Ciência

Mamífero mais antigo da Terra viveu no RS há 220 milhões de anos

14 • 09 • 2022 às 10:00
Atualizada em 15 • 09 • 2022 às 08:23
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

O mamífero mais antigo do planeta era um tipo de rato de 20 centímetros de comprimento que viveu no Rio Grande do Sul. Batizada de Brasilodon quadrangularis, a espécie semelhante a um roedor existiu entre 225 milhões e  220 milhões de anos atrás, na fase final do Período Triássico. Os fósseis gaúchos foram encontrados em 2003, na região onde hoje se localiza a cidade de Faxinal do Soturno, a 50 km de Santa Maria, região central do Estado.

O estudo sobre o Brasilodon conclui, portanto, que mamíferos conviveram com dinossauros

O estudo sobre o ‘Brasilodon’ conclui que mamíferos conviveram com os primeiros dinossauros

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O estudo foi realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em parceria com duas pesquisadoras inglesas do King’s College e do Museu de História Natural de Londres. Eles fizeram análises microscópicas das mandíbulas e dos dentes dos fósseis e os resultados foram publicados na revista científica Journal of Anatomy. A conclusão de que o Brasilodon era mamífero indica que essa classe de animais existiu 20 milhões de anos antes do que se pensava.

Mandíbula da espécie: o crânio do Brasilodon tinha apenas cerca de 4 centímetros

O crânio do Brasilodon tinha apenas cerca de 4 centímetros; no destaque, a mandíbula da espécie 

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Anteriormente, a espécie não era considerada um mamífero, por conclusão baseada no estudo de três ossos do ouvido (martelo, bigorna e estribo), responsáveis pela transmissão do som, e que não eram identificados no Brasilodon gaúcho.

Até a nova pesquisa, nunca havia sido possível determinar diretamente se um animal pré-histórico se alimentava ou não de leite: a novidade se deu a partir de um trabalho realizado por um paleontólogo com formação em odontologia.

Novo método

A análise por microscopia foi realizada pelo doutor em Paleontologia e dentista Sérgio Cabreira, em 2004, como projeto de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Geociências da UFRGS. O especialista trabalhou com três mandíbulas da espécie em diferentes etapas de crescimento. A partir das imagens, Cabreira pôde determinar que o animal tinha apenas uma substituição dentária, trocando dentes de leite por uma dentição permanente, característica presente somente nos mamíferos.

Sergio Cabreira e seu orientador, Cesar Leandro Schultz

O doutor em Paleontologia e dentista Sergio Cabreira e seu orientador, Cesar Leandro Schultz

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Segundo especialistas, a identificação pela análise da dentição pode transformar por completo a forma como a ciência interpretou fósseis de possíveis mamíferos. A conclusão de que animais com dentição tipicamente mamífera (difiodontia) existiam muito antes do que se pensava – e que precisavam se alimentar de leite para produzir tais dentes – poderá incluir nessa classificação outras espécies já descobertas.

Uma das lâminas das análises em microscopia da dentição da espécie

Uma das lâminas das análises em microscopia da dentição da espécie

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© fotos: Rochele Zandavalli/UFRGS/divulgação


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