parte do maquinário de uma Roda de tortura, datada de 1775 © Wikimedia Commons

Ilustração do século XVIII mostrando o funcionamento parcial da roda

Ilustração do século XVIII mostrando o funcionamento parcial da roda © Getty Images

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É impossível falar em sorte para tais casos, mas alguns prisioneiros podiam ser absolvidos e mesmo libertados caso a Roda quebrasse durante o processo – acaso visto como uma mensagem divina que significaria um sinal para absolvição. O caso da ossada milanesa foi primeiro compreendido como vítima de uma batalha, mas os estudos mais detalhados revelaram feridas tão graves e diferenciadas que o diagnostico se tornou claro: braços e pernas foram estilhaçados de forma precisa, com marcas de uma facada nas costas e uma tentativa sem sucesso de decapitação marcada no crânio.

As fraturas diversas encontradas no crânio: no ponto "d", o indício de tentativa de decapitação

As fraturas diversas encontradas no crânio: no ponto “d”, o indício de tentativa de decapitação

Outros pontos precisos de fratura encontrados no esqueleto milanês

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Além de tais marcas, a descoberta de fivelas, que eram utilizadas para prender os condenados à roda, ao lado do esqueleto foram também indícios determinantes para a conclusão sobre a rara descoberta arqueológica: são poucos os exemplares de vítimas das rodas de tortura já encontrados. Outra informação terrível documentada pelo estudo sugere que o homem pode ter sido condenado simplesmente por sua aparência: com 11 centímetros a menos do que a média para sua idade à época, além de dentes tortos e acavalados: a roda era comumente utilizada para pessoas acusadas de propagarem a peste bulbônica no período conhecido como Peste Negra, e a aparência diferente do jovem pode ter sido o suficiente para que uma população assustada e sem conhecimento científico chegasse a tal condenação.

Os dentes "tortos" da ossada, entre outras características, podem ter sido motivo da extrema tortura

Os dentes “tortos” da ossada, entre outras características, podem ter sido motivo da extrema tortura

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© fotos: Journal of Archaeological Science/créditos


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