Inovação

Porque não existem lojas do McDonald’s na Bolívia

06 • 06 • 2022 às 10:13
Atualizada em 15 • 06 • 2022 às 12:41
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Cerca de 37 mil lanchonetes do McDonald’s funcionam hoje espalhadas por todo mundo: nenhuma delas, porém, na Bolívia.

A maior rede de restaurantes do planeta e uma das marcas mais populares e lucrativas que existem, o McDonald’s possui estabelecimentos em 120 países, mas, após 14 anos de esforços infrutíferos para conquistar a população boliviana, teve de fechar as portas depois de quase 15 anos por lá.

As oito lojas do McDonald's que existiam na Bolívia foram fechadas em 2002

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Moda não pegou entre bolivianos 

O motivo fundamental do fracasso da rede dos arcos dourados na Bolívia foi o puro e simples prejuízo comercial: em resumo, a população do país não gostou do que comeu, e o McDonald’s faliu.

Chegada do McDonald’s causou comoção 

Antes do fracasso, porém, a chegada do McDonald’s na Bolívia inicialmente causou comoção entre a população da capital, La Paz, onde a primeira lanchonete foi inaugurada, em 1997. O país vinha de uma de suas maiores crises econômicas e, nos anos 1990, experimentou uma abertura radical à política econômica neoliberal, que trouxe investidores estrangeiros e a rede de fast-food.

Consta que, nos primeiros dias após a inauguração, o McDonald’s de La Paz era capaz de parar o trânsito da capital boliviana: aos poucos, porém, o interesse caiu. O plano econômico naufragou na Bolívia, assim como afundou o McDonald’s.

A cidade de La Paz: rica em comida de rua, a capital do país foi a primeira a receber a lanchonete

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Bolívia e orgulho de sua comida 

Em um país ao mesmo tempo economicamente pobre e orgulhoso de suas tradições culinárias, a comida do McDonald’s era considerada cara e fundamentalmente ruim. Ainda assim, oito lanchonetes foram inauguradas por lá entre 1997 e 2002: as cidades de Santa Cruz de La Sierra e Cochabamba também receberas filiais.

Os esforços para conquistar o público boliviano incluíram oferecer temperos e lanches típicos, como o molho Llajua, feito com tomate e pimentas variadas, ou as famosas saltenhas, tradicional pastel normalmente recheado com carne, popular em todo o país.

Exemplo de saltenha de carne: o típico pastel boliviano chegou a ser oferecido no McDonald's

Exemplo de saltenha de carne: o típico pastel boliviano chegou a ser oferecido no McDonald’s

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As adaptações pouco adiantaram e, segundo consta, o McDonald’s na Bolívia jamais chegou a ser lucrativo. A rejeição não se deu, porém, aos hambúrgueres propriamente, já que redes locais vendem lanches semelhantes e com sucesso: a questão cultural estaria de fato no modo de preparo e no resultado em relação ao preço.

Segundo consta, o espírito do fast-food estadunidense seria o contrário da concepção boliviana de culinária: para uma refeição rápida e barata, a população preferiu seguir recorrendo às vendedoras de rua, que preparam alimentos considerados mais saborosos, bem-feitos e mais baratos.

O tradicional molho Llajua também fez parte do cardápio da rede de fast-food no país

O tradicional molho Llajua também fez parte do cardápio da rede de fast-food no país – em vão

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Vale dizer que a Bolívia não é o único país que não possui sequer uma única lanchonete do McDonald’s: em Barbados, por exemplo, o restaurante inaugurado em 1996 não durou um ano e, em Bermudas, a população se juntou e proibiu qualquer rede de fast-food de ser instalada no país – no Camboja, o McDonald’s nunca sequer foi inaugurado.

A lanchonete também não é encontrada em Cuba, Haiti e em boa parte do continente africano, com exceção do Egito, da África do Sul e do Marrocos.

O último lanche vendido na Islândia, em 2008, permanece em exposição - a foto é de 2015

O último lanche vendido na Islândia, em 2008, permanece em exposição – a foto é de 2015

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O caso da Islândia é famoso: a dificuldade de se obter insumos se juntou ao desinteresse da população e levou lanchonete a deixar o país em 2008. O último lanche vendido pelo McDonald’s no país segue exposto desde então, 14 anos depois – e sem apresentar qualquer sinal de deterioração.

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© foto 1: Harry Nl/Flickr/CC/reprodução

© fotos 2, 3: Getty Images

© foto 4: Wikimedia Commons

© foto 5: Snorta House/reprodução


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