Canais Especiais Hypeness
-
Adotar é Hype
-
Namore-se
O sul-africano Hamilton Naki foi um cirurgião, professor e pesquisador que, autodidata e sem estudos formais de medicina, contribuiu direta e valiosamente para o sucesso do primeiro transplante de coração de todos os tempos, realizado na África do Sul, em 1967.
A dimensão precisa e os detalhes dessa contribuição, porém, podem ter acabados soterrados pelo preconceito e o apagamento que marcam o Apartheid e, assim, a forma como as memórias são contadas, guardadas e lembradas.
O sul-africano Hamilton Naki, um dos pioneiros nas pesquisas de transplante de coração
-Maria Odília Teixeira: a história da primeira médica negra do Brasil
Negro e filho de uma família pobre em um país marcado pelo racismo radical, Naki nasceu em uma pequena aldeia chamada Ngcingane, em Cabo Leste, na África do Sul, e chegou à Universidade da Cidade do Cabo com 14 anos (e apenas 6 anos de escolaridade completos) para trabalhar como jardineiro.
Sua entrada na medicina se deu quase por acaso, convocado pelo médico Robert Goetz para assisti-lo nos laboratórios, inicialmente cuidando das jaulas dos animais utilizados como cobaias.
Naki auxiliando procedimento na sala de cirurgia: oficialmente ele jamais operou uma pessoa
-Desmond Tutu: quem foi o herói da luta contra o Apartheid vencedor do Prêmio Nobel da Paz
Aos poucos, porém, ele foi mostrando talento como assistente cirúrgico e mesmo com o bisturi, essencialmente em procedimentos com animais. Anos depois, o médico Christiaan Barnard, que se tornaria o primeiro a realizar o transplante de coração, percebeu suas capacidades especiais, e o chamou para ser seu assistente. Apesar de seguir registrado como faxineiro e jardineiro, Naki passou a ser reconhecido como um dos quatro técnicos de laboratório de pesquisa da Faculdade de Medicina.
Mesmo sem formação, além de trabalhar ele podia estudar no laboratório, e recebia o alto salário do cargo que de fato ocupava. Anos mais tarde, Barnard viria a dizer que seu assistente era “um dos maiores pesquisadores de todos os tempos no campo dos transplantes de coração”, e que “se Hamilton tivesse tido a oportunidade de estudar, teria se tornado um cirurgião brilhante”.
O médico Christiaan Barnard, o primeiro a realizar um transplante de coração no mundo
-Coração artificial com tecnologia avançada será colocado à venda ainda em 2021
O conhecimento de Naki se revelou fundamental para o desenvolvimento de técnicas de transplante, reconhecimento de anomalias, se especializando em cirurgias de fígado, e no ensino de centenas de estudantes ao longo dos anos.
Se não há controvérsias sobre seu talento e o impedimento provocado pelo racismo sistêmico e o preconceito – que privou o mundo de um médico verdadeiramente brilhante – a grande questão que permanece é sobre Naki ter ou não participado do histórico primeiro transplante de coração, que Barnard realizou em Louis Washkansky em 3 de dezembro de 1967.
Barnard com Philip Blaiberg, segundo transplantado e o primeiro a sobreviver por mais tempo
-Sem Winnie Mandela, o mundo e as mulheres negras perdem mais uma rainha da luta antirracista
Em entrevistas, nos últimos anos de sua vida, Naki afirmou que sim, estava na sala, atuou como assistente e até mesmo auxiliou na retirada do órgão do peito do paciente. Pesquisadores, historiadores e especialistas, porém, negam tal possibilidade, afirmando que, ainda que fosse totalmente capacitado, ele não era um médico formado, e sua participação seria ilegal – também por se tratar de um homem negro, em um estado racista como era a África do Sul no Apartheid.
O contexto da sala de transplante de coração na Universidade em 1967
-Escaneamento ocular pode identificar risco de ataque cardíaco com precisão de 70% a 80%
A família de Naki, porém, discorda de tal conclusão, e reitera a revelação de que ele teria sim participado do procedimento. Novamente, a força do preconceito e das práticas de apagamento que regem a história tornam difícil encontrar uma verdadeira versão para essa disputa de hipóteses.
Para além da controvérsia, o fato é que, de todo modo, o nome de Hamilton Naki tem de estar inscrito em uma das páginas mais brilhantes da história da medicina.
Consta que, aposentado, Naki teria passado a realizar cirurgias em uma clínica móvel
-Universidade onde racista evitou professora formou 12 negros em turma de medicina
“Ele era uma dessas pessoas incríveis que aparecem uma vez na vida. Um homem sem formação, que dominou técnicas no mais alto nível, e as transmitiu a jovens médicos”, definiu Ralph Kirsch, chefe do Centro de Pesquisas do Fígado na Universidade da Cidade do Cabo. Em 2002, quando o Apartheid já havia acabado, ele recebeu uma medalha de Ordem Nacional de Mapungubwe e, no ano seguinte, um diploma de notório saber de medicina pela mesma Universidade da qual se aposentou – como faxineiro e jardineiro. Naki morreu em 29 de maio de 2005 aos 78 anos, por conta justamente de problemas cardíacos.
Publicidade
É inevitável, em algum momento da vida todo ser humano vai sofrer de dor nas costas. Os motivos são muito variados e...
Elliot Costello é diretor da YGAP, empresa que incentiva empreendedores a agirem contra a pobreza ao redor do planeta,...
Quem mora longe de casa sabe como é complicado ficar longe dos entes queridos em datas como Dia dos Pais ou o Dia das...
Os sonhos são uma mistura de memórias antigas e recentes. Enquanto umas já estão classificadas como valiosas pelo...
Durante nossas vidas, passamos por momentos difíceis, mas não podemos nos deixar abalar diante de tais adversidades....
Se o cachorro é o melhor amigo do homem, a recíproca precisa ser verdadeira. Quando uma pessoa perde ou nasce sem sua...
Quando descobrem que seus animais de estimação estão prestes a morrer, muitas famílias decidem fazer uma lista de...
Usuário do TikTok estão compartilhando histórias inspiradoras sobre ser quem você realmente é. Tudo começou...
Essa semana no "Inspira e Respira", podcast do Hypeness, nossos integrantes receberam um convidado muito especial - e...