Debate

Papa emérito Bento XVI, acusado de acobertar abusos na igreja, pede perdão e se diz pronto para ‘juízo final’

11 • 02 • 2022 às 09:59
Atualizada em 11 • 02 • 2022 às 16:33
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

O Papa emérito Bento XVI divulgou uma nova carta, diante das acusações de que encobertou casos de pedofilia investigados pela igreja durante o período em que era arcebispo em Munique, na Alemanha. No documento, datado do dia 6 de fevereiro, o líder religioso pede perdão pelo que chamou de “abusos” e “erros” do clero católico, e afirmou ter “vergonha” pelos ocorridos. O texto foi publicado no site do Vaticano em 8 diferentes línguas, e responde ao relatório independente divulgado no mês passado, que aponta ao menos quatro casos de abusos sexuais praticados contra menores na cidade alemã sobre os quais o então arcebispo Joseph Ratzinger não teria tomado qualquer medida nem iniciado investigação.

O Papa emérito Bento XVI renunciou ao cargo em 2013

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“Mais uma vez posso apenas expressar a todas as vítimas de abusos sexuais a minha profunda vergonha, a minha grande dor e o meu sincero pedido de perdão. Tive grandes responsabilidades na Igreja Católica. Tanto maior é a minha dor pelos abusos e os erros que se verificaram durante o tempo do meu mandato nos respetivos lugares”, escreveu Bento XVI, que, aos 94 anos, vive no mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano. “Cada caso de abuso sexual é terrível e irreparável. Para as vítimas de abusos sexuais, vai a minha profunda compaixão e lamento cada um dos casos”, diz o texto.

Ratzinger nos anos 1980, quando trabalhava como arcebispo de Munique

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O relatório se refere principalmente a casos de pedofilia acobertados durante a década de 80, no período em que ele ocupava a função de arcebispo em Munique. No documento, o papa também comentou as viagens apostólicas que realizou, nas quais se encontrou com vítimas de abusos sexuais cometidos por sacerdotes. “Observei nos olhos [das vítimas] as consequências de uma tão grande culpa e aprendi a compreender que nós mesmos somos arrastados por esta tão grande culpa quando a negligenciamos ou não a enfrentamos com a necessária decisão e responsabilidade, como aconteceu e acontece com muita frequência”, escreveu.

Ratzinger durante seu papado, na Polônia, em 2006

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Joseph Ratzinger foi eleito papa em 2005, e renunciou ao cargo máximo da Igreja Católica Apostólica Romana, que ocupou sob o nome de Bento XVI, em 2013. O relatório que apresentou as denúncias foi realizado a pedido da própria igreja pelo escritório de advocacia alemão WSW e, além de apresentar a omissão do então arcebispo, acusa 497 casos de abuso entre 1945 e 2019 somente na Arquidiocese de Munique. “Em breve me encontrarei perante o último Juiz da minha vida”, escreveu Bento XVI. “Embora ao olhar retrospectivamente a minha longa vida possa ter tantos motivos de susto e medo, todavia estou com o coração feliz porque confio firmemente que o Senhor não é só justo juiz, mas simultaneamente é o amigo e o irmão que já padeceu, Ele mesmo, as minhas deficiências e, consequentemente, ao mesmo tempo é juiz e meu advogado”, conclui o Papa emérito.

Joseph Ratzinger em encontro recente, em agosto de 2019

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© fotos 1, 3: Flickr/CC

© foto 2: Getty Images

© foto 4: Wikimedia Commons


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