Ciência

Pacientes recebem sangue criado em laboratório em teste inédito

10 • 11 • 2022 às 11:46
Atualizada em 27 • 11 • 2022 às 09:54
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

Um projeto de pesquisa realizado por cientistas britânicos está pela primeira vez testando em seres humanos o uso de sangue criado em laboratório para transfusões. Diversos voluntários receberam pequenas quantidades para avaliar de que forma o corpo irá reagir ao composto, a fim de testar o uso do sangue artificial principalmente para pessoas que precisam de transfusões constantes, ou que pertençam a grupos sanguíneos especialmente raros.

A iniciativa visa solucionar o problema da carência de sangue, principalmente entre os tipos raros

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Conduzido por pesquisadores sediados em Bristol, Londres e Cambridge, além de integrantes do NHS Blood and Transplant, órgão de transfusão ligado ao sistema público de saúde do Reino Unido, o experimento chamado “Restore” é o primeiro ensaio clínico com sangue desenvolvido em laboratório realizado no mundo.

O desenvolvimento se baseia nos glóbulos vermelhos e parte de uma doação normal de aproximadamente 470 ml de sangue para, em seguida, utilizar esferas magnéticas capazes de capturar células-tronco flexíveis que podem se transformar em glóbulos vermelhos.

Um glóbulo vermelho desenvolvido em laboratório a partir das células-tronco pela iniciativa

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Em seguida, essas células-tronco são desenvolvidas em grande número no laboratório, direcionadas para se tornarem glóbulos vermelhos. Após cerca de três semanas, uma reserva inicial de 500 mil células-tronco resulta em 50 bilhões de glóbulos vermelhos, que são filtrados para gerarem aproximadamente 15 bilhões no estágio correto para poderem ser transplantados. Duas pessoas já participaram do experimento, que será testado em pelo menos 10 voluntários saudáveis.

A equipe do projeto "Restore" é formada por cientistas de diversas universidades britânicas

A equipe do projeto “Restore” é formada por cientistas de diversas universidades britânicas

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“Queremos produzir o máximo de sangue possível no futuro, então vejo na minha cabeça uma sala cheia de máquinas produzindo continuamente a partir de uma doação de sangue normal”, afirmou Ashley Toye, professora da Universidade de Bristol. “Esta pesquisa líder estabelece as bases para a fabricação de glóbulos vermelhos que podem ser usados com segurança para fazer transfusão em pessoas com distúrbios como anemia falciforme”, disse Farrukh Shah, diretor médico de transfusão do NHS.

Custo como desafio

O líquido testado no experimento foi marcado com uma substância radioativa para que os cientistas possam medir a duração no corpo: a expectativa é que o sangue criado em laboratório seja mais potente que o natural, permitindo doações menores e mais frequentes no futuro. De acordo com os especialistas, apesar do imenso potencial, um dos desafios da pesquisa é o custo.

O sangue desenvolvido em laboratório está armazenado em laboratório em Bristol

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Enquanto uma doação normal custa cerca de 130 libras, equivalentes a 750 reais, o sangue de laboratório por enquanto é consideravelmente mais caro. A capacidade de produção é outra questão a ser resolvida pelas equipes, já que as células-tronco acabam se exaurindo e limitando a quantidade de sangue fabricado, exigindo novas pesquisas para alcançar os volumes necessários.

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© foto 1: Getty Images

© fotos 2, 3, 4: NHSBT/Divulgação


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