Ciência

Ratos ‘mochileiros’ são treinados para ajudar no resgate em desabamentos

28 • 10 • 2022 às 11:10
Atualizada em 29 • 10 • 2022 às 08:57
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

A organização sem fins lucrativos belga Apopo está treinando ratos e equipando os roedores com equipamentos semelhantes a mochilas para ajudar no resgate de pessoas presas em escombros de edifícios desmoronados.

A ideia é utilizar o pequeno animal para auxiliar socorristas no contexto de desastres naturais, como terremotos e furacões, ou em casos de acidentes que envolvam desmoronamentos. A “mochila” possui um interruptor que deve ser puxado pelo animal ao encontrar um sobrevivente.

Os ratos estão sendo treinados para carregar a mochila e encontrar sobreviventes

Os animais são treinados com a mochila para encontrar e informar a respeito de sobreviventes

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O treinamento está acontecendo atualmente em uma simulação de zona de desastre e consiste em conduzir o rato a encontrar a pessoa entre os escombros, disparar um bipe através do interruptor no equipamento e retornar à base para receber um petisco como recompensa.

A mochila será equipada com câmera, microfone bidirecional e um transmissor que informa em tempo real a posição dos roedores para orientar a equipe de resgate.

Os treinos atualmente acontecem em um cenário simulado de desastre na Tanzânia

Os treinos atualmente acontecem em um cenário simulado de desastre na Tanzânia

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“Os ratos geralmente são bastante curiosos e gostam de explorar – e isso é fundamental para busca e resgate”, afirmou a cientista de pesquisa comportamental Donna Kean, que lidera o projeto com a ONG. “Juntamente com a mochila e o treinamento, os ratos são incrivelmente úteis para busca e resgate”, afirma a pesquisadora.

Os animais se encontram atualmente nos treinamentos iniciais, e o desenvolvimento da tecnologia se dá em parceria com a Universidade de Tecnologia de Eindhoven, na Holanda.

A cientista de pesquisa comportamental Donna Kean, lidera o projeto com ratos gigantes africanos

A cientista de pesquisa comportamental Donna Kean lidera o projeto com ratos gigantes africanos

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O programa foi lançado oficialmente em abril de 2021, mas a ideia de utilizar ratos em resgates é anterior, e começou a ser trabalhada em 2017, após a organização voluntária de busca e resgate GEA procurar a Apopo sobre a hipótese de trabalhar com os animais.

Além de treinar o comportamento, os maiores desafios são acostumar os ratos a carregar o equipamento, e reduzir as mochilas ao menor tamanho possível. Além dos ratos, a organização também trabalha no treinamento de cães em sua base, na Tanzânia

A curiosidade e o poderoso olfato dos roedores são elementos determinantes para o resgate

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O projeto utiliza ratos gigantes africanos, que vivem em cativeiro por mais tempo que o rato marrom comum. Atualmente, os animais – que são conhecidos como “HeroRATS” ou ratos-heróis, em tradução livre – são utilizados pela ONG para detectar minas terrestres e casos de tuberculose, mas, segundo Kean, ao longo dos testes os resultados vêm se confirmando cada vez mais promissores para o resgate em escombros.

Um "rato-herói" da Apopo trabalhando na localização de minas terrestres no Camboja

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“Eles precisam ser superconfiantes em qualquer ambiente, sob quaisquer condições, e isso é algo em que esses ratos são naturalmente bons”, afirmou a cientista. “Mesmo que nossos ratos encontrem apenas um sobrevivente em um local de destroços, acho que ficaríamos felizes em saber que isso fez diferença em algum lugar”, concluiu Kean.

Enquanto treinam os animais, o projeto desenvolve meios de reduzir a mochila ao menor tamanho possível

Enquanto treinam os animais, o projeto desenvolve a mochila no menor tamanho possível

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© fotos 1, 2, 3, 4, 6: Apopo/divulgação

© foto 5: Wikimedia Commons


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