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No Dia da Mentira de 58 anos atrás, em 1 de abril de 1964, o Brasil acordava em um golpe militar, vivendo sob uma ditadura que se arrastaria e arrasaria o país por 21 anos. A partir de 1968, o regime que já era criminoso e persecutório se tornaria ainda mais sinistro e sanguinolento, após o decreto do AI-5 fechar o congresso, encerrar as liberdades e dar poder irrestrito à repressão para censurar, prender, torturar e matar, sistematicamente. A noite sem fim na qual o Brasil se enterrou por mais de duas décadas viria a devastar a economia, a educação e a cultura de nosso país, com a censura e a repressão calando a imprensa, a oposição, mas também os artistas, que não podiam mais se expressar livremente.
Estudantes e civis presos durante manifestação no Rio, em 1968
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Após a revogação do AI-5, a partir de outubro de 1978, e com o início da reabertura, naturalmente as obras voltaram a experimentar a liberdade – e inevitavelmente a experiência sombria que o país ainda vivia começou a se tornar tema. Não é por acaso, portanto, que alguns dos mais importantes filmes retratando a realidade da ditadura militar foram feitos a partir do início da década de 1980: da mesma forma, as feridas ainda abertas que o regime impôs fazem com que obras cinematográficas sobre o período sigam sendo realizadas com importância cabal, como forma de iluminar, atualizar e sublinhar os horrores do regime militar, desde 1964 e até hoje.
O AI-5 deu poderes irrestritos ao regime que ilegalmente chegou ao poder
Para reiterar o repúdio irrestrito contra a ditadura e seus defensores, o Telecine Cult preparou o Especial Ditadura Nunca Mais, que exibirá hoje, 01 de abril, três obras essenciais. Às 13h35, o especial será aberto com um dos maiores e mais emocionantes filmes já feitos no país: Eles Não Usam Black-Tie, dirigido por Leon Hirszman em 1981 e baseado na peça de mesmo nome, escrita por Gianfrancesco Guarnieri em 1958 – no filme, Guarnieri interpreta o veterano líder sindical Otávio. Retratando a realidade da vida operária e do movimento sindical profundamente afetado e perseguido pelo regime, a obra se passa no contexto de uma greve que eclode na fábrica onde trabalham pai e filho – o mais jovem, porém, ao descobrir que a namorada está grávida, decide furar a paralisação, fazendo com que a luta dos trabalhadores se derrame sobre os dilemas familiares.
Fernanda Montenegro e Gianfrancesco Guarnieri em cena do filme
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Premiado internacionalmente, Eles Não Usam Black-Tie foi também um imenso sucesso de público, levando mais de 1,3 milhão de espectadores ao cinema. Dando sequência, às 15h45 o Especial do Telecine Cult irá exibir aquele que, para muitos, é o melhor documentário já feito no Brasil, e um dos melhores do mundo: Cabra Marcado Para Morrer, de Eduardo Coutinho, começou a ser filmado justamente em 1964 para contar a história de João Pedro Teixeira, líder camponês assassinado dois anos antes, a mando de latifundiários: o golpe militar, porém, interrompeu as filmagens, prendeu parte da equipe sob acusação de “comunismo”, apreendeu equipamentos e cercou o engenho da Galileia, em Pernambuco, onde o filme estava sendo realizado.
A família de João Teixeira em Cabra Marcado Para Morrer
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A fim de concluir o filme, Coutinho voltou ao local 17 anos depois com a mesma equipe, para conversar com a viúva de João Pedro, mas também para reencontrar os camponeses que participaram das primeiras filmagens, e registrar seus relatos após tantos anos de repressão. Cabra Marcado Para Morrer ganhou os cinemas 20 anos depois do início de sua produção, em 1984, e em 2016 foi reconhecido pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE) como o quarto melhor filme brasileiro de todos os tempos – na mesma lista, Eles Não Usam Black-Tie ocupa a 14ª colocação.
A atriz Stella Rabello e a diretora Lúcia Murat
E finalmente Ana. Sem Título, de Lúcia Murat, traz a seleção do especial à atualidade: lançado em 2021, o filme ignora as fronteiras entre a ficção e o documental através da experiência de Stela, uma atriz brasileira que está realizando um documentário sobre uma grande troca de cartas entre artistas plásticas da América Latina nas décadas de 1970 e 1980, no contexto das diversas ditaduras que assolavam a região. Em meio à sua viagem pelo continente, ela descobre a história de Ana, uma jovem brasileira que desapareceu em 1968: Stela aos poucos vai se tornando obcecada por essa misteriosa personagem, e decide tentar encontrá-la a qualquer custo, para descobrir o que aconteceu.
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O filme teve dois pontos de partida e inspiração fundamentais, a peça Há Mais Futuro que Passado, montada em 2017, e a exposição Mulheres radicais: arte latino-americana, 1960-1985, realizada em 2018. O lançamento de Ana. Sem Título será dentro do especial no dia 01, às 17h55, para celebrar a estreia da parceria com o Telecine de uma diretora cujo o tema da ditadura é parte sanguínea de sua obra e vida: na juventude, Murat passou três anos e meio presa a partir de 1971, por sua participação na luta contra o regime. O Especial Ditadura Nunca Mais será exibido pelo Telecine Cult a partir das 13h35 do dia 01 de abril.
Policiais correm na direção de uma manifestação contra a ditadura no centro do Rio, em 1968[/captio
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