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Nessa segunda-feira, o general Abdel Fattah al-Burhan anunciou um novo regime para o Sudão. O golpe contra o primeiro ministro interino Abdallah Hamdok foi consumado pelo militar que comandava o Conselho Supremo, um órgão de estado que coordenava a transição do país para a democracia.
Em 2019, o presidente Omar al-Bashir foi destituído do cargo após 29 anos no poder. O líder autocrático do país foi derrubado após manifestações por todo o país. Desde então, um governo de transição para a democracia foi mantido, mas a dificuldade de um acordo entre civis e militares torna difícil a condução do país.
Manifestantes protestam contra golpe de estado no Sudão; crise política é regra no país há pelo menos um século
O primeiro ministro interino foi preso, assim como outras autoridades do governo. Os militares se comprometeram a criar uma nova constituição para o país e afirmaram que irão garantir eleições livres em julho de 2023.
“As Forças Armadas continuarão a completar a transição democrática até que a liderança do país seja entregue a um governo civil eleito”, afirmou o general.
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Em agosto, o governo interino confirmou que iria entregar Omar al-Bashir, ex-ditador do país, para o Tribunal Penal Internacional, o famoso Tribunal de Haia. Protestos se desencadearam no país para defender o legado de Bashir.
Abdel Fattah al-Burhan se pronunciou à população como chefe de estado do Sudão
Um golpe foi tentado no mês passado, mas falhou. Entretanto, quando manifestantes foram às ruas para defender o governo civil, os militares reagiram.
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“Preocupados com a possibilidade de serem execrados do poder e responderem por seus crimes horríveis do passado, os militares agiram na manhã dessa segunda-feira. Não há dúvida de que eles também foram encorajados por lideranças dos governos locais, assustados com a instabilidade”, explica Theodore Murphy, diretor do Conselho Europeu em Relações Internacionais.
O Sudão era, até 2012, o maior país do mundo árabe e o terceiro maior país de toda a África. As fronteiras do país abrigavam uma diversidade étnica de povos extremamente rica e diferenças geográficas, linguísticas e humanitárias marcavam o país de história conturbada.
Em 2012, o Sudão do Sul se emancipou do Sudão, sendo esse o principal resultado da Segunda Guerra Civil Sudanesa, que se estendeu de 1983 até 2005. A principal motivação desse conflito pode ser explicada, em nível raso, por essa diversidade étnica dos povos que habitavam o território do Sudão.
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Omar al-Bashir, ex-ditador sudanês, caiu após manifestações anti-corrupção no país
O país é extremamente dividido em uma clivagem clara entre os povos mais ao Sul, etnicamente e culturalmente próximos dos povos da África Subsaariana e os povos mais ao norte, etnicamente e culturalmente mais próximos ao mundo árabe.
Essa clivagem já existia há milênios, mas só se tornou um problema de violência após o domínio colonial. Segundo o professor Mahmood Mamdani, cientista político e um dos maiores especialistas na questão sudanesa, foi o domínio britânico que instaurou a lógica de conflito entre os povos no Sudão.
“O território que hoje enquadra o Sudão e o Sudão do Sul tem sido o lar de uma impressionante diversidade de povos há pelo menos um milênio, mas foi somente nos últimos cem anos que essa diversidade se tornou a motivação de um conflito. E isso se tornou um fato somente após a dominação colonial”, explica em ‘Cidadão e Sujeito: África Contemporânea e o Legado do Colonialismo Tardio.
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“Foi justamente a partir da transição para o século 20, com a concentração populacional e a violência das autoridades coloniais, que o Império Britânico tribalizou o Sudão, criando barreiras físicas e legais entre grupos que anteriormente viviam em harmonia apesar de suas diferenças. Os ingleses criaram fronteiras internas que não existiam e criaram um sistema de divisão social baseado na lógica racial europeia. Tudo isso foi feito para impedir que os colonizados se unissem e criassem uma resistência solidária além de suas diferenças”, explica.
A instabilidade política pós-Independência do Sudão foi motivada por essas divisões coloniais, e as duas guerras civis sudanesas motivaram um poder ainda maior dos militares dentro da sociedade, o que fortaleceu os golpes de al-Bashir e a mais recente face da crise no país.
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Nesse ano, observamos outros dois golpes de estados em países africanos oriundos de nações divididas pelo poder colonial. O primeiro foi no Mali, onde um conflito em norte e sul do país se instaura há décadas Por lá, os militares se mantém no poder com a desculpa de combater os grupos radicais terroristas que invadem a região desértica do país.
Protesto em Bamako, capital do Mali, contra a presença militar francesa no país
Na Guiné, os militares voltaram ao poder em setembro de 2021 em um golpe contra o presidente civil Alpha Condé. O general Doumbouya assumiu o poder do país, voltando à lógica militar que governou o país entre 1984 e 2008.
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Todos os países africanos que foram posses coloniais da Europa tiveram que fazer uma transição violenta pela libertação, o que gerou sociedades excessivamente militarizadas. Somando isso à lógica de reunir diferentes povos em um mesmo território – o que, naturalmente geraria disputas como as observadas em Ruanda (entre hutus e tutsis) ou na Nigéria, na Guerra de Biafra -, é natural que a força se torne o principal fio condutor da política nesses locais.
Enquanto as nações europeias condenam os golpes de estados com notas de suas chancelarias e discursos pomposos de presidentes, quem ainda sofre são os colonizados. O Sudão, que tem um IDH de 0,510, pior do que de todos os estados do Brasil e do que todos os bairros de São Paulo ou Rio de Janeiro.
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