Inovação

‘HereAfter AI’ promete que poderemos ‘conversar’ com os mortos. Estamos preparados?

18 • 11 • 2022 às 18:14
Atualizada em 21 • 11 • 2022 às 12:02
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

A capacidade de “conversar” com pessoas que já morreram vem deixando de ser uma promessa do campo paranormal para se tornar realidade, mesmo que virtual – viabilizada através da Inteligência Artificial. É o que a empresa norte-americana HereAfter AI promete: um aplicativo que permite que amigos e parentes lembrem e até se comuniquem diretamente com quem já nos deixou, através da voz e das histórias de vida da pessoa falecida. Mas será que estamos prontos para isso?

O app permite "reproduzir" em bot as vozes e memórias de pessoas que já morreram

O app permite “reproduzir” em bot as vozes e memórias de pessoas que já morreram

-Amazon anuncia que Alexa irá imitar vozes de pessoas falecidas

Pois o processo é bem mais complexo e intrigante do que simplesmente uma manipulação de áudio e de informações através de IA e de chatbots direcionados. Começa em vida, também como uma plataforma de preservação de memórias, em uma espécie de registro biográfico. Cada pessoa poderá contratar os serviços da plataforma, e dividir histórias em registros de áudio com a própria voz – como o relato de um primeiro amor, uma grande mudança vivida, uma experiência transformadora e mais.

O processo começa com o relato, "contando" as próprias histórias para posteridade em IA

O processo começa com o relato, “contando” as próprias histórias para posteridade em IA

-Estudo indica ‘retrospectiva’ feita pelo cérebro segundos antes da morte

Em seguida, o usuário deve subir fotos preferidas para acompanhar as narrativas, que serão exibidas durante os relatos. Assim nasce a versão virtual de cada participante, que será capaz, através de IA e Machine Learning, de efetivamente “conversar” futuramente – e principalmente após a morte. A promessa é de um app interativo, que permite que o chatbot responda sobre as memórias e preferências da pessoa gravada e amada – como se estivesse em uma chamada de voz.

O bot é construído também com fotos selecionadas para ilustrar a experiência memorial pelo app

O bot é construído também com fotos selecionadas para ilustrar a experiência memorial pelo app

-Inteligências Artificiais também precisam ‘dormir’ para funcionar melhor

A ideia para o desenvolvimento veio de uma dura experiência pessoal: o criador do app, James Vlahos, começou a desenvolvê-lo com seu pai quando descobriu que ele estava com um câncer terminal. E se, em princípio, a ideia de preservar a memória dos que se foram é interessante e até tocante e pode ajudar durante o luto, para muita gente o HereAfter pode provocar justamente o contrário:  artificializar, atrapalhar e dificultar o processo de perda, como uma barreira para se lidar com a ausência real da pessoa que se foi – criando uma espécie de “deep fake” de um parente ou amigo.

"Vovô": o aplicativo funciona como uma preservação da memória, mas também levanta polêmica

“Vovô”: o aplicativo funciona como uma preservação da memória, mas também levanta polêmica

-Sonhar com morte: o que significa e como interpretar corretamente

Outros comentários apontaram para um aspecto ético, a respeito do lucro sugerido com a exploração do sofrimento alheio, já que o plano de compartilhamento das memórias pode custar cerca de 50 dólares por ano. Seja como for, uma coisa é fato: trata-se de uma novidade intrigante, e, inevitável o comentário, que parece saída diretamente de um episódio de “Black Mirror”.

Publicidade

Canais Especiais Hypeness