“Exu é uma divindade complexa, é energia circular e infinita, movimento, luta, insubmissão, mudança, que se transforma em incontáveis entidades e que tem muito a ver com a nossa ancestralidade. Mas que é visto com restrição por muita gente. O enredo deste ano, como dos anteriores, visa a desconstruir essa imagem estereotipada, o racismo religioso, a intolerância e a demonização de religiões como o candomblé, a umbanda e as macumbas. Por isso, as sete chaves, para abrir o conhecimento sobre Exu”, disse o carnavalesco Gabriel Haddad, da Acadêmicos da Grande Rio, à Globo.
Exu não é diabo
As religiões de matriz africana são alvos frequentes de preconceito religioso. E é justamente essa visão estereotipada oriunda do fundamentalismo cristão que tentou formatar a ideia de Exu ser próximo ao diabo.
Dentro das religiões de matriz africana, não há espaço para maniqueísmos como “o bem e o mal” ou “Deus e o diabo”. E, como foi dito acima, Exu é um orixá que dialoga com energias complexas que podem ser positivas e negativas, a depender do caso.
“Isso começa com os primeiros contatos dos europeus com a religião. Eles não estão tentando entender Exu pelo sistema africano, mas com o olhar europeu”, explica o antropólogo Vagner Gonçalves, da Universidade de São Paulo, ao jornal A Tarde.
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Exu é guardião e caminho para a religiosidade e não tem nenhuma relação com o diabo católico ou com qualquer lógica cristã.
“Exu é personagem controversa, talvez a mais controversa de todas as divindades do panteão iorubá. Alguns o consideram exclusivamente mau, outros o consideram capaz de atos benéficos e maléficos e outros, ainda, enfatizam seus traços de benevolência. […] As muitas faces da natureza de Exu acham-se apresentadas nos odus e em outras formas de narrativa oral iorubá: sua competência como estrategista, sua inclinação para o lúdico, sua fidelidade à palavra e à verdade, seu bom senso e ponderação, que propiciam sensatez e discernimento para julgar com justiça e sabedoria. Essas qualidades o tornam interessante e atraente para alguns e indesejável para outros”, explicam Sikirù Sàlámi e Ronilda Iyakemi Ribeiro no livro “Exu e a ordem do Universo”.
Para entender melhor o papel de Exu no Candomblé, vale conhecer o documentário ‘A Boca do Mundo – Exu no Candomblé’, que conta com Mãe Beata de Iemanjá, ialorixá do Rio de Janeiro, considerada uma das principais figuras da religião no Brasil.
Na umbanda, Exu não possui o posto de orixá e é considerado uma entidade de luz que age em diversos âmbitos dessa fé. Ele é considerado um vetor para trabalhos e como agente da lei do carma.