Ciência

Cientistas ligam poluição do ar a câncer de pulmão e podem revolucionar tratamento

16 • 09 • 2022 às 10:39
Atualizada em 17 • 09 • 2022 às 09:33
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Uma descoberta sobre a relação entre a poluição do ar e o desenvolvimento de câncer de pulmão pode transformar o que sabemos sobre o surgimento de tumores e levar à criação de medicamentos e tratamentos contra a doença. A pesquisa revolucionária foi feita por cientistas do Francis Crick Institute, de Londres, com pacientes que tiveram câncer de pulmão e nunca fumaram.

A poluição de uma cidade como Pequim, na China, pode ajudar a "disparar" células já danificadas

A poluição de uma cidade como Pequim, na China, pode ajudar a “acionar” células já danificadas

Leia também: Mortalidade por câncer de pulmão têm redução acentuada com novos tratamentos

Os resultados indicaram que a poluição não estava simplesmente causando danos à saúde das células, mas despertando células que já apresentavam mutações que levam à doença. O estudo trabalhou com os dados de mais de 400 mil pessoas, e sugere que a poluição do ar pode provocar o crescimento de células portadoras de mutações cancerígenas em outras partes do corpo.

A pesquisa buscou entender como não-fumantes desenvolvem câncer de pulmão sem alterarem seu DNA

A pesquisa buscou entender como não-fumantes têm câncer de pulmão sem alterarem seu DNA

Viu isso? Cuba desenvolve a primeira vacina de câncer de pulmão do mundo

Os pesquisadores desenvolveram uma série de experimentos em humanos e animais, e investigaram o efeito de uma partícula poluente chamada PM2,5, muito menor que um fio de cabelo, que potencialmente causa inflamação nos pulmões e pode causar o câncer.

O estudo concluiu que os lugares com maior nível de poluição no ar apresentaram mais casos de câncer de pulmão em não-fumantes: a partícula desperta células inativas e aparentemente saudáveis, mas que causam tumores malignos.

A pesquisa pode levar ao desenvolvimento de remédios bloqueadores para cidades poluídas como São Paulo

A pesquisa pode levar ao desenvolvimento de remédios para cidades poluídas como São Paulo

Olha só: É assim que fica um pulmão humano depois de 30 anos de cigarro

Segundo o estudo, a partícula PM2,5 libera um alarme químico chamado interleucina-1-beta, que provoca  inflamação e ativa as células danificadas. Com isso, os pesquisadores conseguiram impedir a formação de tumores em camundongos com uma droga que bloqueia a absorção das partículas.

O Francis Crick Institute é uma referência em pesquisa biomédica em Londres

O Francis Crick Institute é uma referência em pesquisa biomédica em Londres

Veja também: Rita Lee curada do câncer: do tumor “Jair” à homenagem de Gal Costa

“A poluição do ar precisa acordar as células certas, no momento certo, para que o câncer de pulmão comece e cresça. O mecanismo que identificamos pode explicar por que há um risco aumentado de câncer devido à poluição do ar, mas o risco é muito menor em comparação com o tabagismo, que altera o DNA diretamente”, explicaram, em comunicado, os pesquisadores. As conclusões estão sendo apresentadas em uma conferência da Sociedade Europeia de Oncologia Médica.

Desenvolvimento de medicamentos

A conclusão de que o dano já se encontra no DNA das células, surgido ao longo do processo de envelhecimento, e disparado pela poluição, ajuda a explicar justamente o motivo pelo qual algumas pessoas que nunca fumaram desenvolvem câncer de pulmão.

No Reino Unido, de cada dez casos da doença, um é causada pela poluição no ar em um não-fumante: afinal, outros fatores poderão também ser incluídos como determinantes externos para acionar as células danificadas.

Raio-x de um pulmão doente mostra, onde a seta vermelha aponta, a presença de um tumor

Raio-x de um pulmão doente mostra, onde a seta vermelha aponta, a presença de um tumor

Fique esperto: Cigarro eletrônico é como fumar 20 cigarros por dia, diz cardiologista

Assim, a pesquisa pode levar ao desenvolvimento de medicamentos bloqueadores de partículas perigosas para pessoas que vivam em áreas poluídas. “É superimportante – 99% das pessoas no mundo vivem em lugares onde a poluição do ar excede as diretrizes da OMS, então isso realmente afeta a todos nós”, afirmou Emilia Lim, pesquisadora do instituto.

Publicidade

© fotos 1, 2, 3: Getty Images

© fotos 4, 5: Wikimedia Commons


Canais Especiais Hypeness