Ciência

Decolonial e descolonial: qual a diferença entre os termos?

24 • 02 • 2022 às 18:23 Roanna Azevedo
Roanna Azevedo   Redatora Diretamente da zona norte do Rio, é jornalista por profissão e curiosa por conta própria. Ama escrever sobre cinema e o universo do entretenimento há mais de dois anos. Tem paixão por tudo que envolve cultura, música, arte e comportamento, além de ficar sempre ligada no que rola no mundinho da comunicação nas redes sociais.

Volta e meia nos estudos sobre a sociedade, a história e a cultura da América Latina, nos deparamos com os termos decolonial e descolonial. Aparentemente, a única diferença entre os dois é uma letra “s”, mas será que também existe alguma distinção de significados? 

Para responder a essa pergunta, explicamos abaixo tudo o que você precisa saber sobre o que envolve cada uma delas.

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Qual a diferença entre decolonial e descolonial?

Mapa das colônias espanholas e portuguesas na América Latina.

Os dois termos são usados como sinônimos em grande parte do material acadêmico traduzido para a língua portuguesa, por isso não existe um consenso sobre qual é o correto. Mas há especificidades que permitem diferenciá-los em teoria. Enquanto o descolonial se contrapõe ao conceito de colonialismo, o decolonial está oposto ao de colonialidade.

O que significa colonialismo e colonialidade?

De acordo com o sociólogo Aníbal Quijano, o colonialismo se refere ao vínculo de dominação social, política e cultural que os europeus exercem sobre os países e povos que conquistaram ao redor do mundo. Já a colonialidade diz respeito a compreensão da permanência da estrutura de poder colonial até os dias de hoje, mesmo séculos após o fim das colônias e os processos de independência das mesmas. 

Países que um dia foram colonizados ainda sofrem os efeitos da dominação colonial, como a racialização e o eurocentrismo, que compõem as relações de produção. É a partir daí que surge a necessidade de existir uma mobilização que se oponha ao modelo vigente, no caso, a decolonial.

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O sociólogo peruano Aníbal Quijano (1930-2018).

O mais importante é ter em mente que ambos os conceitos estão relacionados. Tanto um quanto o outro se conectam ao processo de colonização dos continentes e aos efeitos prolongados que tal processo desempenhou sobre eles. Por esse motivo, é possível afirmar que, apesar da descolonização, a colonialidade continua presente.

Então descolonialidade e decolonialidade são a mesma coisa?

Não, existe uma diferença conceitual entre as duas. A descolonialidade é abordada principalmente nas obras de Quijano e é a ela que se referem quando utilizam o termo “descolonial”. Está ligada às lutas anticoloniais que marcaram as independências das antigas colônias e pode ser definida como um processo de superação do colonialismo e das relações de opressão que ele causou.

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A decolonialidade é tratada pela pesquisadora Catherine Walsh e outros autores que utilizam a palavra “decolonial” para fazer referência a ela. Esse conceito diz respeito a um projeto de transgressão histórica da colonialidade. A partir da noção de que não é possível desfazer ou reverter a estrutura de poder colonial, o objetivo dele é encontrar meios para desafiá-la continuamente e romper com ela.

No caso do Brasil, por exemplo, a perspectiva negra decolonial do país é sobre romper não apenas com a colonialidade do poder, mas também do saber, segundo a pedagoga Nilma Lino Gomes. É necessário se afastar do conhecimento eurocêntrico, instituído como universal, para recuperar vozes e pensamentos confiscados pela história.

A pedagoga Nilma Lino Gomes.

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Foto 1: Reprodução/Livro Conexões: estudos de geografia do Brasil

Foto 2: Reprodução/La Republica

Foto 3: Letícia Souza


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