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As eleições de 2022 estão na ordem do dia e o debate se acirra com a proximidade do pleito que vai eleger governadores, deputados estaduais e federais e senadores, além, claro, do próximo presidente da República.
O pleito do ano que vem chega com boas doses de ansiedade e até apreensão. Isso se dá pelo discurso constante de Jair Bolsonaro em defesa da ditadura. Ele, que governa um dos três países com o pior índice de inflação no mundo de acordo com a CNN Brasil, tem a reeleição ameaçada.
O cenário para Bolsonaro está longe de ser favorável. Acusado de genocídio pela omissão nas mais de 600 mil mortes por covid-19, o mandatário segue apostando todas as suas fichas nos chamados 20%, base de apoiadores fiéis ao agora candidato fililiado ao PL.
O debate está pautado, sobretudo, em maneiras de recolocar a economia nos trilhos e empurrar o Produto Interno Bruto (PIB) para além dos 4% – estimativa feita pelos economistas para 2021.
Leo Péricles é pré-candidato à presidência pela Unidade Popular (UP)
A reeleição de Jair Bolsonaro está em xeque principalmente pela influência de Lula. Presidente por dois mandatos, o petista aposta no histórico de medidas populares e estabilidade econômica para voltar a subir a rampa do Palácio do Planalto. Lula sabe que os tempos são outros e que, apesar de ter sido o presidente que sancionou a Lei de Cotas, está longe de satisfazer às demandas da comunidade negra.
Aliás, quem são os candidatos afro-brasileiros à presidência da República? O Hypeness conversou com um deles, Leonardo Péricles, homem negro de 40 anos membro da Unidade Popular (UP), que pretende “levar o povo trabalhador, preto e pobre ao poder de fato”.
Leo Péricles, como se apresenta, inicia a conversa negando incômodo com a ausência de nomes de figuras políticas negras cogitados para compor uma eventual chapa com Lula. “Não achamos esse o principal problema. O principal problema é o rebaixamento programático e as alianças que estão sendo costuradas”, diz ele em meio ao zum zum zum de conversas do PT com Geraldo Alckmin para ser vice de Lula.
Leo Péricles está com 40 anos, é casado com Poliana e pai de dois filhos. Ele afirma ter morado na periferia a vida inteira e que iniciou a militância nos anos 2000 com o movimento estudantil.
Residente de BH, Péricles presidiu a Associação Metropolitana de Estudantes Secundaristas de Belo Horizonte (AMES-BH), além de compor a diretoria da União Nacional dos Estudantes (UNE) nos tempos em que estudava na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
“Desde 2011 faço parte do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e participei ativamente da organização de dezenas de ocupações realizadas pelo movimento, a exemplo da ocupação Eliana Silva na periferia de BH, que é onde eu moro”.
Péricles explica ao Hypeness que os principais pilares de sua trajetória política estão calcados em raça, direitos humanos, direito à cidade e moradia. “Tive a oportunidade também de ser uma das lideranças das jornadas de junho de 2013 em Belo Horizonte e, desde 2014, estou como Presidente Nacional da Unidade Popular”, conclui.
Leo foi vice na chapa de Áurea Carolina (foto) à prefeitura de BH
A Unidade Popular, ou UP, teve o registro partidário obtido em dezembro de 2019 com cerca de 1,2 milhão de assinaturas. Leo Péricles, então, foi candidato como vice-prefeito de Belo Horizonte na chapa encabeçada pela deputada federal Áurea Carolina (PSOL-MG). Eles ficaram em quarto lugar, com 103.115 mil votos.
Talvez você já esteja cansado de ouvir que pretos e pardos, diz o IBGE, respondem por mais de 51% da população brasileira, mas são sub-representados nos chamados meios de tomada de decisão, como nas colunas de opiniões em grandes jornais e na política.
Um dado interessante compartilhado pelo jornalista Breiller Pires no El País dá conta da urgência de enegrecer a política no Brasil. Em 2018, perto de metade dos pleiteantes a uma vaga no Legislativo era negra, que responderam no final das contas apenas por 4% dos eleitos.
O embranquecimento da política e a falta de, com o perdão de redundância, vontade política para mudar o cenário é tão grande que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) condicionou a quantidade de verba vinda do fundo partidário e também do eleitoral ao número de candidatos negros. O mesmo vale para o tempo de TV, diz a decisão que entra em vigor a partir das eleições de 2022.
Leo Péricles diz que a maré está mudando e vê com otimismo a eleição de pessoas negras. “Foram e vem sendo muito importantes, principalmente porque são mandatos comprometidos com pautas do movimento negro e de esquerda”, pontua.
Erica Malunguinho fez história ao ser 1ª mulher trans eleita deputada em SP
As eleições de 2018 entram para a história como uma espécie de desastre avizinhado. Mas, a chegada de Jair Bolsonaro ao Planalto não foi o único fenômeno destes tempos turbulentos no Brasil. As mulheres negras foram para a luta e com elas nasceram novas sementes de Marielle.
O Correio Braziliense fez um levantamento mostrando que 13 mulheres que se autodeclaram negras foram eleitas para o Congresso Nacional em 2018. Eram 12 em 2014 e três em 2010. Entre elas estão Talíria Petrone, do PSOL, e a própria Áurea Carolina.
“De 2013 para cá, está se abrindo um espaço para os que lutam contra as injustiças e os que são inconformados com o atual sistema político. As grandiosas jornadas de junho desencadearam um processo de mobilizações com milhões de pessoas nas ruas que, de alguma maneira, não se sentiam representados pela democracia burguesa. Esse espaço foi ocupado por diversas lideranças que se identificaram com as pautas feministas e da negritude, especialmente”, diz o pré-candidato à presidência da Unidade Popular.
