Ciência

Mulher detecta Parkinson pelo cheiro e ajuda a desenvolver teste

12 • 09 • 2022 às 14:32
Atualizada em 12 • 09 • 2022 às 16:30
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

A enfermeira escocesa Joy Milne percebeu os primeiros sinais da doença de Parkinson no marido muitos anos antes de os sintomas começarem a aparecer – e não por tremores eventuais, como se poderia imaginar, mas pelo cheiro.

Hoje aposentada e com 72 anos, Joy notou mudanças na pele e, principalmente, no odor de seu marido, Les, doze anos antes de ele receber o diagnóstico de Parkinson. Assim, a mulher inspirou o desenvolvimento de um exame capaz de descobrir a doença com especial eficácia.

A enfermeira escocesa Joy Milne ao lado de seu marido, Les, falecido em 2015

A enfermeira escocesa Joy Milne ao lado de seu marido, Les, falecido em 2015

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O odor percebido pela enfermeira só foi identificado como sintoma da doença após a confirmação de que Les estava com Parkinson, quando conheceram um grupo de apoio em que outras pessoas apresentavam o mesmo cheiro.

O marido de Joy faleceu em 2015, mas, recentemente, uma equipe de cientistas da Universidade de Manchester trabalhou em parceria com a enfermeira para desenvolver um teste capaz de diagnosticar a doença com 95% de precisão.

Após a confirmação de sua habilidade olfativa, ela passou a colaborar com a pesquisa

Após a confirmação de sua habilidade olfativa, Joy passou a colaborar com a pesquisa

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O teste parte de um esfregaço para analisar o sebo, substância oleosa presente na pele humana, das costas dos pacientes: das mais de 4 mil substâncias encontradas, 500 eram diferentes nas amostras coletadas em pessoas com Parkinson.

A pesquisa trabalhou com 79 pacientes que tinham a doença, sendo  71 delas saudáveis, funcionando como grupo de controle. Os resultados foram publicados na revista científica Journal of the American Chemical Society.

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“No momento, desenvolvemos o teste em um laboratório de pesquisa; agora, estamos trabalhando com colegas em laboratórios analíticos de hospitais para transferir nosso teste para eles, a fim de que sirva ao sistema de saúde pública britânico”, afirmou Perdita Barran, líder do estudo, definindo como “transformadora” a hipótese de um exame confirmatório que possa ser aplicado por um clínico geral. “Esperamos dentro de dois anos poder começar a testar pessoas na área de Manchester”, afirmou ela em reportagem da BBC.

Diagnóstico e tratamento precoce

De acordo com o relato de Joy, um dia antes de morrer, o marido a fez prometer que iria investigar seu olfato e sua capacidade de perceber a doença pelo cheiro. A técnica simples é capaz de antecipar o diagnóstico do Parkinson, agilizar o tratamento e ampliar sua eficácia, melhorando a qualidade de vida do paciente. “Teríamos passado mais tempo com a família. Teríamos viajado mais. Se soubéssemos antes, isso poderia explicar as mudanças de humor e a depressão”, disse Joy.

O teste foi desenvolvido pela Universidade de Manchester em parceria com a enfermeira

O teste foi desenvolvido por cientistas da Universidade de Manchester junto com a enfermeira

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© foto 1: Joy Milne/reprodução

© foto 2: Twitter/@stumpw0rk50/Reprodução

© foto 3: The University of Manchester/Divulgação


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