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Na última quarta-feira, 25 de maio, o presidente Jair Bolsonaro vetou a inclusão do nome de Nise da Silveira no “Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria”. A justificativa utilizada foi a impossibilidade, segundo ele, de “avaliar a envergadura dos feitos” da psiquiatra e “o impacto destes no desenvolvimento da Nação”. Essa declaração acabou se mostrando incompatível com a verdadeira história da psiquiatria no Brasil, que já se provou profundamente influenciada pelo legado da médica.
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Abaixo, contamos um pouco sobre a história de vida de Nise da Silveira e como seu trabalho foi fundamental para a revolução dos tratamentos psiquiátricos, da terapia ocupacional e da luta antimanicomial.
Nise da Silveira não concordava com os métodos de tratamento psiquiátricos hegemônicos.
Nise Magalhães da Silveira nasceu em 1905, na cidade de Maceió, capital de Alagoas. Ela era filha de um professor de matemática e de uma pianista, tendo completado sua educação básica em um colégio de freiras exclusivo para meninas. Entre 1921 e 1926 estudou na Faculdade de Medicina da Bahia, onde se formou como a única médica da turma composta por 157 homens.
Em 1927, quando já estava casada com o sanitarista Mário Magalhães da Silveira, se mudou para o Rio de Janeiro na esperança de ter mais oportunidades de emprego. Na mesma época, passou a se envolver na área literária, escrevendo artigos sobre o desenvolvimento da medicina e a relação entre saúde e desigualdade socioeconômica. Já em 1933, finalizou a especialização em psiquiatria e começou a trabalhar no Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental do Hospital da Praia Vermelha.
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Nise foi integrante do Partido Comunista Brasileiro, sendo presa em 1936 depois que uma enfermeira a denunciou pela posse de livros marxistas. Permaneceu encarcerada por 18 meses. Até 1944, viveu com o marido em situação de semiclandestinidade, até que, finalmente, conseguiu voltar a exercer a profissão, trabalhando no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Engenho de Dentro.
Ela reprovava as técnicas psiquiátricas adotadas pelas enfermeiras da época e se recusava a realizar eletrochoques nos pacientes, por exemplo, um método que considerava extremamente agressivo. Por esse motivo, foi transferida para a desprezada área de terapia ocupacional.
Nise visitando uma exposição no Museu de Imagens do Inconsciente, em 1966.
“Aquilo que se impõe à psiquiatria é uma verdadeira mutação, tendo por princípio a abolição total dos métodos agressivos, do regime carcerário, e a mudança de atitude face ao indivíduo, que deixará de ser o paciente para adquirir a condição de pessoa, com direito a ser respeitada”, defendia Nise.
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Em 1946, organizou uma inovação no setor, fundando a “Seção de Terapêutica Ocupacional”. Dentro dela, ao invés de realizarem tarefas de limpeza, os pacientes podiam aprender a pintar, modelar e fazer outras atividades criativas, numa tentativa de reatarem seus vínculos com a realidade por meio da expressão artística.
Em 1952, Nise criou o Museu de Imagens do Inconsciente, localizado no Rio de Janeiro. No espaço de estudo e pesquisa, os pacientes da instituição podiam expor suas criações de modelagem e pintura. Era uma oportunidade de valorizar essas obras como documentos. De 1983 a 1985, o cineasta Leon Hirszman mostrou todo o acervo do Museu no filme “Imagens do Inconsciente”, roteirizado por Nise.
Nise por volta de 1970.
Em 1956, a médica criou outro projeto revolucionário: a Casa das Palmeiras, uma clínica de reabilitação destinada a antigos pacientes de instituições psiquiátricas. Lá, os internos recebiam um tratamento que equilibrava a rotina hospitalar com a sua reintegração à sociedade. Nise também foi pioneira ao descobrir que estabelecer relações emocionais entre animais e pessoas era uma forma de terapia.
Grande entusiasta da psicologia junguiana, ela foi responsável por introduzir e divulgá-la no Brasil. Em 1954, o próprio Carl Jung incentivou que ela organizasse uma mostra para as obras de seus pacientes. Intitulada “A Arte e a Esquizofrenia”, a exposição foi realizada durante o II Congresso Internacional de Psiquiatria em Zurique, na Suíça, em 1957.
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Desse ano a 1958 e entre 1961 e 1962 Nise estudou no instituto Carl Gustav Jung. De volta ao Brasil, organizou na própria casa o Grupo de Estudos Carl Jung, presidido por ela até 1968, quando também publicou o livro “Jung: vida e obra”.
Nise da Silveira faleceu em 1999, após sofrer de insuficiência respiratória aguda causada por uma pneumonia.
“Aquilo que se impõe à psiquiatria é uma verdadeira mutação, tendo por princípio a abolição total dos métodos agressivos, do regime carcerário, e a mudança de atitude face ao indivíduo.”
O trabalho revolucionário de Nise na psiquiatria foi reconhecido por diversos prêmios e instituições em todo o mundo. Algumas das condecorações que ela recebeu foram a “Ordem de Rio Branco”, pelo Ministério das Relações Exteriores em 1987; o Prêmio Ciccillo Matarazzo Personalidade do Ano de 1992 da Associação Brasileira de Críticos de Arte; a Medalha Chico Mendes do Grupo Tortura Nunca Mais e a “Ordem Nacional do Mérito Educativo” pelo Ministério da Educação e do Desporto, ambos em 1993.
Nise também foi uma das fundadoras da Sociedade Internacional de Expressão Psicopatológica, com sede em Paris. Seus estudos sobre terapia ocupacional através da interpretação de imagens do inconsciente inspiraram a criação de diversos museus, exibições, centros culturais e terapêuticos espalhados pelo Brasil e pelo exterior.
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Em 2016, sua história de vida e legado foram contados pelo filme “Nise: O Coração da Loucura”, dirigido por Roberto Berliner e protagonizado pela atriz Glória Pires. Hoje, a médica empresta seu nome ao Instituto Municipal Nise da Silveira. Localizado no Rio de Janeiro, anteriormente ele se chamava Centro Psiquiátrico Nacional.
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