Diversidade

Maya Angelou: a história da primeira mulher negra a estampar a moeda de dólar

04 • 02 • 2022 às 10:44
Atualizada em 24 • 02 • 2022 às 20:01
Redação Hypeness
Redação Hypeness Acreditamos no poder da INSPIRAÇÃO. Uma boa fotografia, uma grande história, uma mega iniciativa ou mesmo uma pequena invenção. Todas elas podem transformar o seu jeito de enxergar o mundo.

Poeta, escritora, dramaturga, roteirista, apresentadora, atriz, bailarina, cineasta, ativista política. Todas essas facetas pertencem a uma única pessoa: Maya Angelou, a primeira mulher negra a estampar a nova moeda de 25 centavos de dólar. Indicada ao Pulitzer, ao Grammy e ao Emmy por seu trabalho nas telas e no papel, ela é uma das influenciadoras sociais mais importantes das últimas décadas, principalmente para a cultura afro-americana e defesa dos direitos civis.

Por esse motivo, contamos abaixo tudo o que você precisa saber sobre a história de vida e a carreira de Maya Angelou.

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Quem foi Maya Angelou?

Maya Angelou era o pseudônimo de Marguerite Ann Johnson.

Maya Angelou foi uma importante escritora, poetisa e ativista política estadunidense. Com o nome de Marguerite Ann Johnson, ela nasceu na cidade de St. Louis, Missouri, em 1928. Tinha três anos quando seus pais se separaram, indo, junto do irmão mais velho, morar com a avó paterna no Arkansas, seu primeiro exemplo de força e independência. 

Na companhia do irmão, Angelou foi enviada novamente para morar com a mãe em St. Louis, quatro anos depois. Pouco tempo após o retorno, acabou sendo abusada sexualmente pelo então padrasto. A menina contou sobre o ocorrido para a família, que denunciou o criminoso para a polícia. Ele ficou preso apenas por um dia, mas, assim que saiu da cadeia, foi assassinado, ao que tudo indica, pelos tios de Angelou.

Acreditando que era a culpada pela morte de seu abusador por tê-lo denunciado, Angelou ficou extremamente traumatizada e passou cinco anos sem falar uma única palavra. Durante o período em que ficou em silêncio, desenvolveu um grande amor pela literatura, além de ótima capacidade de escuta e observação. 

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Morando na casa da avó novamente, recuperou a fala com a ajuda de uma professora amiga da família. Foi com ela também que Angelou conheceu diversos autores, como Shakespeare e Charles Dickens, e artistas feministas que militavam pelo movimento negro, dentre elas Frances Harper, Jessie Fauset e Anne Spencer.

Mesmo sem uma graduação acadêmica formal, Angelou sempre foi referência em todos os trabalhos que desempenhou ao longo da vida.

Somente aos 14 anos Angelou e o irmão voltaram a morar com a mãe, na cidade de Oakland. No período da Segunda Guerra Mundial, sua adolescência, ela estudou na Escola de Trabalho Social da Califórnia e trabalhou como condutora de bondes, sendo a primeira mulher negra em São Francisco a ter esse emprego. Recém formada no ensino médio, se tornou mãe solo aos 17 anos de idade. Atrás de alternativas para sustentar Clyde, seu filho, foi prostituta e administrou um bordel por um tempo.

Angelou se casou pela primeira vez em 1950 com o grego Tosh Angelos, um músico amador (o segundo casamento foi em 1973, com o artista Paul du Feu). A união durou pouco e, depois de se separar, ela decidiu estudar teatro e dança. Viajou por 22 países durante uma turnê europeia como cantora de ópera e atuou em diversos espetáculos musicais, inclusive na Broadway. Um deles foi “Cabaret for Freedom”, escrito por ela em parceria com Godfrey Cambridge.

A consolidação da carreira de Maya Angelou

Angelou foi a primeira mulher negra a ter um roteiro produzido para o cinema.

Foi ainda durante sua carreira artística que Maya Angelou teve contato com figuras importantes da literatura, dramaturgia e do ativismo político. Após conhecer o romancista e dramaturgo James Baldwin em Paris, também se aproximou de Martin Luther King e trabalhou com o militante pelos direitos civis Vusumzi Make. A experiência fez com que ela acompanhasse o movimento de independência dos estados africanos de perto.

