Ciência

Cientistas descobrem cérebro mais antigo de que se tem notícia, com meio bilhão de anos

09 • 12 • 2022 às 08:45
Atualizada em 13 • 12 • 2022 às 15:10
Vitor Paiva
Vitor Paiva   Redator Vitor Paiva é jornalista, escritor, pesquisador e músico. Nascido no Rio de Janeiro, é Doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Trabalhou em diversas publicações desde o início dos anos 2000, escrevendo especialmente sobre música, literatura, contracultura e história da arte.

O cérebro é a mais complexa estrutura biológica que existe, e há milênios desafia a ciência com sua impressionante capacidade. Mas quando essa história começa? Como surgiu o cérebro? A pergunta moveu os neurocientistas Nicholas Strausfeld e Frank Hirth a olharem bem de perto o pequeno fóssil de um Cardiodictyon catenulum, animal semelhante a um verme, encontrado na China com 525 milhões de anos – e um sistema nervoso preservado revelando o mais antigo cérebro de que se tem notícia.

Representação artística do Cardiodictyon catenulum, ancestral dos insetos, há 525 milhões de anos

Representação artística do Cardiodictyon catenulum, ancestral dos insetos, há 525 milhões de anos

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Medindo apenas cerca de 1,5 cm de comprimento, o fóssil foi encontrado na província de Yunnan, ao sul da China, e seu mais de meio bilhão de anos de idade remonta ao período Cambriano, quando diversos grupos de animais modernos surgiram. O Cardiodictyon pertence ao filo extinto dos lobopódios, possuía vários pares de pernas não articulados e vivia no fundo mar. A descoberta aconteceu em 1984, mas o mais novo estudo foi publicado recentemente na revista Science.

Fóssil do animal: a cabeça do Cardiodictyon catenulum encontra-se à direita

Fóssil do animal: a cabeça do Cardiodictyon catenulum encontra-se à direita

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De acordo com o trabalho, o fóssil revela um animal de tronco segmentado, com estruturas neurais conhecidas como gânglios repetidas nos segmentos – essa divisão sugere que este pode ser o mais antigo artrópode já descoberto, posicionando o fóssil como ancestral dos insetos, centopeias, crustáceos e aracnídeos atuais. Tal segmentação, porém, não acontece em sua cabeça e em seu cérebro, levando os pesquisadores a concluírem que sua evolução aconteceu separadamente da do sistema nervoso.

Cabeça fossilizada do Cardiodictyon: as partes em magenta marca as estruturas cerebrais do animal

Cabeça fossilizada do Cardiodictyon: as partes em magenta marcam as estruturas cerebrais

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“Essa anatomia foi completamente inesperada porque as cabeças e cérebros dos artrópodes modernos, e de alguns de seus ancestrais fossilizados, foram considerados segmentados por mais de cem anos”, aponta Strausfeld, em comunicado. O processo de evolução se assemelha ao de vertebrados recentes, como no caso do desenvolvimento de nosso cérebro e medula espinhal, que sofreram processos evolutivos distintos. “Ao comparar padrões de expressão genética conhecidos em espécies vivas identificamos uma assinatura comum de todos os cérebros e como eles são formados”, afirmou Hirth.

Corpo e cabeça fossilizados e representação abaixo do Cardiodictyon: os tecidos neurais estão em magenta

Corpo e cabeça fossilizados e representação do Cardiodictyon: os tecidos neurais estão em magenta

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© fotos: Nicholas Strausfeld/Universidade do Arizona


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