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Na última quarta-feira (1), uma publicação nos Stories do Instagram da influenciadora Bianca ‘Boca Rosa’ Andrade acabou gerando um longo debate nas redes sociais sobre profissionalização da vida.
A criadora de conteúdo publicou um roteiro diário para sua vida que incluía uma série de postagens pensadas para seus stories.
Influenciadora planeja até postagens com seu filho para geração de engajamento
Na lista, estão atividades como “Mostrar algo fofo do neném de no máximo três stories”, “Story único de 15 segundos dando bom dia e falando algo motivacional”, “Boa noite com frase de pensamento”, entre outros conteúdos planejados até de acordo com o horário.
Script diário foi publicado pela própria Boca Rosa em suas redes sociais
A imagem quebra completamente o mito de que o conteúdo das influencers brasileiras é de alguma forma espontâneo. A própria ex-BBB evidenciou que tudo é estrategicamente planejado para gerar engajamento, inclusive as próprias imagens de seu filho.
Em nota, Bianca se defendeu afirmando que ser influenciadora digital é uma profissão e precisa de racionalização. “Pensando com uma cabeça empreendedora e levando a minha rede social como um negócio, sem estratégia, metas e planejamento eu estacionaria. E isso não significa que “perdi a essência”, como li por aí, isso é um tabu! A essência é a base de tudo e vai sempre permanecer, porém de forma organizada”, disse.
“A profissão Digital Influencer levanta muitos pontos de interrogações por ser muito recente, mas é um TRABALHO e requer estratégia, estudo, planejamento, disciplina e constância. E isso não deveria ser um segredo, pelo contrário, percebi que precisamos falar mais sobre isso”, concluiu.
A postagem de Boca Rosa e os posteriores esclarecimentos da influenciadora nas redes sociais levaram a uma série de debates sobre a sociedade em que vivemos.
Gabriel Divan, professor de direito na Universidade de Passo Fundo, considerou que a imagem reflete conceitos já trabalhados dentro das ciências sociais. “Nenhum livro/tese que tenho estudado nos últimos anos conseguiria exemplificar tão bem a CARICATURA da transformação da vida em trabalho do capitalismo no estágio neoliberal atual”, disse no Twitter.
O capitalismo hoje não apenas suga – como precisa sugar – sua atenção/preferências/consumo.
A extração vem do seu próprio viver e da forma como se pode orquestrar isso. A transformação da vida (em si) em trabalho ocorre nos mais variados e sutis campos.
— Gabriel Divan (@gabrieldivan) June 2, 2022
O planejamento de Boca Rosa não deve ser surpresa, mas sua exibição (não acidental) ao público é o símbolo de uma teoria desenvolvida pelo filósofo sul-coreano Byung Chul-Han. Em ‘A Sociedade do Cansaço’, o teórico social observava que a sociedade neoliberal desenvolveria formas de criar uma exploração do sucesso e da auto-imagem de forma sistemática.
O capitalismo tardio enxergado pelo filósofo faria com que a relação de exploração não fosse mais estritamente entre patrão e proletário, mas também fosse entre indivíduo e si mesmo. Basicamente, ele diz que a pressão pelo sucesso e pela autorrealização faria com que os sujeitos deixassem de se tornar pessoas para se tornar empresas.
Filósofo Byung Chul-Han reflete sobre a formação do sujeito (subjetivação) no capitalismo neoliberal
“A sociedade do século XXI não é mais uma sociedade disciplinar, mas sim uma sociedade de realizações [Leistungsgesellschaft]. Além disso, seus habitantes não são mais “sujeitos-obediência”, mas “sujeitos-realização”. São empreendedores de si mesmos”, explica ao longo do livro.
“O sujeito da realização se entrega à liberdade compulsiva — isto é, à livre restrição de maximizar a realização.O excesso de trabalho e desempenho se transforma em autoexploração. O explorador é simultaneamente o explorado. Perpetrador e vítima não podem mais ser distinguidos. Tal autorreferencialidade produz uma liberdade paradoxal que se transforma abruptamente em violência por causa das estruturas compulsivas que a habitam”, completa Byung Chul-Han.
As redes sociais e os influencers vendem uma métrica de sucesso baseada em likes e no aperfeiçoamento constante de si mesmo, ainda que tudo seja planejado, roteirizado e, em muitos casos, falso. Criamos métricas de sucesso – o engajamento – para nós mesmos. E se antes o sentido da vida era debatido entre os filósofos, agora ele parece óbvio e uniforme: ser bem-sucedido.
“O sujeito que se relaciona consigo próprio durante toda a sua vida sob o modo da autovalorização como um capital; algo como o capital feito sujeito. Essa forma singular de subjetivação não advém do processo espontâneo de automovimento do capital, mas de dispositivos práticos de produção de uma “subjetivação contábil e financeira”, tais como os dispositivos da performance e da avaliação”, afirmam Pierre Dardot e Christian Laval, autores de ‘A Nova Razão do Mundo – ensaio sobre a sociedade neoliberal.’
Bianca Boca Rosa não está errada em planejar seu dia de acordo com o engajamento que obtém nas redes sociais; ela se transformou em empresa e conquistou os milhões que estão em suas contas bancárias. Ela não é agente exclusiva ou responsável pela formação desse sistema de vida. Existem milhões de agentes que estruturam esse modo de vida (inclusive o público). Resta a nós refletir como escapar dele.
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