Na mesma época, morou no Cairo, Egito, foi editora do jornal “The Arab Observer” na cidade de Acra, capital de Gana, e escreveu artigos para o “The Ghanaian Times”. Angelou também participou da Ghana Broadcasting Corporation, onde teve a oportunidade de conhecer Malcolm X e Nelson Mandela, se familiarizando não apenas com a esfera acadêmica, mas também com a da comunicação.

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Após retornar aos Estados Unidos em 1965, escreveu sua autobiografia. Intitulada “I Know Why Caged Bird Sings” (“Eu sei por que o pássaro canta na gaiola”, em tradução para o português), foi publicada em 1969 e fez grande sucesso, recebendo uma indicação ao National Book Award. Três anos depois, foi a roteirista de “Georgia, Georgia”, o primeiro filme com roteiro original de uma mulher negra produzido nos Estados Unidos.

Membro do Harlem’s Writer Guild, uma tradicional organização de escritores negros dos EUA, Angelou participou do comitê presidencial de Gerald Ford em 1975 e, dois anos depois, do de Jimmy Carter. Ainda em 1977, atuou na série de televisão “Roots” (“Raízes”, no português), sendo indicada ao Emmy por seu papel. Nos anos que se seguiram, continuou envolvida em produções televisivas, criando e adaptando roteiros para esse formato audiovisual.

A atriz Cicely Tyson (à esquerda) e Maya Angelou em cena da série “Roots”, 1977.

Ficou amiga de Oprah Winfrey em 1979. Na época, a apresentadora ainda era desconhecida do público e logo se tornou uma das principais aprendizes da escritora, inspirada por seu talento com as palavras e sua resistência em ocupar espaços majoritariamente brancos. Dois anos mais tarde, Angelou passou a lecionar Estudos Americanos na Universidade de Wake Forest, na Carolina do Norte.

Em 1993, recitou o poema autoral “On the Pulse of Morning” cuja gravação lhe rendeu uma indicação ao Grammy na cerimônia de posse do presidente Bill Clinton. O episódio trouxe a ela ainda mais fama e reconhecimento, muitas pessoas começaram a se interessar por seus trabalhos antigos. No mesmo ano, interpretou Tia June no filme “Poetic Justice” (“Sem Medo no Coração”, em português). Em 1995, recitou um poema publicamente pela segunda vez: “A Brave and Startling Truth” (“Uma Verdade Corajosa e Surpreendente”) foi apresentado em comemoração ao 50º aniversário da ONU.

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A estreia de Angelou como diretora de cinema aconteceu em 1998, com o filme de drama “Down in the Delta” (“Ressureição”, como ficou conhecido no Brasil). O longa foi estrelado por Alfre Woodard, Loretta Devine e Wesley Snipes. Mas essa foi sua única experiência com direção: nos anos que se seguiram, ela decidiu focar na carreira de escritora, lançando diversos ensaios, artigos, contos e até mesmo livros infantis. 

Maya Angelou recitando o poema “On the Pulse of Morning” na posse presidencial de Bill Clinton. Washington DC, 20 de janeiro de 1993.

Em 2000, Angelou foi homenageada com a Medalha Nacional das Artes pelo presidente Clinton. Dois anos depois, a marca Hallmark criou a “Coleção de Mosaicos da Vida de Maya Angelou”, que consistia em vários cartões de felicitações com frases da escritora. Em 2006, tornou-se apresentadora do programa de rádio “Oprah and Friends”, motivada pela própria Oprah.

Angelou doou mais de 340 caixas lotadas de seus escritos pessoais, dentre eles notas que usou durante a criação de suas obras e cartas de fãs, para o Centro Schomburg para a Pesquisa da Cultura Negra no Harlem, em 2010. Três anos depois, publicou “Mom & Me & Mom” (“Mamãe & Eu & Mamãe”), sua sétima autobiografia, focada no relacionamento que tinha com a mãe.

Maya Angelou faleceu aos 86 anos no dia 28 de maio de 2014. Ela foi encontrada sem vida por sua enfermeira e cuidadora. Na época, mesmo com a saúde debilitada, trabalhava em uma nova biografia.

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Foto 1: Jemal Countess/Getty Images

Foto 2: Michael Ochs Archives/Getty Images

Foto 3: Dwight Carter

Foto 4: Fotos International/Getty Images

Foto 5: Consolidated News Pictures/Getty Images


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