Leo Péricles se mantém alerta e crítico sobre o avanço da representatividade negra na política. Para ele, é importante trabalhar para marcar presença nos espaços de poder. “Caso contrário, não alteraremos a correlação de forças na sociedade e seremos apenas uma minoria “aceita”. No entendimento da Unidade Popular, o central deve ser a disputa pelos interesses da classe trabalhadora e do povo pobre e preto, lutando para conquistar o poder político. Queremos e lutaremos para acabar com toda a opressão e exploração a que estamos submetidos”.
A possível eleição de Luiz Inácio Lula da Silva não é vista como um problema para lideranças dos Movimento Negro. Ao contrário, o petista é apoiado por nomes importantes como a ex-defensora pública e candidata à prefeitura de Salvador pelo PT Vilma Reis, entre outras. Lula, no entanto, é cobrado por um compromisso maior com pautas defendidas por estes setores, como a diminuição da letalidade policial.
Leo Péricles critica alianças feitas por alguns setores da esquerda
Os 14 anos de governo petista não conseguiram diminuir o massacre de corpos negros encabeçado pelo Estado brasileiro. Foi na gestão Lula, em 2006 precisamente, que o Brasil aprovou a chamada Lei de Drogas, que como mostrou a jornalista Cecília Oliveira no The Intercept, fez com que o número de presos (maioria de pretos e pardos) dobrasse em 11 anos.
“Ser efetivamente de esquerda exige de nós sermos necessariamente antirracistas. Como disse, após 2013, vimos o desenvolvimento de várias lideranças negras dentro dos movimentos populares e também da militância partidária. Em relação à UP, a maioria de nossa militância sempre foi negra, inclusive nas candidaturas que lançamos nas Eleições em 2020 e nos espaços de direção”, diz Leo.
O pré-candidato à presidência pela UP critica o que chamou de “esquerda institucionalizada”.
Nós identificamos dois movimentos: o primeiro é este ao qual eu já me referi, dos setores mais combativos da esquerda, vinculados às lutas concretas e à periferia. O segundo é o setor da esquerda cada vez mais institucionalizado, iludido com a democracia das elites, democracia esta que até permite a ocupação de alguns espaços com o intuito de justificar o nome “democracia”, mas que, na verdade, está assentada na exploração da classe trabalhadora e na opressão contra o povo negro. Lembrando que não posso ser devidamente coerente me dizendo antirracista e contra o genocídio da nossa juventude negra e pregando alianças nas eleições com a direita e grandes capitalistas, defendendo nas eleições maior armamento das polícias ou a construção de mais cadeias. Combater o racismo é uma posição importante, combater suas raízes é central.
Jair Bolsonaro é acusado de omissão e genocídio na pandemia que matou mais de 600 mil
Não foram poucas as pessoas que criticaram Guilherme Boulos, do PSOL, por ter preferido tentar uma vaga improvável no segundo turno do pleito presidencial ao invés de lutar para aumentar a bancada progressista na Câmara dos Deputados.
Leo Péricles diz que a pré-candidatura pela UP é para dar um recado ao eleitorado, sobretudo aos negros e negras. “Lançamos a pré-candidatura com o objetivo de disputar a consciência do povo para destruir o fascismo e combater o capitalismo. Estamos construindo um programa que represente os verdadeiros interesses da classe trabalhadora, como, por exemplo, a retomada dos direitos trabalhistas e previdenciários retirados pelos governos golpistas de Temer e Bolsonaro”.
“Só vamos desenvolver nosso país com o povo no poder. Somente assim resolveremos os graves problemas estruturais e tiraremos o povo da miséria e da crise que está sendo aprofundada pela política ultraliberal. Não pretendemos lutar apenas por cargos no Congresso Nacional e para ser parte dos que administram o capitalismo. Queremos construir o poder popular e promover transformações profundas”, adiciona.
Marielle Franco deixou sementes negras na política
A pré-candidatura de Leo Péricles é mais um passo contra o racismo que assola um país onde 86% dos mortos por policiais no Rio de Janeiro são negros, como mostra levantamento fresquinho da Rede de Observatórios da Segurança. “Ter partido é ter posição política. Neste sentido, toda candidatura demarca suas posições”, afirma Péricles.
Diferente de Jair Bolsonaro, que foi eleito mesmo com a recusa em participar de debates políticos, Leo Péricles divide com os leitores do Hypeness suas propostas para um Brasil mais equânime.
Precisamos inicialmente enfrentar graves problemas estruturais e econômicos do nosso país. O Brasil sofre com a dependência do capital estrangeiro e dos monopólios imperialistas e passa por um processo acelerado de desindustrialização. Isso tem levado nosso país a retroceder à condição de mero exportador de matérias-primas. É preciso tomar medidas para o país sair dessa grave crise. As políticas neoliberais em curso apenas agravam ainda mais essa situação.
Ele ainda enfatiza a urgência da reversão da reforma da previdência e destacando a reforma agrária que “coloque a finalidade central da agricultura no Brasil alimentar nosso povo e não exportar”.
“Isso significa enfrentar os graves problemas políticos, sociais e econômicos e resgatar a combatividade da esquerda, deixada de lado nos últimos anos em nome das articulações políticas e alianças sem programa. Enfim, mostrar que só o povo salva o povo”.
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