Ciência

Nazca: Há evidências do uso de plantas psicoativas e estimulantes por antigo povo peruano

08 • 11 • 2022 às 09:43
Atualizada em 25 • 11 • 2022 às 18:28
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Avaliando múmias e cabeças degoladas em rituais e sacrifícios encontradas em expedição, um novo estudo descobriu evidências de que o povo Nazca já utilizava estimulantes e plantas psicoativas há milhares de anos na região onde hoje se localiza o Peru.

Trabalhando com cabelos coletados de quatro cabeças de troféus e 18 múmias, a pesquisa encontrou evidências do uso do cacto de San Pedro, folhas de coca e Banisteriopsis caapi, um dos ingredientes da ayahuasca: o estudo foi realizado por pesquisadores poloneses e italianos e publicado no Journal of Archaeological Science.

Uma das "cabeças troféus" encontradas pelas escavações com indícios de uso do cacto

Uma das ‘cabeças troféus’ encontradas pelas escavações com indícios de uso do cacto

-Encontraram ayahuasca e drogas psicotrópicas em bolsa milenar na Bolívia

O povo Nazca viveu no Peru entre 3.500 antes da Era Comum e o ano 476 da Era Comum. O estudo trabalhou com restos mortais descobertos na costa sul do país. Os exames toxicológicos demonstraram que os mortos haviam consumido as plantas psicoativas antes de seus sacrifícios em rituais. A expedição também encontrou uma série de túmulos e artefatos, como pedaços de tecido, vasos de cerâmica, ferramentas e um chuspa, sacola utilizada para transportar folhas de coca.

A flor do cacto de San Pedro

A flor do cacto de San Pedro

-143 linhas de Nazca criadas entre 100 a.C. e 300 d.C foram encontradas no Peru

“A cabeça de troféu é o primeiro achado com evidência do consumo de San Pedro por um indivíduo que viveu na costa sul do Peru”, afirmou Dagmara Socha, doutoranda no Centro de Estudos Andinos da Universidade de Varsóvia, na Polônia, e principal autora do estudo. “Também é a primeira evidência de que algumas das vítimas que foram transformadas em cabeças de troféu receberam estimulantes antes de morrerem”, afirmou a pesquisadora. Segundo a pesquisa, as folhas não eram cultivadas na região, mas trazidas do norte do Peru ou da Amazônia.

A chuspa, sacola utilizada para transportar folhas de coca, encontrada pela expedição

A chuspa, sacola utilizada para transportar folhas de coca, encontrada pela expedição

Outros artefatos encontrados pelas escavações realizadas na costa sul peruana

Outros artefatos encontrados pelas escavações realizadas na costa sul peruana

-Artista usa 20 drogas diferentes e cria ilustrações para mostrar os efeitos

“Nossa pesquisa mostra que essas plantas foram extremamente importantes para diferentes culturas para efeitos médicos ou visionários. Especialmente porque não há registro escrito desse período, então o que sabemos sobre Nazca e outras culturas próximas é de investigações arqueológicas”, afirmou Socha.

A pesquisa concluiu que o uso das drogas remonta ao período entre os anos 100 antes da Era Comum e 450 depois da Era Comum: do cacto de São Pedro deriva a droga psicodélica mescalina, e da folha de coca, a cocaína.

A cabeça troféu de uma mulher na qual também foram encontrados indícios do uso das drogas

A cabeça troféu de uma mulher na qual também foram encontrados indícios do uso das plantas

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© fotos 1, 3, 4, 5: Journal of Archaeological Science/reprodução

© foto 2: Jorge Pacheco/Wikimedia Commons


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