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Em uma época ainda mais conservadora do que a que vivemos hoje, Jorge Lafond se tornou uma das figuras mais populares da mídia durante as décadas de 1980 e 1990. Negro e homossexual, o ator também era bailarino e ganhou fama interpretando a irreverente Vera Verão, personagem muito presente até hoje na memória dos brasileiros.
Com carisma, talento e irreverência, Lafond abriu portas no entretenimento para muitas pessoas LGBT, principalmente para aqueles que, assim como ele, não eram brancos. Para celebrar a vida e o trabalho dele, contamos abaixo um pouco mais sobre a trajetória do artista que virou inspiração e símbolo de resistência, apesar de ter partido cedo demais.
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Jorge Lafond estudou balé clássico e dança africana na juventude.
Jorge Luiz Souza Lima nasceu no município de Nilópolis, Rio de Janeiro, em 1952. O nome artístico pelo qual ficou conhecido foi emprestado da atriz Monique Lafond. Aos seis anos, ele já era consciente sobre sua homossexualidade, tentanto disfarça-la a todo custo por medo que os pais descobrissem. Para isso, se mantinha o mais comportado e sério possível, além de se dedicar muito aos estudos.
Filho de um bombeiro e uma telefonista, Lafond tinha como brincadeira favorita imitar os artistas que iam ao programa “Cassino do Chacrinha”. Junto a outras crianças da Vila da Penha, bairro onde morava no Rio, ele performava números de dança e canto em um palco imaginário. A admiração pela arte era tanta, que aos nove anos foi estudar balé clássico no Theatro Municipal.
No ano seguinte, começou a trabalhar em uma oficina mecânica e, durante os finais de semana, em um parque de diversões. Mas o sonho de ser artista falou mais alto e se tornou o caminho que ele decidiu seguir. Além do balé, Lafond estudou dança africana e até colaborou com Mercedes Batista, a primeira bailarina negra do Theatro Municipal.
Lafond desfilando na Unidos de São Lucas. São Paulo, 2002.
Até os 17 anos, se apresentava em cabarés, boates e casas de show por todo o Rio de Janeiro. Com essa idade, foi contratado por Haroldo Costa para trabalhar como bailarino nos Estados Unidos e na Europa. Lafond fez parte desse grupo folclórico no exterior por uma década.
Apaixonado por carnaval, ele desfilou como destaque em carros alegóricos de escolas de samba diversas vezes ao longo da carreira. Costumava causar muita polêmica por suas fantasias, ou pela falta delas. Em 1990, entrou na avenida vestindo apenas um tapa-sexo pela Beija-Flor de Nilópolis. Já participou completamente nu do desfile da Imperatriz Leopoldinense e, em 2002, foi Rainha de Bateria na Unidos de São Lucas.
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Após se formar em artes cênicas na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, entrou para o corpo de bailarinos do programa “Fantástico”, em 1974. Como ator de TV, sua primeira experiência foi no humorístico “Viva o Gordo”, em 1981, e no especial “Plunct Plact Zuuum”, em 1983. Lafond também participou das novelas “Voltei Pra Você” (1983-1984) e “Sassaricando” (1987-1988). Todas essas atrações eram da Rede Globo.
No cinema, enquanto isso, foi dançarino no filme “Rio Babilônia” (1982) e atuou nos longas “Bar Esperança” (1983), “Bete Balanço” (1984), “Rock Estrela” (1986), “Leila Diniz” (1897) e “Sonhei com Você” (1988). De volta à televisão, interpretou Madame Satã em “Kananga do Japão” (1989), novela da extinta TV Manchete. Um ano depois, retornou à Globo como parte do elenco de “Os Trapalhões”. No humorístico, um de seus papéis mais famosos foi o do Soldado Divino, o primo de Mussum, no quartel do Sargento Pincel.
Lafond em cena como Vera Verão no programa “A Praça É Nossa”.
Tornando-se cada vez mais conhecido pelo grande público, a consagração chegou em 1992 com a personagem Vera Verão, criada por ele para o programa “A Praça É Nossa”, do SBT. No papel, gritava a frase “Êeeepa! Bicha Não!”, que acabou virando bordão, como um pedido de respeito sempre que entrava em alguma discussão. O jeito espalhafatoso, bem diferente da sua personalidade reservada da vida real, conquistou o público e permitiu que ele ficasse no ar por dez anos.
Embora querido pela grande maioria das pessoas que acompanhavam seu trabalho, Jorge Lafond ainda era submetido a diversas situações de discriminação. Para piorar, não havia sequer necessidade de contar como elas aconteceram porque muitas ocorreram publicamente.
Durante o período de preparação da segunda temporada da “Casa dos Artistas”, no SBT, por exemplo, ele era um dos favoritos do público para entrar no reality show. Alguns amigos famosos até fizeram campanha para a escalação do ator, que conseguiu aparecer no primeiro episódio do programa, mas teve a participação vetada pelos diretores da emissora. De fora da atração, ele fez questão de mostrar seu descontentamento.
Lafond se tornou símbolo de resistência durante uma época conservadora.
Com a popularidade ainda mais em alta depois do ocorrido, Lafond foi chamado para participar do “Domingo Legal”, onde já havia trabalhado como repórter, no dia 10 de novembro de 2002. No meio das gravações, a produção convidou o ator a se retirar enquanto o Padre Marcelo Rossi se apresentava no programa. O pedido inicial era que ele vestisse “roupas masculinas” para interagir com o religioso, mas, como só havia levado figurinos para a personagem Vera Verão, foi obrigado a permanecer no camarim.
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Depois que o padre terminou de se apresentar, Lafond se recusou a voltar ao palco do programa, encerrando sua participação no dia. Em entrevista para o “TV Fama”, na Rede TV, o ator contou que a mesma situação já havia acontecido em uma rádio e, portanto, não era a primeira vez. Mesmo assim, deixou claro que se sentiu profundamente ofendido e magoado.
Lafond na Freedom, sua casa noturna, em 2002.
Jorge Lafond morreu de infarto fulminante após sofrer falência múltipla dos órgãos no dia 11 de janeiro de 2003. Em 17 de novembro do ano anterior, ele foi internado em estado grave com problemas cardíacos. No dia 28 do mês seguinte, sofreu uma parada cardiorrespiratória e desenvolveu uma crise renal, comprometendo de vez seu estado de saúde.
O artista faleceu em São Paulo, aos 50 anos de idade. Como forma de tributo e homenagem ao seu legado, a escola de samba Acadêmicos do Cubango, do Rio de Janeiro, criou o Troféu Jorge Lafond, que premia os melhores destaques do carnaval carioca.
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