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O conflito entre Ucrânia e Rússia fez crescer um debate sobre a suposta divisão do mundo entre Ocidente e Oriente. A narrativa simplista do que ocorre no leste europeu prevê que a Ucrânia deseja se integrar ao Ocidente – simbolizado pelos EUA e pela União Europeia – e se distanciar da Rússia, uma das forças do dito Oriente. No meio disso tudo, há sempre a questão: o Brasil é ocidental?
Kremlin tenta expandir sua zona de influência e barrar expansão do Ocidente ao leste; principal motivo do conflito entre Ucrânia e Rússia é a aproximação de Kiev da Europa e dos EUA
No mapa, o Brasil é um país do Ocidente, considerando que o Ocidente é tudo aquilo que está a Oeste do Meridiano de Greenwich. Mas olhando para a geopolítica e para a cultura, nosso país está um pouco distante dos princípios que guiam ideologicamente os países ocidentais. São os brasileiros ocidentais?
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A própria dicotomia entre Ocidente e Oriente é considerada irreal. A verdade é que, no mundo moderno, o Ocidente são os países do Atlântico Norte, ligados aos Estados Unidos e o Oriente é tudo aquilo que está depois de Constantinopla e não fala uma língua anglo-saxônica ou latina.
Principal símbolo ocidental é Manhattan, o centro financeiro do império da democracia liberal, os EUA
O professor Edward Said definiu em seu livro “Orientalismo: o Oriente Como Invenção do Ocidente” que esses conceitos nada mais são do que formas encontradas por países imperialistas ocidentais como França, Inglaterra e EUA, para justificar suas invasões na Ásia e Oriente Médio.
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“O orientalismo pode e deve ser analisado como uma instituição para lidar com o Oriente, criando uma imagem sobre aqueles povos diversos. E são diversas as formas dessa separação falsa, com tentativas de reescrever, domar e dominar a Ásia. De maneira resumida, a invenção de um oriente é uma invenção do Ocidente para dominar, reestruturar e colonizar”, explica Said.
Historicamente, a divisão entre Ocidente e Oriente surgiu na chamada “Cisma do Oriente”, quando a Igreja se dividiu em Católica Romana e Ortodoxa Bizantina. Esse conflito fomentou a nova formação do mundo e anos depois viriam as cruzadas contra os muçulmanos. Esta separação entre Ocidente e Oriente foi a base de diversos conflitos, como a Guerra Fria e ela segue até com seus alvos, em especial, os islâmicos.
Divisão entre Ocidente e Oriente foi fomentada a partir das cruzadas e nunca perdeu força no mundo do Atlântico Norte
“O Ocidente sempre se definiu em oposição a algo, ora em relação aos povos islâmicos do Oriente Médio, ora em relação aos povos asiáticos de maneira geral”, afirma o professor de Fundamentos Sociais José Henrique Bortoluci, da FGV. “É um conceito que necessariamente abarca uma exclusão do outro”, adiciona.
E o que o Brasil tem a ver com tudo isso? Muito pouco. Somos um país colonizado por europeus e nossa identidade nacional não é construída sob a égide dos “valores judaico-cristãs”, mas é forjada sobre conceitos como escravidão, violência, colonização e com etnias diversas, crenças diversas e sem pretensões imperiais e de dominação do planeta. O Brasil não é um país ocidental.
Brasil é negro, indígena, umbandista, latino, colonizado e não tem nada a ver com o Ocidente da narrativa geopolítica
Já os Estados Unidos, que desejam unificar sua dominação sobre os outros países, ou a Inglaterra, que mantém o Império Colonial até os dias atuais, precisam defender ataques aos inimigos e se proteger da “ameaça do leste”, que ora vem como o Islã, ora vem como o socialismo, ora vem como os japoneses (como na Segunda Guerra Mundial).
O Brasil não faz parte do Ocidente porque não domina ninguém, ele é dominado. E sua “identidade” dentro do plano da geopolítica é mesmo a latinidade; é com os irmãos de continente que compartilhamos as origens ameríndias, a colonização ibérica, a escravidão, os golpes de estado financiado pelos EUA e outras tantas dores.
É claro que nossa língua está mais próxima daquela dos europeus do que dos indonésios. Mas dividimos com todos os indonésios, indianos, árabes, chineses, coreanos, persas, enfim, uma miríade de milhares de povos, um fato: o de que fomos colonizados pelo Ocidente.
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