Padrão FIFA: ‘Vilas de torcedores’ na Copa custam caro e entregam calor e desconforto no Qatar

Vitor Paiva  • Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

A promessa era de conforto em instalações premium por um preço supostamente mais acessível que os hotéis, mas os torcedores que viajaram para a Copa do Mundo no Qatar e se hospedaram nas “Fan Villages” vêm denunciado que a qualidade das acomodações é bem diferente do prometido. Anunciadas como acampamentos de luxo, nas vilas de torcedores as pessoas encontraram hospedagens precárias, calor insuportável, com entulho e areia ao redor, e até acesso restrito à água potável.

Muitas instalações ainda estavam incompletas quando os torcedores começaram a chegar

Algumas vilas são formadas por containers, com pouca ou nenhuma estrutura ou conforto

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O custo de aproximadamente 185 euros por noite, equivalentes a mais de 1.000 reais, era justificado pela FIFA por supostamente as vilas oferecerem experiências únicas conectadas à cultura do país, com cada acomodação “confortavelmente mobiliada, repleta de toques contemporâneos e um estilo que lembra uma tenda tradicional”. Ao chegarem, porém, os turistas encontraram tendas de plástico espesso, sem ar-condicionado, com apenas duas camas de solteiro e um ventilador pequeno.

O calor relatado impede que as pessoas durmam dentro das pequenas tendas de manhã

Somente um ventilador de pé e duas camas de solteiro por mais de 1 mil reais por noite

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Segundo informações, muitos torcedores alugaram por até duas semanas uma das 30 mil tendas construídas para receberem 60 mil torcedores: vários, porém, não suportaram nem 24 horas nos locais. De acordo com relatos, não há organização nem maiores informações – como também não há sabonete, xampu, escova ou pasta de dente em cada pequeno banheiro. Mesmo o acesso à água potável é confuso, restrito a pessoas com pulseiras que, em muitos casos, ninguém sabia onde estavam.

A tent in the Fan village in Qatar costs £175 ( R 3 586,76) per night. pic.twitter.com/zSrRlvokLR

— DonDon (@the_dondon01) November 20, 2022

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Os relatos compartilhados nas redes sociais ainda revelaram que, nos pontos onde faltou água potável – para ser vendida a preço de ouro, é claro –, o ponto mais próximo para se comprar água ficava a uma caminhada de mais de uma hora, sob um calor que passa dos 30ºC. Como se não bastasse, tantos nas vilas quanto nos “Beach Clubs”, locais onde os jogos são exibidos em telão e a venda de bebidas alcoólicas supostamente é permitida, a aparência é de um acampamento improvisado, com somente centenas de tendas ou pufes posicionados.

Uma das “Beach Parks”, onde o jogo é exibido em telão, mas debaixo do sol inclemente do Qatar

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 A precariedade das “Fan Villages” é mais uma polêmica da Copa do Qatar, marcada por acusações de exploração de trabalho análoga à escravidão durante a construção, que se soma, entre outras, à proibição imposta pela FIFA de realizar protestos contra o desrespeito aos direitos humanos e LGBTQIA+ impostos pelas leis locais. O país investiu cerca de R$ 300 bilhões ao longo de doze anos para levantar as instalações dentro do chamado “Padrão FIFA” – que, ao que tudo indica, é mesmo precário, desconfortável e desumano.

As instalações sanitárias das vilas também deixam a desejar, especialmente no calor do deserto