Inspiração

A Copa do Mundo dos felinos: Por que há tantos gatos em Doha, no Qatar?

08 • 12 • 2022 às 12:13
Atualizada em 08 • 12 • 2022 às 12:33
Yuri Ferreira
Yuri Ferreira   Redator É jornalista paulistano e quase-cientista social. É formado pela Escola de Jornalismo da Énois e conclui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo. Já publicou em veículos como The Guardian, The Intercept, UOL, Vice, Carta e hoje atua como redator aqui no Hypeness desde o ano de 2019. Também atua como produtor cultural, estuda programação e tem três gatos.

Os gatos dominam as ruas e os prédios do Qatar. Quem está no país para ver a Copa ou mesmo para treinar pela seleção está sempre encontrando um pequeno felino nas ruas e nos gramados.

Gatinho descansa na frente da skyline de Doha, capital do Catar e principal sede da Copa do Mundo

O astro da França, Ousmane Dembelé, foi alvo de brincadeiras porque tem medo dos bichanos, “que o circundam o tempo todo”. Já a CBF foi criticado pela maneira como um assessor retirou um gato da mesa de coletiva de imprensa com Vinícius Junior. Confira o vídeo:

Mas por que havia um gato naquele local? Por que há gatos em todos os lugares?

Qita (قطة) – os gatos no Islã

A religião islâmica possui uma série de regras de higiene rígidas, que datam desde os períodos do profeta Muhammad. Similar à alimentação kosher encontrada entre os judeus, o halal é importante para as orações, para o banho e para a alimentação.

File:A cat sleeping on Aq Sunqur Shrine in the Blue mosque in Cairo.jpg - Wikimedia Commons

Gatinho descansando na Mesquita Azul, um dos principais templos dos muçulmanos no Egito

Os gatos são considerados extremamente limpos por todo o Oriente Médio. Presentes na região do atual “mundo árabe” de forma domesticada desde os tempos do Egito Antigo, eles sempre foram companheiros dos moradores das madinas árabes. Viajantes europeus se surpreendiam durante a Idade Média com a presença de gatos em Damasco e em Bagdá. E eles tinham uma importante função: o controle de pestes.

Leia também: Gato preto era sagrado no Egito Antigo e azar é lenda criada na Igreja Católica

Mas não é só isso: Os hábitos higiênicos ímpares dos gatos fizeram com que a maioria dos interpretadores do Islã os observassem como um animal limpo. Segundo algumas leituras jurídicas do Corão, o felino é o “animal perfeito” para os muçulmanos.

Um gato pode beber a água que se usa para o banho (wudu) e pode até lamber uma comida que esta não deixará de ser halal (adequada para consumo). Por isso, não é raro ver, em Doha, no Qatar, a presença de gatos dentro de restaurantes.

Aboe Hoeraira - Wikipedia

Mausoléu de Abu Haraira, considerado um dos melhores amigos do profeta Muhammad; era conhecido como o ‘pai dos gatinhos’

Os cachorros, por exemplo, não estão no mesmo status no Islã. Por isso, países como o Irã possuem leis que proíbem a posse dos animais. O Corão cita os cães como úteis para diversos fins, como caça, cuidado de propriedade e o pastoreio. Contudo, interpretações mais modernas do Islã afirmam que a saliva dos cães é naji, isto é, impura e, portanto, os cães não podem estar presentes em ambientes de alimentação e oração.

Doha, no Qatar, é uma cidade com cerca de 66% de população islâmica e o país é controlado por emirado de tradição salafista, considerada uma das mais “puristas” sobre as leis da religião muçulmana, e, portanto, os gatos são os principais pets ao redor de todo o país.

Publicidade

Fotos: Getty Images

Foto 2 e 3: Wikimedia Commons


Canais Especiais Hypeness