Cemitério nuclear: Finlândia está construindo um lixão subterrâneo previsto para durar 100 mil anos

Vitor Paiva  • Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

As obras para inauguração do primeiro depósito geológico nuclear subterrâneo estão em rápido andamento na Finlândia. Intitulado Onkalo e localizado a 420 metros de profundidade, sob as terras do município de Eurajoki, na província da Finlândia Ocidental, o local está previsto para ser inaugurado em 2023 e começar a funcionar em 2025, como um cemitério capaz de armazenar com segurança o lixo nuclear do país por mais de 100 mil anos.

O processo começou em 1983, pela busca de um lugar geologicamente estável

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A iniciativa visa a resolver um dos maiores problemas derivados do uso de energia atômica: o que fazer com os resíduos dos combustíveis utilizados nas usinas nucleares. Trata-se, afinal, não somente de um material altamente tóxico e perigoso, mas que possui duração e potencial de ameaça de milhões de anos. O programa de descartes do lixo radioativo começou a funcionar na Finlândia em 1983, e desde então o país vinha buscando por um local geologicamente estável para construir um cemitério nuclear definitivo.

O projeto completo do cemitério de Onkalo, com sua imensa rede de túneis 

As escavações começaram em 2004, e seguirão pelos próximos cem anos

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As escavações começaram em 2004, realizadas pela empresa governamental Posiva Oy, a um custo estimado de 3,5 bilhões de dólares, equivalentes a cerca de 18,5 bilhões de reais, financiado através de impostos cobrados das empresas de eletricidade.

A extensa rede de Onkalo é formada por túneis de 4,5 metros de altura, 3,5 metros de largura com comprimento de 350 metros cada – os primeiros cinco andares já estão prontos, com mais de 1.700 metros ao todo, mas as obras seguirão até 2120, quando a rede finalmente terá 5.500 metros entre mais de 100 túneis subterrâneos.

Os túneis do complexo de Onkalo se encontram a 420 metros de profundidade

A previsão é que o cemitério “funcione” por 100 mil anos

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Assim, o repositório de Onkalo, construído próximo à usina nuclear de Olkiluoto, na costa oeste do país, receberá o combustível pelos próximos cem anos. Quando estiver concluído e completo, em 2120, o local finalmente será selado e permanecerá fechado pelos próximos muitos milênios – protegido por caixas de aço, envoltas em lama bentonítica e pela própria geologia do local, que não sofrerá com nenhum abalo sísmico e foi projetado para suportar até mesmo imensos cataclismas, como a chegada de uma nova Era do Gelo.

Atualmente o local tem 1.700 metros de túneis para ser inaugurado e começar a funcionar em 2025

As camadas de proteção são capazes de proteger o material até mesmo de uma nova Era do Gelo

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Se é espantoso imaginar que nenhuma das pessoas que atualmente trabalham na obra do cemitério nuclear finlandês estarão vivas quando ele for finalmente concluído, mais ainda é tentar supor como será o planeta daqui a 100 mil anos, tempo de duração previsto para o Onkalo. Não é possível, afinal, concluir sequer se a humanidade ainda existirá em tal futuro, e nem prever como conseguiremos comunicar sobre o perigo do material sepultado no local.

Os túneis foram construídos por explosões e também por escavação em granito