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Hoje é o Dia Nacional da Favela! A data existe desde o início do século passado, 1900 mais precisamente, período em que surge o Morro da Providência no Rio de Janeiro.
Considerado a primeira favela brasileira, o Morro da Providência foi chamado assim em um documento oficial redigido por um delegado e chefe da polícia da 10ª Circunscrição da comunidade localizada no bairro da Gamboa, na região central do Rio de Janeiro.
Desde então, as favelas cresceram e se tornaram símbolo de resistência negra e pobre, cultura, criatividade e do racismo do Estado, que criminaliza injustamente as pessoas que lá vivem.
Foi assim nas últimas eleições presidenciais, quando a direita e extrema-direita associaram moradores do Complexo do Alemão, no Rio, a bandidos e traficantes.
“Não tinha um policial do seu lado, só traficante”, disse, de forma pejorativa em um debate na TV Globo, Jair Bolsonaro, o primeiro presidente desde a redemocratização a não ser eleito para um segundo mandato.
A favela é um espaço de gente trabalhadora
Diferente do que bradam Bolsonaro e outros, a favela é um espaço de cultura, carente sim, mas de trabalhadores e gente criativa batalhando por igualdade de condições. Seu surgimento data desde a abolição da escravidão, quando os primeiros morros foram povoados em cidades como o Rio.
A palavra favela nasce a partir do nome de uma planta medicinal, a faveleira, que pode ser encontrada em regiões da Bahia, Paraíba, Pernambuco e Piauí. Os aglomerados de casas foram povoados por negros e negras que não tinham para onde ir.
Último país a abolir a escravidão, o Brasil assinou a Lei Áurea apenas para se livrar das cobranças internacionais, já que não ofereceu condições algumas para que negros e negras tivessem uma vida digna.
Daí veio a expressão “para inglês ver”. Afinal, foi a Inglaterra que pressionou a então colônia portuguesa a acabar com o tráfico de escravizados.
O presidente eleito Lula, no Alemão, ao lado de Rene Silva (à direita), usando boné com as iniciais da palavra Complexo; caso gerou reação preconceituosa de Bolsonaro
O crescimento das favelas se deu principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro durante a Guerra de Canudos, em meados de 1897. Combatentes da guerra civil liderada por Antônio Conselheiro improvisaram barracos em um morro com nome inspirado na faveleira, já citada planta comum em regiões do sertão nordestino.
O Morro da Favela, que hoje se chama Providência, nasceu naquele período. O aumento da população se deu ainda pela aposta higienista do Brasil de incentivar o desembarque de imigrantes vindos de países da Europa, sobretudo Itália e Alemanha, além do Japão, na Ásia.
Essas pessoas ocuparam os espaços de trabalho e também regiões centrais até então habitadas pelos negros, que, para se manterem perto das oportunidades de renda – muitas vezes nas mãos de senhores e senhoras de escravizados, subiram os morros.
Um exemplo claro é a Liberdade, em São Paulo, que era um quilombo negro antes de se tornar um bairro habitado majoritariamente pela comunidade asiática.
“Historicamente, sobretudo no Rio de Janeiro, as favelas, assim como os cortiços, surgiram no cenário urbano carioca para suprir o hiato formado pelo déficit habitacional, abrigando, inicialmente, em sua grande maioria, uma massa de pobres que procuravam habitar próximo aos locais onde era oferecido trabalho, principalmente para aqueles que não detinham qualificação profissional.”
O trecho acima é do livro “Do Quilombo à Favela”, de Andrelino Campo, lançado pela editora Bertrand Brasil.
Leia também: Bloco Ilu Inã leva às ruas as raízes da negritude paulistana e recria o quilombo urbano
Favela: um retrato da desigualdade em Salvador, cidade mais negra fora da África
O Brasil tem cerca de 8% de sua população nas favelas, de acordo com dados do Instituto Locomotiva. Um levantamento feito pela organização social TETTO Brasil aponta que as favelas de São Paulo, em 2016, eram ocupadas por 70% de moradores negros.
A criatividade abundante dessas comunidades ignorada por grande parte da população prejudica, mas não inibe o surgimento de iniciativas e lideranças preparadas para debater os problemas e apontar os caminhos para um futuro equânime. São pessoas negras conscientes dos efeitos do racismo, mas que ainda batalham por espaço.
É o caso de Rene Silva, jornalista fundador do Voz das Comunidades, jornal que nasceu dentro do Complexo do Alemão e hoje representa um dos maiores meios de comunicação feito por e para o povo das favelas.
Há também Raull Santiago, ativista e midiativista CEO da Brecha, hub de inteligência de favela e impacto social. Raull foi um dos convidados da COP 27 – Conferência Mundial sobre Mudanças Climáticas realizada em Glasgow, na Escócia.
Leia também: Protagonismo da favela: Rene Silva e o Voz das Comunidades apontam o futuro do jornalismo
Não podemos esquecer o nome de Carolina Maria Jesus, escritora negra brasileira, moradora da Favela do Canindé, em São Paulo, que teve seu talento apagado por causa do racismo.
Carolina Maria, a primeira escritora a documentar a vida de uma favelada e que inspirou outras mulheres negras mundo afora, e teve um reconhecimento tardio de seu trabalho. Em 2022, Carolina Maria se transformou em estátua em Parelheiros, na Zona Sul de São Paulo.
Carolina Maria de Jesus, a 1ª escritora a falar sobre a realidade da favela
O Estado mais negro da nação também deve sua criatividade e história ao povo das favelas. A Bahia é formada por 572 favelas, sendo 270 delas na capital Salvador.
A maior fica no Complexo do Nordeste de Amaralina, que comporta nada menos do que quatro bairros e 70 mil habitantes da metrópole negra da Bahia.
Não podemos esquecer do bairro da Liberdade, também em Salvador, onde fica a sede do Ilê Aiyê, bloco afro símbolo da presença negra no Carnaval da Bahia.
O Ilê está sediado na Senzala do Barro Preto no que já foi o bairro mais negro fora da África. Lá é possível estudar e aprender percussão.
Em São Paulo, no Rio ou na Bahia. A favela é a resistência viva que faz lembrar que o Brasil nunca aboliu a escravidão e, também, espaço de pessoas trabalhadoras e fundamentais para que o país se torne, de fato, uma nação justa e livre.
O racismo faz o Brasil desperdiçar os talentos negros que vivem nas favelas
É preciso, portanto, se despir dos preconceitos e da violência armada do Estado representada pela polícia que ainda circundam essas comunidades, carentes de investimento – desde o período em que o Brasil escravizava sua população negra.
E, como diria Arlindo Cruz:
Meu nome é favela
É do povo do gueto a minha raiz
Becos e vielas
Eu encanto e canto uma história feliz
De humildade verdadeira
Gente simples de primeira
Salve ela!
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