Ciência

Pegadas de 9 mil anos são achadas na Inglaterra e sugerem redução da diversidade animal no período

11 • 10 • 2022 às 10:41
Atualizada em 13 • 10 • 2022 às 08:43
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Centenas de pegadas datadas entre 9 mil e 1 mil anos foram encontradas na praia de Formby, perto de Liverpool, na Inglaterra. Misturando marcas humanas e de animais deixadas em uma lama do período, a descoberta foi publicada na revista científica Ecology & Evolution, assinada por uma equipe de geógrafos e arqueólogos da Universidade de Manchester. A análise dos achados que sugere um grande declínio na diversidade animal ocorrido na região naquele período.

Parte das centenas de pegadas humanas e animais de até 9 mil anos encontradas em Formby

Parte das centenas de pegadas humanas e animais de até 9 mil anos encontradas em Formby

-Menina de 4 anos encontra pegada de dinossauro de 215 milhões de anos

O estudo realizou uma datação por radiocarbono para determinar a idade das pegadas, confirmando que as camadas mais diversas em espécie são muito mais antigas do que se pensava. Percorrendo período que vai desde o Mesolítico até a Idade Média, as marcas sugerem que os humanos conviviam com animais como auroques, veados-vermelhos, javalis, corças, castores, lobos e linces na região. No Mesolítico, portanto, a Europa era território mais habitado por grandes animais do que nos períodos recentes.

Uma das pegadas humanas encontrada na lama pré-histórica mantida no local

Uma das pegadas humanas encontrada na lama pré-histórica endurecida no local

-A maior pegada de dinossauro do mundo foi encontrada na Austrália

“Os leitos de pegadas de Formby formam uma das maiores concentrações conhecidas de pegadas de vertebrados pré-históricos do mundo”, afirmou Alison Burns, cientista que participou da pesquisa de campo ao longo de seis anos, em comunicado.

O pioneirismo da descoberta é relevante para compreender as mudanças ocorridas entre as populações animais na costa do continente. “Esta é a primeira vez que tal história faunística e ecossistema foram reconstruídos apenas a partir de evidências de pegadas”, afirmou a expert.

Pegada de um veado que convivia com a população humana há 9 mil anos na região

Pegada de um veado que convivia com a população humana há cerca de 9 mil anos na região

-Mãos e pés de crianças podem ser a arte em caverna mais antiga já descoberta

O declínio na diversidade animal da região do Reino Unido ocorreu, segundo o estudo, há cerca de 5,5 mil anos, por motivos diversos, a começar pelo aumento do nível do mar, que reduziu as áreas de terra firme e, com isso, os hábitats de espécies que gradualmente viriam a desaparecer.

O desenvolvimento de economias agrícolas e o aumento da intensidade da caça realizado pelas crescentes populações humanas do período também foram determinantes para o declínio.

A pesquisa de campo para estudar as pegadas na na região durou cerca de seis anos

A pesquisa de campo para estudar as pegadas na região durou cerca de seis anos

-Como o nível do mar pode afetar cidades brasileiras com emergência climática

Para Jamie Woodward, professor e coautor da pesquisa, estudar o que ocorreu no passado pode ser elemento fundamental para compreender e combater o que pode acontecer hoje. “Avaliar as ameaças ao hábitat e à biodiversidade provocadas pelo aumento do nível do mar é uma pesquisa chave e prioritária para nossos tempos. Nós temos de entender esses processos tanto no passado quanto no presente”, afirmou Woodward. “Esta pesquisa mostra como o aumento no nível do mar pode transformar a paisagem costeira e degradar importantes ecossistemas.”

Publicidade

© fotos: Jamie Woodward/Universidade de Manchester/Divulgação


Canais Especiais Hypeness