Inspiração

Sueli Carneiro é eleita doutora ‘honoris causa’ pela UnB e faz história entre mulheres negras

26 • 09 • 2022 às 08:00
Atualizada em 26 • 09 • 2022 às 12:51
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

A filósofa e escritora Sueli Carneiro fez história no último dia 21 de setembro, ao se tornar a primeira mulher negra a receber o título de doutora honoris causa da Universidade de Brasília (UnB). Uma das mais importantes ativistas antirracismo e feministas do País, Sueli foi celebrada em cerimônia ocorrida no auditório Esperança Garcia, da Faculdade de Direito, em evento transformado em festa. Além de amigos, estudantes e representantes do movimento negro, as sambistas Teresa Lopes e Cris Pereira cantaram acompanhadas pelo violão de Amilcar Paré.

A filósofa Sueli Carneiro foi celebrada pelo público presente na cerimônia na UnB

A filósofa Sueli Carneiro foi celebrada pelo público presente na cerimônia na UnB

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Após aprovação por aclamação em março desse ano pelo Conselho Universitário (Consuni) da UnB, o título foi entregue pela reitora Márcia Abrahão, que sublinhou a importância do trabalho e da luta de Sueli. A titulação foi proposta pelo Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Cidadania do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam) da UnB: a universidade já outorgou 66 títulos, dos quais somente 7 foram dados a mulheres brancas, e 3 a homens negros.

Sueli já com o documento de Doutora Honoris Causa em suas mãos, durante a cerimônia

Sueli já com o diploma de Doutora Honoris Causa em suas mãos, durante a cerimônia

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“É um título que recebo com a humildade de quem o compreende como o reconhecimento da justeza das lutas de mulheres e homens negros que clamam por um novo pacto civilizatório que desaloje os privilégios consagrados de gênero e raça que o experimento colonial forjou em todas as dimensões da vida social”, afirmou a filósofa, em seu discurso. “Significa o reconhecimento da legitimidade desses discursos e atos que protagonizamos, produzidos por lágrimas insubmissas”.

Wanderson Flor do Nascimento celebrando vida, obra e luta da homenageada

Wanderson Flor do Nascimento celebrando vida, obra e luta da homenageada na cerimônia

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Segundo a reitora, o título tem imensa importância para o movimento negro e feminista, mas também para a própria universidade. “É uma honra para a Universidade de Brasília e também para mim, como a primeira reitora da instituição, conceder esse título à primeira mulher negra, no ano em que a universidade faz 60 anos, e que Darcy Ribeiro faria 100 anos”, afirmou Abrahão. “Esperamos que a doutora Sueli Carneiro continue fazendo outras ‘Suelis Carneiros’ daqui pra frente”, concluiu.

Sobre Sueli Carneiro

Nascida em São Paulo em 1950, Sueli Carneiro é doutora em filosofia pela USP e uma das principais autoras do feminismo negro brasileiro. Fundou, em 1988, o Geledés – Instituto da Mulher Negra, organização independente pioneira na luta antirracista e feminista no país, e criou o único programa na área de saúde orientado específico para mulheres negras no Brasil.

Sueli Carneiro é uma das mais importantes filósofas e intelectuais da atualidade no Brasil

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É autora de diversos livros de referência nos temas, como A mulher negra brasileira na década da mulher, A cor do preconceito e Racismo, Sexismo e Desigualdade no Brasil, entre outros, pelos quais já recebeu diversos prêmios e homenagens. “É o reconhecimento dessa escrevivência, que ‘não é para adormecer os da casa grande, e sim para incomodá-los em seus sonhos injustos’, como apontou nossa magistral escritora Conceição Evaristo”, completou, sobre o mais recente título, em seu discurso.

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© fotos 1, 2, 3: Luis Gustavo Prado/Secom UnB

© foto 4: Andre Seiti/Wikimedia Commons


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