Arte

Uma tarde na Casa de Jorge Amado, em Salvador

29 • 09 • 2022 às 18:58
Atualizada em 20 • 01 • 2023 às 12:02
Kauê Vieira
Kauê Vieira   Sub-editor Nascido na periferia da zona sul de São Paulo, Kauê Vieira é jornalista desde que se conhece por gente. Apaixonado pela profissão, acumula 10 anos de carreira, com destaque para passagens pela área de cultura. Foi coordenador de comunicação do Projeto Afreaka, idealizou duas edições de um festival promovendo encontros entre Brasil e África contemporânea, além de ter participado da produção de um livro paradidático sobre o ensino de África nas Escolas. Acumula ainda duas passagens pelo Portal Terra. Por fim, ao lado de suas funções no Hypeness, ministra um curso sobre mídia e representatividade e outras coisinhas mais.

Em uma rua tranquila no bairro do Rio Vermelho, a Alagoinhas, é lá que está, guardada por um ofá (símbolo do orixá Oxóssi), a casa de Jorge Amado. 

Desde 2014 transformado em museu, o sobrado com um vasto jardim e uma piscina encantadora abrigou o casal Jorge Amado e Zélia Gattai por 40 anos. Lá, os dois receberam personalidades do mundo todo, como Gilberto Gil, Pierre Verger e Carybé para prosas intermináveis sobre os rumos da Bahia. 

Ofá de Oxóssi em frente à Casa de Jorge Amado no Rio Vermelho, em Salvador

Ponto obrigatório para quem visita Salvador, a Casa do Rio Vermelho conta um pouco da história dos escritores, que por lá viveram entre 1964 e 2003 – Zélia deixou o imóvel após a morte do marido. 

A Casa de Jorge Amado entrou no roteiro de pontos turísticos da cidade mais negra fora da África

A residência histórica fica na Rua Alagoinhas 33, e os ingressos custam entre R$ 20 e R$ 10 (meia). A visitação é de graça todas as quarta-feira.

A Casa do Rio Vermelho

Jorge Amado e Zélia passaram a maior parte de suas vidas no local. Ele, nascido em Ilhéus, no Sul da Bahia, e ela paulista da capital encontraram paz no sobrado próximo da praia onde se realiza até os dias de hoje a festa de Iemanjá

A maioria das características do imóvel foi preservada, mas a casa recebeu, claro, adaptações necessárias.  

A máquina de escrever original usada por Jorge Amado

A Casa do Rio Vermelho é acessível para pessoas com deficiência desde a entrada. Existe um elevador, além de rampas no interior e também na parte externa do imóvel. 

O passeio é uma imersão no universo de Jorge e Zélia. Os ambientes são sonorizados com histórias marcantes do casal, como o período em que viveram na França.

Jorge Amado partiu com destino a Paris em 1948, quando teve o registro no Partido Comunista cancelado e o mandato de deputado federal cassado. Foi na Cidade-Luz que escreveu clássicos como “A América Descoberta Pelos Turcos” e “Navegação de Cabotagem” – tudo isso está documentado no passeio, seja por áudio ou por vídeos da época. 

Há também espaço para o amor. Registros românticos contam como os dois se encontraram e, claro, os momentos difíceis atravessados pelo casal durante os anos de chumbo no Brasil. 

Cozinha e prosa 

O amor compartilhado entre Zélia e Jorge pela natureza e pela culinária fica evidente nos dois momentos mais interessantes da visita. 

Entrar na cozinha, que preserva o formato em L original, é se transportar para o século 20. E, claro, para a paixão de Jorge Amado pela gastronomia, sobretudo as delícias da Bahia. O escritor era louco por sarapatel e moqueca. 

Outro objeto do desejo de Jorge Amado eram os sapos, distribuídos por toda a parte do vasto terreno. Os curadores da Casa do Rio Vermelho criaram, inclusive, o “Lago dos Sapos”, que homenageia a paixão do escritor pelos anfíbios. 

A sala de TV da casa onde Jorge e Zélia viveram por 40 anos

A prefeitura de Salvador lançou um vídeo dando detalhes sobre a Casa de Jorge Amado: 

‘Quem é ateu e viu milagres como eu’ 

Embora tenha tido forte relação com o Candomblé da Bahia e suas mães de santo mais famosas, como Mãe Menininha do Gantois e Mãe Stella de Oxóssi, Jorge Amado se dizia ateu. 

Isso, contudo, não foi empecilho para que os orixás estejam presentes por toda extensão do imóvel. A Casa do Rio Vermelho é detalhada com desenhos dos símbolos das divindades africanas. 

As obras de arte estão por todos os lados. A porta de entrada é de autoria do escultor Carybé, grande amigo de Jorge. Os detalhes da janela são de Mario Cravo, célebre escultor e pintor brasileiro. 

Há ainda presentes de gente como Picasso, responsável pelo desenho de uma parede de cerâmica. Picasso, Pablo Neruda, Glauber Rocha, Tom Jobim e Simone de Beauvoir passaram noites no quarto de hóspedes localizado ao lado da sala. 

O armário de roupas de Zélia Gattai

A cama é assinada por Carybé, que desenhou os azulejos com os orixás de Jorge Amado e Zélia Gattai. O quarto do casal também é todo decorado por obras de arte. 

O jardim conta com uma vasta quantidade de espécies de plantas, destaque para as jibóias gigantes. Tudo é guardado por uma escultura grande de Exu, um dos orixás favoritos de Jorge Amado. 

Jorge Amado era apaixonado por sapos

O orixá Exu guardando o jardim na casa de Jorge Amado

Acessível para PcDs, charmosa e com muita história para contar. A Casa de Jorge Amado tem motivos de sobra para entrar em seu roteiro de viagem. 

E de quebra, o imóvel fica no bairro mais boêmio de Salvador, o Rio Vermelho. Bom passeio! 

Serviço: 

Casa de Jorge Amado 

Endereço: Rua Alagoinhas, 33 – Rio Vermelho | Salvador/BA

Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) | entrada grátis toda quarta-feira 

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